segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Concessionárias enganam consumidores


por Gabriel Fagundes



A economia global, especialmente a do continente europeu, tem passado por um longo momento de crise causado por razões diversas. Essa instabilidade econômica  perpassa as fronteiras da Europa e atinge países do resto do mundo, inclusive o Brasil. Por aqui para amenizar os efeitos desse momento ruim na economia nacional, o Governo Federal tem adotado, desde o início de 2012, medidas com o objetivo de manter o mercado interno aquecido, dentre elas a que hoje está em curso é a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados, o IPI.

Mais recentemente, no mês de maio, a redução do IPI foi estendida para veículos automotores e assim continuará até o dia 31 de agosto, caso o Governo Federal entenda que este prazo tenha sido suficiente para evitar um possível retrocesso na economia nacional, especificamente para a indústria automotiva. Números recentes indicam que a panacéia adotada pelo Ministério da Fazenda deu resultado. A venda de automóveis aumentou significativamente  no país em função da redução dos preços que caíram em média 2,5%, para carros com motor de até mil cilindradas (1.0).

No Amapá, porém, os descontos no IPI parecem ser mera propaganda, e embora a intenção do GF seja incentivar a compra de veículos, isso se torna difícil em nosso Estado. Tudo porque os descontos do imposto não são repassados pelas concessionárias ao consumidor e, muito pelo contrário, os carros continuam com preços altíssimos se comparados com outros Estados - pelo menos é o que indica uma pesquisa feita por este jornal e que você poderá conferir a seguir.

Venda de carros no Amapá
Na verdade falar de venda de automóveis no Estado é falar de maneira geral e absoluta de importação. O Amapá não possui pólo industrial de automóveis e, portanto, todos os carros que são vendidos em concessionárias locais são oriundos de outros Estados.

Nossa região por ser área de fronteira com território internacional possui uma Área de Livre Comércio (ALC), que isenta e dá descontos a produtos industriais de certos impostos e tributos, como, por exemplo, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

No caso dos carros não há cobrança do ICMS, logo você pode pressupor que o preço dos veículos aqui deve ser inferior a outros Estados que não possuem o mesmo benefício e que tal vantagem chegue ao seu bolso. Porém, não é o que acontece.

Em entrevista concedida ao TA, o gerente de vendas da Volkswagen no Estado, Tiago Camilo, argumentou que a diferença, isto é, o preço mais elevado de alguns carros que possuem a isenção do IPI no Estado é explicado pelo frete que a concessionária paga para deslocar o veículo até aqui.

Empresário Odi Cantuária
Na opinião do empresário que trabalha com revenda de carros, Odi Cantuária, tal argumento é inválido. Segundo ele, a exorbitância no valor de determinados veículos não pode ser justificada pelo frete, porque "esse frete não existe. O frete é chamado CIF (abreviação de Cost, Insurance and Freight, que em português significa Custo, Seguro e Frete), e já é pago pela montadora e é repassado no preço final do carro".

Também de acordo com Odi, para além do desconto do ICMS e do IPI, o Estado do Amapá possui uma das mais baixas taxas do Imposto para Veículos Automotores (IPVA) do Brasil, o que seria mais uma razão para os preços dos carros amapaenses tornarem-se mais baratos do que em outros Estados da Federação. "Aqui você acaba tendo um IPVA real na faixa de 2,4%, e isso também é um incentivo. Todas essas formas de incentivo foram criadas para que o Estado arrecadasse mais. E provavelmente isso tenha acontecido, mas o consumidor final não foi beneficiado com valores. Pode-se deduzir, portanto, que alguém está enriquecendo de uma maneira ilícita, a partir da apropriação de um valor que não seria dele, porém sim do consumidor", afirma o empresário.
Economista Joselito Abrantes

Na opinião do economista Joselito Abrantes, outro fator que contribui e que prejudica o consumidor, aumentando de forma exagerada os preços de automóveis no Estado, é a falta de competitividade do setor. "Temos aqui várias marcas, centralizadas nas mãos de um mesmo grupo de empresários e isso acaba de certa forma possibilitando a cartelização no preço do carro. De Belém para frente há no mínimo duas concessionárias de uma mesma montadora. Como no Estado isso não ocorre, não há concorrência e, portanto, os preços não caem", disse.

Diante desse cenário, a reportagem do Tribuna Amapaense espera que as autoridades competentes, como o Ministério Público Estadual, procure analisar e investigar os fatos apurados, tendo como motivação o benefício de você, leitor e consumidor.'


Veja a diferença em números

Em pesquisa realizada por este jornal, foi feita uma comparação entre preços de quatro carros populares de diferentes montadoras: Ford Ka, da Ford; Celta, da Chevrolet; Uno Vivace, da Fiat e Gol, da Volkswagen. A pesquisa foi feita baseada em dados disponibilizados pela DataFolha, atualizadas no último dia 9 de agosto. Confira os preços no Amapá em relação aos preços no Estado de São Paulo:


Valores em São Paulo

Valores em Macapá



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