sexta-feira, 8 de novembro de 2013

PIONEIROS

"Direitos
iguais
para todos"

Isaac e Clemência Zagury (in memoriam) 


Reinaldo Coelho
Da Reportagem

Esta semana a editoria da coluna Pioneirismo, traz a história de dois pioneiros do comércio varejista e industrial amapaense. São eles, Issac Jaime e Clemência Zagury. A publicação foi feita com base nos depoimentos de sua filha Sarah Zagury, nascida em Macapá e residente no Rio de Janeiro, que enviou os relatos por e-mail. "Sem problemas publicar a história do meu pai. Nossa família veio do Marrocos durante uma perseguição aos judeus, tendo imigrado para Macapá, que na época pertencia ao Pará. Meu pai amava Macapá e dizia que o frescor da cidade não existia em nenhum lugar. Tinha muitos amigos. Ele morreu em 1972 e dez anos depois minha mãe faleceu".


As histórias desse casal se entrelaçam por ter suas raízes fincados no Oriente. Ambos eram filhos de imigrantes que aqui se estabeleceram, casaram, cemeçaram negócios e criaram seus filhos fixando raízes no solo amapaense e na memória de Estado.
O pioneiro Isaac Jaime Zagury era um dos nove filhos do Capitão Leão Zagury e de Dona Sarah Roffe Zagury. Sete deles nasceram em Macapá: Esther, José, Eliezer, Syme, Meryan, Abraão, Moisés e Ana.

Isaac nasceu em Macapá, no dia 11 de agosto de 1914, quando o Amapá ainda pertencia ao Estado do Pará. Dona Clemência Zagury, que na verdade se chamava Piedade Assayag era filha de imigrantes marroquinos de origem judaica. A família dela era radicada em Parintins (AM), onde nasceu em 18 de agosto de 1918.

O começo

Os Zagury chegaram a Macapá quando as terras ainda pertenciam ao Estado do Pará. A região só foi desmembrada pelo Decreto-lei n° 5.812, de 13 de setembro de 1943, constituindo o Território Federal do Amapá.

A matriarca Sarah Zagury e seus filhos fundaram a primeira empresa legalizada da cidade, a Casa Leão do Norte, que vendia de tudo. Isaac, que tinha espírito empreendedor, junto com o irmão Moysés, deu continuidade ao trabalho dos pais como comerciantes na cidade e levando para a mesma, empresas como a aviação Cruzeiro do Sul, depois Varig; os automóveis Willys Overland, Sapataria Predileta, Texaco, Drogaria Zagury,  Sorveteria Central e o Flip Guaraná, que Isaac fazia com o coração e fórmula de seu exclusivo conhecimento.

Entre suas inúmeras atividades, Isaac exerceu o cargo de Juiz de Paz e foi grande incentivador dos esportes e  atividades populares.
Sua filha Sarah Zagury relembra que seu pai Isaac era o filho que amava Macapá e o frescor do rio Amazonas. "Ele adorava sentar à porta de casa para conversar com quem passava. Foi assim que viu a cidade de Macapá nascer e se desenvolver, sempre se referindo à mesma como "terra promissora e o melhor lugar para se viver".
A coca-cola amapaense
Isaac Zagury foi um próspero comerciante do início do ex-Território Federal do Amapá ao lado do irmão Moisés Zagury (por muitos anos Gerente da agência local dos Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul). Isaac foi um dos sócios da firma Sara Roffe Zagury & Cia., proprietária da Casa Leão do Norte. 

GUARANÁ FLIP
Isaac dedicou-se intensamente à fabricação do Flip Guaraná, em um barracão de madeira nos fundos da casa em que vivia. Juntos, ele e seu irmão Moisés mantiveram também, por muitos anos, a firma Irza Refrigerantes Ltda., (Irza Irmãos Zagury), que fabricava o inconfundível Flip Guaraná.



Isaac tinha como braço direito o fiel amigo Casemiro, filho de escravos, com quem dividia momentos de gloria e dificuldades. Casemiro foi seu melhor amigo por toda a vida. De todos que trabalhavam na fábrica, a funcionária e amiga Leila era a pessoa que sabia fazer a fórmula do guaraná e era responsável junto com Isaac pela fabricação do xarope.

Dona Leila, hoje com 90 anos, mas lúcida, vive com as filhas em Macapá e foi uma das pioneiras homenageadas pelo Tribuna Amapaense. Deve-se ressaltar que grande parte dos funcionários do Flip era de origem humilde e negra, moradores do bairro do Laguinho. Naquela época não havia grandes oportunidades de trabalho para os negros. Isaac mantinha todos seus funcionários legalizados considerando que as leis trabalhistas eram um ganho para o povo e que ele entendia que, no futuro, todos precisariam de uma aposentadoria.

Família

A grande dama Clemência Zagury, mulher elegante e eficaz nas contas, tinha na família sua predileção de vida. Clemência sempre contava para a filha Sarah, que uma cigana havia dito para ela que em uma viagem a Belém, dentro de um bonde, conheceria um homem que trabalhava com ouro e que este seria seu amor para toda a vida. Assim, Isaac e Clemência se casaram contra a vontade da família dela e fixaram residência no então Território Federal do Amapá estabelecendo intensa relação com a cidade. Da união de Isaac e Clemência Zagury nasceram quatro filhos: Leão (médico), Abraham (engenheiro), Sarah (Pedagoga) e Alice (História).
Clemência prezava a relação com as pessoas simples. Dizia sempre aos filhos sobre a importância de se relacionarem com pobres, ricos, brancos, caboclos e negros. Durante sua vida agregou inúmeras pessoas em sua casa, entre elas, Orlandina Banha, Helena Bemerguy, Regina Alice e Ruth Léa (filhas de Domingas). 

Ela costumava comentar que os pobres eram os melhores compradores de sua loja, e que ricos e pobres, brancos ou negros tinham que ter o mesmo tratamento. Ela acabou transformando a Casa Leão do Norte em uma pequena loja de departamentos. Seus negócios eram estabelecidos através de conversa e anotados em um caderno, sem burocracia, se valendo apenas da palavra com a qual era dado o crédito. Clemência era amiga de suas funcionárias, entre elas Cesarina (irmã de Maria dos Anjos), Dorica, Sarah Alcântara (mãe do Edson Alcântara).

Isaac e Clemência tinham muita preocupação que os filhos estudassem, pois não desejavam que os mesmos trabalhassem no comércio, o que consideravam uma vida muito dura.  Quando os filhos cresceram, Clemência optou para que fossem para fora de Macapá. No entanto, Isaac desejava que permanecessem na cidade. Assim, com muito trabalho, Isaac e Clemência formaram os filhos. Leão, em medicina; Abraham, em engenharia; Sarah, em pedagogia e Alice em História.

Isaac Jayme Zagury faleceu em 01 de maio de 1971, aos 57 anos de idade, no Rio de Janeiro, onde também foi sepultado. Foi um dos honrados homens que amaram o Amapá.

Após o falecimento de Isaac, Clemência saiu da sociedade da família Zagury e fixou residência no Rio de Janeiro, onde faleceu em julho 1982, aos 64 anos. Ela também está sepultada na Cidade Maravilhosa.

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