Entre
grãos, cortes e futuro
O Amapá experimenta
problemas com terras não é de hoje. Já foi noticiado como sendo o Estado com a
área verde mais preservada do País e por conta disso, cobiçada. As áreas de
preservação entram neste hall e são defendidas por ambientalistas no mesmo
passo da cobiça das madeireiras.
O governo que sai tem
aproveitado o apagar das luzes para fazer o que não fez em quatro anos de
gestão. No começo da semana, assinou o edital de concessão para colocar parte
de terras da floresta do Amapá nas mãos de grandes empresas. Por quarenta anos
o Estado não terá qualquer gerência sobre tais áreas, muito embora tenha
colocado entre as cláusulas, a recomposição da floresta derrubada.
Para os ambientalistas,
desmatamento é desmatamento. E para os que moram há décadas nestas áreas
cobiçadas, a preocupação é ainda maior. É que eles correm o risco de perder a
terra na qual residem e trabalham. Inicialmente está sendo dito que os
primeiros lotes não possuem moradia. A pergunta é, e os futuros? Qual será o
comportamento da próxima gestão com relação ao assunto?
A Assembleia
Legislativa criticou duramente as intenções do governo no decorrer do ano,
assim como a Justiça Federal. No entanto, a assinatura do edital revela ao
menos em tese que as arestas foram aparadas, caso contrário a atual gestão
estaria ignorando determinações e dissonâncias, aliás, coisa que fez ao longo
do mandato.
O problema é que tudo
no Amapá é problema, quando deveria ser solução. Neste mesmo bojo, a soja
aparece como segundo ato. A cultura destes grãos com destaque no Centro Oeste
do Brasil encontrou o caminho do Norte tendo o atrativo da terra barata.
Os produtores se
confessaram surpreendidos com o preço do hectare, principalmente no Amapá onde
a medida é mais barata. O que faltam são incentivos a exemplo do Pará. Mesmo
assim, os empreendedores apostam nas terras de cá e no escoamento pelo Porto de
Santana, com sua estrutura caduca e pouco melhorada desde os tempos áureos da
Icomi.
Projeções feitas pela
Embrapa com relação ao aumento de safra e faturamento são as melhores possíveis
em um espaço de tempo de duas décadas. O que fazer então? Melhorar a estrutura
para que estes investimentos ganhem mais corpo e tornem o Amapá um destaque
nacional na produção de soja? Alguns dizem que sim. Outros dizem que não.
Mas todos concordam que
o Estado precisa sair do modelo econômico no qual vive há décadas, desde quando
Janari Nunes desfilava seu terno branco montado a cavalo ou em exuberante carro
preto pelas ruas de chão batido da Macapá e do Amapá de ontem. É preciso
desviar os olhos da foto amarela que congelou o tempo na moldura. O tempo que
passa nos esquadros da janela, revela o futuro veloz e dinâmico, onde o passado
fica infinitamente mais distante em uma fração de milésimos.