sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Panorama - A "surdez" na prevenção de suicídio no Amapá


 por Reinaldo Coelho

O Amapá é mais um dos Estados brasileiros que não possui políticas públicas voltadas para a prevenção do suicídio. Em 2005, ele ganhou o infeliz primeiro lugar entre as unidades federadas, em suicídio, proporcional ao número de habitantes, , informação dada pelo Centro de Valorização da Vida (CVV) na época.  Este ano está com o 5º lugar em âmbito nacional e o 2º na Região Norte, informação dada pelo Mapa da Violencia no Brasil.


A ONG Centro da Valorização da Vida (CVV), que é filantrópica e já trabalha há mais de 60 anos no mundo, com a função de prevenir os suicídios, está instalada em Macapá há quase 10 anos. E é a única instituição voltada para tratar de tão delicado assunto. Segundo a voluntária Cianúzia Letícia, a grande incidência do ato desesperado é quando a pessoa a perde vontade de viver e aos abalos emocionais como perda de um amor, trabalho, etc. Para o CVV, são dados científicos não específicos, por entender que a instituição realiza um trabalho sigiloso - não elabora dados estatísticos. Muitos dos casos, principalmente entre os jovens, acontecem por causa de desilusões amorosas.

Quando a Organização Mundial de Saúde revelou, no último dia 10 de setembro (Dia Mundial de Prevenção do Suicídio), que aproximadamente três mil pessoas se matam por dia; que esse número cresceu 60% nos últimos 50 anos, especialmente nos países em desenvolvimento; e que o suicídio já é uma das três principais causas de morte entre os jovens e adultos com idade entre 15 e 34 anos, poucos veículos de comunicação se interessaram em abrir espaço para essas informações. 

Talvez tenha prevalecido a tese de que qualquer menção ao suicídio na mídia possa fomentar a ocorrência de novos casos. O risco de fato existe quando se explora o assunto de forma sensacionalista, dando visibilidade a detalhes mórbidos que possam inspirar a repetição do gesto fatal. Mas a própria OMS recomenda, enfaticamente, a veiculação através da mídia de informações que ajudem na prevenção do suicídio, como já se faz em relação à dengue, hanseníase, tuberculose, AIDS, câncer de mama e outras doenças. "A disseminação de informação educativa é elemento essencial para os programas de prevenção; nesse sentido, a imprensa tem um papel relevante", é o que se lê na apresentação do manual de prevenção do suicídio.

Políticas de prevenção 
O Ministério da Saúde brasileiro publicou a portaria Nº 1.876/06, de 14 de agosto de 2006, que instituiu Diretrizes Nacionais para a Prevenção do Suicídio para ser implantadas em todas as unidades federadas, respeitando as competências das três esferas de gestão. Esta portaria elenca vários itens legais, epidemiológicos, financeiros, e inclusive uma recomendação da OMS de que os Estados-membros desenvolvam diretrizes e estratégias nacionais de prevenção do suicídio. A portaria 1.876/06 faz alusão, também, à portaria nº 2.542/GM de 22 de dezembro de 2005 que instituiu a criação de um Grupo de Trabalho com o objetivo de elaborar e implantar a Estratégia Nacional de Prevenção ao Suicídio.

No Amapá
Considerando a publicação dessas duas portarias, surge a curiosidade no sentido de compreender os desdobramentos práticos, no Amapá, dessas publicações. Assim, torna-se importante saber como esses desdobramentos históricos se configuram atualmente no Amapá. Nada existe em questão de legislação na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal de Macapá. O órgão de saúde estadual não informou a existência de políticas públicas para o segmento.

Dados estatísticos
Para termos uma noção quantitativa, nos anos de 1994 a 2004 houve uma média entre 3,9 e 4,5 suicídios para cada 100 mil habitantes no mundo. No Brasil, no ano de 2004, a taxa de suicídio ficou em 4,5 para cada 100 mil habitantes, sendo a maioria constituída de pessoas do sexo masculino. Regionalmente, o Norte tem uma média de 3,17 suicídios para cada 100 mil habitantes, sendo a região brasileira com o menor número de suicídios registrados, encontrando-se em seu oposto às regiões Sul e Centro-Oeste com, respectivamente, 8,16 e 6,25 suicídios para cada 100 mil habitantes. Porém, quando se observam os números referentes a cada Estado e o Distrito Federal, o Amapá é o segundo, na região Norte, em números de suicídios com 6,87 casos para cada 100 mil habitantes, ocupando o quinto lugar nacionalmente, ou seja, um número acima das médias internacional, nacional e regional.

Até setembro de 2012, já aconteceram 24 casos de suicídio no Estado do Amapá, comparando com o ano de 2011 no mesmo período foram 31 casos, sendo 19 por enforcamento, 3 por arma de fogo, 1 por envenenamento e 1 que ateou fogo no corpo. Dados computados e encontrados no blog http://joaoboleroneto.blogspot.com.br/

CVV
A Organização Não Governamental (Ong) Centro de Valorização da Vida (CVV/AP) desenvolve um trabalho social na capital amapaense, através do telefone 141, onde os atendentes escutam as pessoas que ligam, com problemas pessoais, 24h por dia.

Conforme informou a voluntaria do CVV, Cianúzia Letícia, os voluntários da Ong já evitaram suicídios, por meio de diálogos e conselhos de seus atendentes, portanto essa é uma atividade importante para a sociedade amapaense. 

A procura por atendimento no Centro é maior durante datas comemorativas como Páscoa, Dia dos Pais, Dia das mães, Natal e Ano Novo, quando muitas pessoas ficam sentem deprimidas.

"Estamos enfrentando dificuldades para funcionar, estamos somente com 23 funcionários, mas o ideal seria entre 35 a 42 atendentes. A falta de pessoas sobrecarrega o trabalho dos que temos. Cada voluntário trabalha 4h. A única exigência para trabalhar no CVV é estar disposto a servir", afirmou Cianúzia Letícia.

Voluntária Andréa Oliveira atendendo
os que necessitam de diálogo
A voluntária ressaltou que o CVV funciona em um espaço cedido pelo Ministério Público Estadual (MPE/AP), no centro da capital amapaense e atende, em média, cerca de 340 casos, ao mês. "Graças ao Ministério Publico Estadual, que abraçou essa responsabilidade social, inclusive fornecendo recursos financeiros, não existiríamos em Macapá. A sociedade amapaense infelizmente ainda não tem conhecimento do que é e para que serve o CVV, dependemos de vocês da imprensa para divulgar", disse.

Ela reforçou que a entidade estará realizando um processo seletivo, que começa dia 22 de setembro para escolher e treinar voluntários. "O voluntario deverá se submeter a um treinamento durante três meses, com aulas uma vez por semana".

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