sexta-feira, 14 de setembro de 2012

De frente com o câncer - Câncer de boca e garganta


O câncer pode aparecer em qualquer parte do corpo, mas há certos tipos de tumores que têm predileção pela boca, garganta e pescoço e estão relacionados, geralmente, a agentes causais como o álcool e o tabaco. Por se desenvolverem em áreas mais fáceis de visualizar, esses tumores são passíveis de diagnóstico precoce e, com pequenas intervenções cirúrgicas, é possível resolver definitivamente o problema.


Infelizmente no nosso meio, o diagnóstico das lesões costuma ser tardio, numa fase em que já surgiram, no pescoço, linfonodos (gânglios) comprometidos pela doença, o que obriga submeter o paciente a cirurgias muito mais extensas e, às vezes, bastante mutiladoras. O mais triste é que essa situação poderia ser evitada. Um exame simples, utilizando um abaixador de língua, um espelhinho e uma lanterna, realizado por profissional devidamente treinado, bastaria para diagnosticar precocemente a doença e evitar muito sofrimento.

O câncer de boca está muito associado ao cigarro. Não se pode esquecer, porém, que há outros fatores de risco envolvidos como o alcoolismo (especialmente quando associado ao tabagismo) e a má higiene oral.

O cigarro é extremamente tóxico. Possui 5.000 substâncias que são danosas à saúde e que agem de maneira diferente. A principal, e a mais clássica, é o benzopireno. Experimentalmente, já foi provado que basta pincelar benzopireno na boca de cobaias para que os animais desenvolvam tumores. Além disso, não se pode esquecer da ação térmica do cigarro. Como a fumaça chega muito quente na boca do fumante, provoca uma irritação crônica que obriga a mucosa a reproduzir-se de modo mais acelerado, o que leva à multiplicação de células e ao câncer.

Características das lesões
Geralmente, o sítio de eleição é a borda lateral da língua, mas as lesões podem aparecer em qualquer ponto da mucosa. Na boca, elas são mais visíveis e, por isso, o diagnóstico precoce é mais frequente. A própria pessoa nota alguma coisa estranha ou o dentista observa a lesão num exame odontológico de rotina e encaminha o paciente para um especialista a fim de fazer uma biópsia. O problema é maior nas regiões posteriores das vias aéreas, ou seja, nos seios piriformes e na laringe. Às vezes, quando surgem os sintomas, a lesão já está muito grande.

Evolução e diagnóstico
Às vezes, passam-se vinte anos entre o início das alterações pré-malignas até o câncer tornar-se invasivo. Em termos de saúde pública, é um tempo enorme que permitiria fazer todo tipo de rastreamento populacional e tratar as pessoas que estão em risco. Infelizmente, isso não ocorre no Brasil, embora o diagnóstico seja barato e não exija exames sofisticados como a ressonância magnética, por exemplo, pois bastam um espelhinho e o treinamento do profissional que faz a avaliação.

A dificuldade de deglutição não é um sintoma muito valorizado nos diagnósticos de câncer da boca e garganta. Certas condições clínicas, crônicas, provocam dificuldade de deglutir. Por exemplo, paciente com refluxo gastroesofágico tem dificuldade para engolir, porque o conteúdo ácido do estômago extravasa e irrita o esôfago e a laringe. No entanto, se houver alterações da voz (disfonia), que persistem durante duas ou três semanas, é preciso procurar atendimento de um especialista.

Orlando Parise Junior é médico-cirurgião.
Especializado em lesões de cabeça e pescoço, trabalha no Hospital Sírio-Libanês de São Paulo.

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