Com uma
participação quase que insignificante no PIB estadual, o setor primário não é prioridade
no Estado.
Abinoan Santiago
O setor primário nada mais é que o
conjunto de atividades econômicas que extraem e/ou produzem
matérias-primas. Isto implica geralmente na transformação de recursos naturais
em produtos primários. Muitas mercadorias do setor primário são levadas para
outras indústrias, a fim de se transformarem em itens industrializados. Os
negócios importantes neste setor incluem agricultura, avicultura,
pesca, pecuária, silvicultura, a
mineração e agronegócio em geral.
Setor primário no Amapá
O Produto Interno Bruto (PIB) do Amapá, apresentou
um crescimento de 4% em 2011. Tímido, se comparado com outros estados de
economias frágeis, como os Estados de Rondônia (7,3%), Piauí (6,2%), Roraima (4,6%) e
Sergipe (4,4%), e lado a lado com o Distrito Federal (4%). O resultado foi
divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), no
final do ano.
No PIB
estadual, segundo o geógrafo Wagner Cerqueira, o setor primário colabora em
média 4,3% anualmente para o Tesouro Estadual. O economista e ex-deputado
federal Jurandil Juarez, corrobora com a afirmação de Cerqueira: “o setor primário no Amapá é o mais insignificante do
Estado, a contribuição dele não chega a 5% do PIB e isso a vista de uma
participação que tem os setores de comércio e serviço”, disse.
Dentro
deste setor aqui no Amapá, podemos destacar quatro atividades que participam
diretamente no PIB estadual, são elas: a agricultura, a pecuária, a hortifrutigranjeira e a pesca.
Agricultura
O
Amapá nunca foi forte nesta atividade. Porém este quadro tende a mudar, pois de
acordo com uma matéria divulgada pelo jornal Tribuna Amapaense, na edição 266,
o Estado já está começando a cultivar grãos em suas propriedades rurais. 22
fazendas já estão plantando, utilizando técnicas sustentáveis, conhecida como
plantio direto, que é uma técnica de cultivo conservacionista, na qual se
procura manter o solo sempre coberto por plantas em desenvolvimento e por
resíduos vegetais. Essa
cobertura tem por finalidade protegê-lo do impacto das gotas de chuvas. Segundo o produtor Udimar Nizola, esse modelo
permite a adubação do solo de forma orgânica, e as palhas que ficam sobre a
terra da safra anterior, impedem a lixiviação, que são valas no solo oriundas
da água das chuvas, provocando a famosa voçoroca, além de levar todos os
produtos fertilizantes colocados na lavoura. “O plantio direto é um modelo
sustentável e mais econômico para os produtores”, disse.
Atualmente, a fazenda do produtor Haki
Van Der Vine, pode ser chamada de propriedade modelo no Estado, pois com sua
estrutura invejável, possui um maquinário considerado da mais alta tecnologia
existente no mercado, tanto, que segundo o engenheiro agrônomo Juliano, as
inovações tecnológicas facilitam na produção. “Estamos produzindo nossa própria
semente, num contêiner climatizado, e daqui algum tempo, outros produtores
poderão estar produzindo a própria semente”, afirma o engenheiro.
Porém, com toda essa tecnologia, o ano
passado não terminou nada bem para os agricultores que cultivam grãos. De
acordo com o IBGE, através do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola
(LSPA), houve uma queda na produção de grãos no ano de 2011 em relação ao ano
anterior. O arroz sofreu uma queda de -36%, o feijão de -35% e o milho fechou
com -19%. Uma das razões para esse declive nesta atividade tem relação com a
diminuição das áreas que os cultivam. Os dados do LSPA também mostraram que o feijão
teve -35% de área plantada, seguido pelo arroz (-26%) e do milho (-12,5%).
O levantamento ainda revelou que o
rendimento médio da produção de feijão do ano passado, em relação a 2010, foi o
único que não sofreu queda, o cultivo fechou 2011 com quase 6% a mais, comparando
com o ano anterior. Diferentemente do que aconteceu com o arroz, que sofreu o
declive de -11%, e o com o milho (-6,8%).
Para Jurandil Juarez, um dos principais
motivos para a queda na produção dos grãos, é o alto custo que o produto chega
ao mercado local e ainda citou o milho como exemplo. “Neste caso, o custo da
produção do milho é tão elevado que chega a ser o dobro do preço real que o
mesmo custa na praça vinda de outro centro produtor. Quem produzir milho aqui, fatalmente não terá retorno, pois
o que vem de fora é muito mais barato que o nosso”, explicou.
Outra razão seria os impostos que os produtores
locais enfrentam, afinal, “nós não pagamos tributos sobre os grãos importados,
porém pagamos naqueles que são produzidos aqui”, informou Juarez.
Sendo assim, há um preconceito dos poderes com o
próprio agricultor amapaense. “Então, além das políticas públicas não ajudarem,
elas também discriminam a compra”, completou.
Pecuária
Para o economista Juarez, devido o enorme tamanho
das terras amapaenses habitadas por búfalos, era para o Estado possuir um bom
rebanho, entretanto, “estamos vendo que isso não é concreto por causa da
qualidade dos bubalinos, afinal, nunca tivemos reais investimos nesse setor”,
disse.
De acordo com o IBGE, o Amapá possui 306 mil cabeças
de búfalos, sendo o segundo maior rebanho bubalino do Brasil, ficando atrás
somente do Pará, que possui mais de 442 mil cabeças. Porém o diretor-presidente
da Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária do
Amapá (Diagro), Rosival Albuquerque,
contesta a contagem do Instituto e afirma que o nosso rebanho tem em média 100
mil cabeças a mais que os dados oficiais, alegando que o pecuarista possui a
sua propriedade aberta, isto é, ele deixa o seu rebanhou solto, dificultando a
contagem.
Por enquanto, o que parece certo, é a afirmação
feita por Juarez em relação a deficiência da pecuária amapaense. Um dos motivos
para que esta atividade não seja eficaz é a febre aftosa. No momento em que o vizinho Estado Pará, encontra-se com o nível
médio em relação a aftosa, sendo que o município Altamira não possui a doença,
o Amapá atingiu o nível de alto risco. Entretanto, Albuquerque garantiu o
controle da Diagro perante esse problema através da vacinação no rebanho: “nós
estamos dentro de um controle para atingir o nível médio de aftosa. Antes o
Amapá ficou com risco desconhecido e hoje está com alto risco, pretendemos que
com essa vacinação nós possamos ficar com risco médio. Pois o Ministério da
Agricultura pretende acabar com aftosa até 2013”.
Rosival Albuquerque |
Com esse nível alarmante em que os búfalos
amapaenses se encontram, a pecuária não contribuirá em nada para a economia do
Estado no ano de 2012. No momento, o Amapá apenas importa carnes de outros
lugares do país, principalmente do Pará. Em relação a exportação das nossas
cabeças de gados, Albuquerque afirma que não tem previsão: “nós temos um
problema em relação a nossa exportação, porque leva-se em consideração a febre
aftosa, então isso nos prejudica, afinal, estamos com o nível de alto risco. E
isso tem uma grande repercussão no mercado internacional, pois ela atinge a
economia daquele lugar que está
importando o animal infectado. Hoje não podemos nem exportar para o Pará. Antes
exportávamos para o Líbano, porque esse país não levava em consideração a febre
aftosa (...) Portanto não temos perspectiva de exportação e isso acaba nos
limitando em apenas importar”.
Juarez ainda dissertou sobre a implicação que essa
falta de qualidade dos bubalinos causa em outros produtos, como o que acontece
com o leite. Segundo ele, o Amapá não consome o leite que é produzido pelas mais
de 300 mil cabeças de búfalos amapaenses, devido o que vem de fora. “Ora, se
nós temos milhares cabeças de gado, quer dizer que também produzimos milhares
de litros de leite, entretanto importamos os dos outros e jogamos fora o nosso”, concluiu.
Pesca
A Agência de
Pesca do Amapá (Pescap), tem cadastrado mais de 18 mil pescadores artesanais e
mais de 1.100 embarcações pesqueiras atualmente atuando na costa marítima do
Estado, que é considerada um
dos maiores bancos de pescas do mundo e o maior do Brasil. Então a conclusão
lógica,seria afirmar que o amapaense tem
o peixe mais barato do mercado nacional, certo? Errado. Por incrível que
pareça, o quilo do frango que é importado de Chapecó, do Estado de Santa
Catarina, é mais barato que o do peixe capturado nas nossas águas.
Um razão disso pode está na falta de política de
incentivo ao pescador local para que possa explorar a costa amapaense, pois de
acordo com dados do IBGE, através do último senso pesqueiro, realizado em 2007,
o Amapá possui uma produção anual de 17 toneladas, resultado que é considerado
insignificante perto do Pará e Amazonas.
Para reverter
esse cenário de atraso no Estado, somente uma infraestrutura sólida, afinal,
hoje a estrutura pesqueira do Amapá é precária, o que tem reflexo direto no
preço do produto e na qualidade do pescado, o que causa o impedimento na
competitividade com outros centros produtores. O custo do pescado no Amapá
ainda é muito alto, chegando a custar, em alguns casos, o valor exorbitante de
R$ 18, o quilo de uma das espécimes mais nobres , como o Filhote, em quanto o
quilo do frango importado, custa em média R$ 6. “Portanto, daí a razão para a
população do Estado consumir mais o frango importado do que o próprio peixe
amapaense”. Frisa Juarez.
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Hortifrutigranjeiro em festa
Esse setor
está em festa no Amapá, pois surpreendentemente prospera em nossas lavouras. Uma
prova disso é o abacaxi e a banana. De acordo com o LSPA do IBGE, essas duas
frutas tiveram saldo positivo em 2011 na produção, no rendimento médio, na área
colhida e plantada, todos comparados com o ano anterior.
A produção do
abacaxi em 2011 aumentou em 52,7%, área plantada (+26,6%), área colhida
(+22,9%) e no rendimento médio (+24,2%).
A banana teve
um aumento ainda maior na produção, chegando a impressionante porcentagem de
+89.5%, seguido pelo rendimento médio (+85,8%), área plantada (+16,6%) e área
colhida (+2,1%).
Em
contrapartida às duas primeiras, a laranja teve uma queda no rendimento médio
de -4%, e na produção, -1,8%. Porém se recuperou na área plantada (+20%) e na
área colhida (+2,3%).
Outra razão
para a “festa” no setor hortifrutigranjeiro do Amapá, também está relacionado
ao empenho dos agricultores no cultivo de hortaliças. Quem viaja pelo km 09, da
Rodovia Duca Serra, encontra propriedades que prosperam, como é o caso da MC
Krychak, do produtor paranaense Luis Mauri Krychak, que com uma área de 6
hectares (60.000 m²) de plantações, novas técnicas, maquinário e mão de obra
local, consegue atender 10% do singelo mercado regional, e ainda afirma: “não
produzimos em escala maior, porque não há um mercado maior”.
Hoje, a
propriedade MC Krychak cultiva: agrião,
espinafre, rúcula, tomate cereja, tomate comum (ainda em teste), brócolis,
entre outros. E ainda gera 30 empregos diretos e mais de 200 indiretos.
Entretanto, os produtores do entorno do Km 09 devem
ficar em alerta. De acordo com Jurandil Juarez, a urbanização pode invadir
essas propriedades. “Tivemos várias tentativas aqui de cultivo de hortaliças
que não prosperaram porque a urbanização tomou conta. Posso citar a baixada do
japonês, que acabou sendo extinta devido a especulação imobiliária daquele
local. Como está acontecendo no Km 9, que por sinal já está ficando
urbanizado”, alertou.
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O que falta para
o desenvolvimento do setor primário e quais a vantagens para investir neste
setor?
Continuando a análise do Setor Primário amapaense, o
ex-deputado federal Jurandil, explica quais os fatores fulminantes para o setor
primário amapaense ser deixado de lado pelas autoridades: “o principal fator
para a anemia das atividades primárias, é a falta de políticas públicas para
desenvolvê-las. Primeiro que esse setor é diretamente ligado a terra e para
desenvolver é preciso regularizá-la. Pois sem área regularizada, não tem
financiamentos para equipamentos, maquinário, etc. Também não existe uma assistência
técnica de fomento e como o nosso mercado é pequeno, não há uma pressão para que
a gente produza alimentos, fazendo com que as autoridades fiquem em repouso em
relação a isso”.
De acordo com Juarez, a contrapartida que o Estado
terá no investimento feito no setor primário é geração de emprego e renda, que
posteriormente culminará no aumento do PIB estadual. “A vantagem de investir
nesse setor é a geração de renda, ora, quando compramos um produto de fora,
estamos gerando riqueza em outro lugar. Por exemplo, ao comprarmos o frango que
é produzido em Chapecó (SC), nós criamos empregos nesta cidade e
consequentemente fomentamos a economia de Santa Catarina (...), outra vantagem
é que nós mantemos o homem rural no campo, evitando uma imigração para a cidade,
o que agravaria ainda mais os problemas sociais na educação, saúde, segurança
pública, entre outros”.
Com tudo isso, é louvável que o setor primário ainda
contribua quase que 5% ao PIB estadual, o que mostra a força que este setor
teria, caso fosse visto com bons olhos.
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Escoamento da
produção
Um problema que atinge 100% dos produtores rurais é a
dificuldade do escoamento da sua produção. Os pequenos e médios produtores têm dificuldade de
conseguir transporte para levar os mantimentos para as chamadas “Feiras
Populares” da capital, além do péssimo percurso, desde a sua propriedade até o
local da venda.
A principal via federal de escoamento desses
produtores é a BR 156, com extensão de 822,9 km, ela começa na
cidade de Cachoeira Santo Antonio, no município de Laranjal do Jarí e termina
na divisa do Amapá com a Guiana Francesa, na Ponte Internacional, em Oiapoque.
De
acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), a
BR-156 expira cuidados nos perímetros das Rodovias AP-020 e AP-030.
Entre
as vias estaduais, as que se destacam pelo escoamento dos produtores são: AP-010
| AP-020 | AP-030 | AP-070 | AP-110 | AP-120 | AP-130 | AP-140 | AP-160 |,
entre outras.
Direito a meia passagem ao
agricultor
A
principal mudança a ser feita é a revitalização das estradas, principalmente
das estaduais. Porém com o intuito de ajudar na luta para transportar a carga
das propriedades até os locais de vendas, a lei n° 1413/09 concede o direito à meia passagem rural aos produtores
agrícolas no transporte rodoviário e fluvial no Estado do Amapá, passagem que é
custeada pelo poder executivo estadual.
A
lei ainda rege, que apenas os agricultores que comercializam em Macapá, terão direito ao benefício. Assim como o mesmo
deverá comparecer à Secretaria de Estadual
de Desenvolvimento Rural, a fim de efetuar o seu cadastro.
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