sábado, 22 de abril de 2017

Delação da Odebrecht no Amapá

Mistério! Na delação da Odebrecht no Amapá

Os políticos citados, o ponto-chave da delação e o mistério da 'Múmia'

 
A denúncia de recebimento de R$ 450 mil foi para a campanha de 2012
A delação de Alexandre Barradas, ex-diretor da Odebrecht Ambiental, levantou a suspeita de que a campanha do atual prefeito de Macapá, Clécio Luís (Rede), em 2012, tenha tido caixa 2 - que se refere a recursos financeiros não contabilizados e não declarados aos órgãos de fiscalização.
O político amapaense foi citado na delação e tem o nome na lista do ministro relator da operação Lava Jato, Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). Clécio Luís teria sido financiado, conforme Barradas, com R$ 450 mil.

Além dele, o senador pelo Amapá Randolfe Rodrigues (Rede) foi citado na delação de Barradas. Padrinho político de Clécio, o senador teria despertado interesse da construtora por então pertencer a um partido de esquerda, onde a Odebrecht não tinha muito acesso. À época, em 2012, Randolfe e Clécio pertenciam ao Psol.  
O senador Randolfe aparece atualmente na condição de citado. Clécio Luís teve a denúncia remetida a outro foro e tribunal.
Ambos negam qualquer recebimento ilícito.

A delação
O caminho da delação que leva aos políticos amapaenses parte de um advogado de nome 'Rafael'. Ele teria, inicialmente, organizado um encontro em Brasília entre Barradas e o senador Randolfe Rodrigues.
Alexandre Barrados
"Conheci o advogado 'Rafael', num voo entre Goiânia e Brasília. Ele era de Goiânia. Conversamos, aquele contato casual no aeroporto. Era momento da campanha de 2012. Ele tinha empresa de consignados, advocacia, operações com Detrans. (...) [após esse encontro] ele ligou, nos encontramos e ele perguntou se eu teria interesse em Macapá. Disse que não tinha ação desenvolvida lá, eu havia conhecido a cidade há muito tempo pela empresa. (...) ele falou que estava ajudando o senador Randolfe a eleger o seu afilhado político, Clécio Luís, a prefeito de Macapá", falou Barradas.
O ex-diretor da Odebrecht conta que achou estranho porque se tratava de um senador do Psol, "bastante agressivo naquele tempo de CPIs, e bastante atuante", classificou. Segundo o delator, 'Rafael' teria dito que Randolfe era agressivo, porém, progressista, e o teria convidado para conversar com ele.
Barradas disse que achou interessante quebrar as arestas junto a partidos de esquerda, e aceitou o convite. Randolfe e o ex-diretor da Odebrecht se encontraram, segundo ele, no gabinete do senador, em Brasília, onde teriam conversado sobre o Amapá, sem que houvesse pedido financeiro, afirmou o delator.
"Randolfe foi muito cortês, conversamos por cerca de 15 minutos, ele se mostrou aberto e disse que tinha interesse para fazer revolução burguesa em Macapá, e sabia que precisava de capital para isso, mas queria fazer isso de forma muito séria, mas precisaria das grandes empresas do Brasil", falou Barradas, que disse ter apresentado ao senador os programas sociais da Odebrecht, que poderiam ser implantados no Amapá futuramente.
Segundo Barradas, a conversa foi nesse sentido, não houve pedido de apoio à candidatura de Clécio Luís. O delator disse também que após as eleições, não voltou a encontrar Randolfe, apesar de ter tentado contato, para apresentar os programas sociais da construtora, sobre os quais haviam conversado.
Na delação, Alexandre Barradas disse acreditar numa relação entre o senador amapaense e o advogado 'Rafael', já que o intermediário foi quem organizou a reunião entre os dois.
Segundo o senador, o delator fala a favor dele, que não houve pedido de nenhuma contribuição. Randolfe disse que em nenhum momento foi envolvido nas investigações da operação, e que sempre atuou em defesa das investigações.
"O vídeo de Alexandre Barradas é um depoimento em meu favor. No vídeo ele diz que esteve comigo por 15 minutos e eu nunca falei em dinheiro, nunca intermediei nenhum contato dessa natureza e estão fazendo uma ilação de um jovem de 26 anos que na época deveria ter 21 anos, como se fosse outro. Não sou citado na Lava Jato, não tem inquérito contra mim e sou o primeiro a defender a Lava Jato no Congresso Nacional. Não aceito ser misturado nessa lama fétida da política do Amapá e do Brasil que a qualquer custo querem me meter", defendeu-se Randolfe.
Ponto-chave da delação
No ponto-chave da delação, Barradas conta que ao deixar o gabinete de Randolfe Rodrigues, o advogado sugeriu uma ajuda ao senador para a campanha de Clécio Luís. O ex-diretor conta que levou a sugestão ao seu superior, que autorizou o financiamento de R$ 450 mil para apoiar a candidatura do atual prefeito de Macapá.
A idéia, segundo Barradas, era marcar espaço para o futuro, criar uma relação com o partido. "Doações têm sempre objetivo, penetrar no ambiente, para o futuro", afirmou.
Segundo o delator, na semana seguinte houve o pagamento do valor a Rafael, que daria providência para que o dinheiro chegasse à campanha de Clécio.
A 'Múmia'
Numa tabela constante no processo de investigação, o valor de R$ 450, as inicias supostamente de Alexandre Barradas, a localização Macapá-Amapá ligam-se a um codinome 'Múmia'. O delator não soube explicar a formação da tabela e nem os códigos constantes.
O agradecimento
Depois das eleições, vencidas por Clécio Luís, Barradas contou que procurou Rafael, e que ele marcou um encontro entre o então candidato vencedor e o ex-diretor da Odebrecht. Num jantar em Brasília, Clécio agradeceu o apoio da construtora, sem mencionar valores. 
"Ficou claro que ele [Clécio] sabia de onde tinha vindo o recurso. Ele agradeceu", falou Barradas.
Na nota emitida pelo prefeito de Macapá, no dia 12 de abril, após a divulgação da lista de Fachin, Clécio Luís garante que "nunca teve contato com representantes da Odebrecht, antes, durante ou depois de ter sido eleito prefeito. Ele completa dizendo que não existe obra ou contrato com a empresa na capital".

As suspeitas serão apuradas. Por ordem do ministro relator da Lava Jato Luiz Edson Fachin, os episódios que envolvem o prefeito foram enviados para o Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, foro competente para julgá-lo. Caberá ao órgão analisar o pedido e autorizar, ou não, o início das diligências. Randolfe figura somente como citado na delação. 

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