Em um ano
Justiça Federal determina novas
audiências públicas na área do Parque do Tumucumaque
Pedido foi feito pelo ex-vereador Laércio Aires e acatado pelo juiz
federal João Bosco Soares
Novas consultas deverão ser
feitas à população dos municípios que fazem parte do Parque Nacional Montanhas
do Tumucumaque. A Justiça Federal acatou de forma parcial um pedido feito pelo
engenheiro florestal Laércio Aires solicitando a anulação do decreto que criou
o parque em agosto de 2002. Ao que tudo indica, o andamento do processo será o
mais lento possível. Uma semana depois do recebimento e aceitação do pedido
pela Justiça, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade ainda
não havia recebido qualquer notificação.
Juiz Federal João Bosco |
A determinação do juiz João
Bosco Soares, que recebeu a documentação de Aires, é de que novas audiências
sejam realizadas nos cinco municípios que formam o Parque Montanhas do
Tumucumaque. “Determino que a União proceda a novas consultas públicas nos
municípios abrangidos diretamente pela criação do Parque Nacional Montanhas do
Tumucumaque (Oiapoque, Calçoene, Serra do Navio, Pedra Branca do Amapari e
Laranjal do Jari), no prazo máximo de um ano”, disse o juiz em seu despacho. Ao
todo, o parque abrange 3.867.000 hectares.
Contudo, o prazo de um ano deve
demorar muito mais, já que nem a notificação ao ICMBio foi feita. O fato de a
Justiça aceitar o pedido de anulação não significa a extinção do parque. Ele
continua existindo legalmente segundo explicou Paulo Russo, coordenador de
articulação institucional e comunitária do parque. Russo disse que as
audiências que ocorreram não teriam sido satisfatórias, mas cumpriram o que
mandava a tramitação para se criar o parque. “Tudo foi feito dentro da
legalidade. As audiências foram realizadas dentro do ponto de vista legal”,
explicou Russo.
O problema é que a repercussão
foi quase nula no meio da comunidade e o barulho feito para evitar a criação
não surtiu nenhum efeito. Muito se questionou sobre a quantidade de terra que
ficaria inoperante na região, mas tudo passou em branco e a assinatura ocorreu
no governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Dez anos depois, a
justificativa da finalidade do parque, foi toda feita na elaboração de projetos
de manejo, que determina tudo que pode e não pode ser feito na área. Um dos
pontos é a limitação da presença de visitantes. Segundo o ICMBio, existem
locais onde a presença de pessoas representaria prejuízo imediato para o meio
ambiente. Já outros pontos são considerados próprios para a visitação, que pode
ser intensa. Uma década foi pouco para uma definição, considerando a extensão
da área. O turismo ecológico é uma opção nestes setores e a exemplo de outros Estados,
poderia significar uma fonte econômica para o Amapá, que até hoje tem uma das
políticas mais inexpressivas nessa área. A implantação de outras atividades é
dificultada por conta do difícil acesso. Paulo Russo considerou que o turismo
ecológico é um segmento viável para a região devido à potencialidade única do
parque.
ex-vereador de Macapá Laercio Aires |
Na opinião de Laércio Aires, o
processo de criação do parque é nulo de pleno direito por não ter havido
consulta pública com a finalidade de subsidiar a definição da sua localização,
dimensão e limites, o que é previsto em dispositivo legal que regulamentou o
Sistema Nacional de Unidade de Conservação da Natureza – SNUC. “A população
daqueles municípios não tomaram conhecimento do que essa medida traria de
consequências para suas vidas”, disse Laércio. O juiz João Bosco Soares acatou
a argumentação de que a União fizesse novas consultas públicas. “Espero que
agora a população seja realmente ouvida e possa decidir que tipo de unidade é
melhor para ela”, considerou Aires.
O juiz João Bosco fez
orientações no documento enviado à União para que no mínimo duas consultas sejam
feitas nos municípios. A primeira seria em setembro deste ano. O Ministério do
Meio Ambiente terá participação no processo, além de secretarias e organizações
ligadas ao setor.
O Parque
A área de floresta tropical
protegida por lei é o maior parque nacional do Brasil com aproximadamente 3.867.000
hectares. Está localizada numa porção da Floresta Amazônica na região conhecida
como Escudo das Guianas, ao noroeste do Estado do Amapá. O Parque abrange parte
dos municípios de Oiapoque, Calçoene, Pedra Branca do Amapari, Serra do Navio e
Laranjal do Jari e uma pequena porção do município de Almeirim, no Pará. A
preservação de ecossistemas é um dos principais objetivos do parque.
As Montanhas do Tumucumaque se
integra a parques como a Serra do Divisor, Cabo Orange, Pico da Neblina e do
Monte Roraima.
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