Em tempos
de Copa e política
Que o jogo eleitoral não
comece como a seleção: com gol contra
Por: João Edsom
Em tempos de jogos de Copa do Mundo a repercussão
das partidas de futebol toma conta dos noticiários e a política sorrateiramente
continua traçando seus caminhos um pouco mais longe dos holofotes, mas segue
costurando um pouco aqui outro ali; um olho no campo e outro nas negociações.
Até o último dia de junho teremos terminado as
convenções partidárias para escolha dos candidatos ao pleito de 2014. A Copa do
Mundo estará recém entrando na sua segunda fase de jogos mata-mata, termo que
pode ser também aplicado à política, pois candidatos também serão fritados
enquanto outros receberão atenção redobrada.
Uma eleição começa ser vencida nos bastidores, nos
acordos, nas coligações, nas convenções. Quando julho chegar o jogo é para
valer, não apenas na copa do mundo que caminhará para sua reta final, mas
também para o jogo da politica. Candidatos a postos, começa a corrida
eleitoral. "ue o jogo da política não comece como a seleção brasileira na
Copa, fazendo de cara um gol contra e depois sendo ajudada pelo juiz"
O quanto o resultado da Copa irá influenciar a
campanha eleitoral somente o tempo poderá dizer. Mas algo é certo: os
governistas, tanto federal quanto dos estados onde ocorrem os jogos, estarão
torcendo como nunca para o sucesso não só da seleção brasileira, mas do evento
em si.
As manifestações tão prometidas para este período
ainda não tomaram corpo. Grande responsabilidade dos chamados black blocs, que
espantaram o povo das ruas e jogaram para dentro de suas casas as famílias.
Este movimento foi um atentado a aprendizagem democrática, pois aniquilou o
cidadão de bem que quer mudança sem destruição.
A mal fadada abertura dos jogos, fiasco mundial, só
serviu para vitimar a ré num ato covarde de xingamento, que deixa transparecer
muito mais a falta de compostura e educação de um povo do que um protesto em
si, terminou por agredir a presidente do país, quando poderíamos usar o momento
para protestar, vaiar ou reivindicar.
Mas esta descompostura não é inédita: em 2001, o
então candidato Lula também fez algo parecido com o presidente da República da
época, tanto que pediu desculpas em seguida pelo xingamento. Pesquisas daqui
para frente viram jogo de interesse. Como as regras e o caráter não são claros,
vai depender de quem contratar o instituto para coletar e processar os dados,
pois tudo será motivo de ganho ou perda de espaço junto ao eleitorado. Quando
os jogos terminarem virão o alívio e as frustrações. Só não sabemos ainda para
quem.
Nelson Rodrigues, “o mestre das crônicas imortais”
que escreveu “a pátria de chuteiras”, se vivo fosse hoje, diria que a pátria
usa tênis, pois apesar dos jogos serem aqui, parece não convencer mais com a mesma
ênfase de décadas anteriores. Fruto de uma melhor escolarização, quem sabe.
Hoje já há muitos que separam o ato de torcer das coisas da política. Mas
inegavelmente a ira da derrota ou o prazer da vitória poderá ditar o humor do
eleitor nos próximos meses.
As regras das eleições são muito ruins,
principalmente em se tratando de eleições proporcionais, aonde o menos votado
entra em detrimento de outros com mais votos e a reeleição é gestada pela
máquina governista. O que sabemos é que a falta de planejamento dos governantes
faz com que qualquer governo acima de quatro anos no poder se torne corrupto e
cansativo. A falta de expectativa e de gente realmente nova na política é outro
fator desanimador; é sempre muito do mesmo e isso vem cansando o eleitorado. Tornam-se
insuportáveis os discursos sobre educação, saúde, segurança, bolsa tudo,
geração de emprego...
Precisamos de falas novas para velhos problemas
que, apesar de velhos no discurso, nunca foram resolvidos. Que a Copa não sirva
de desculpa para cegar e empobrecer o debate político. Precisamos retomar o
crescimento, diminuir impostos, mudar o pacto federativo e reencontrar o
caminho da democracia, tão abalada nos últimos anos com o aparelhamento do
Estado. Os três poderes precisam ser independentes de verdade. Que o jogo da
política não comece como a seleção brasileira na Copa, fazendo de cara um gol
contra e depois sendo ajudada pelo juiz.
JOÃO EDISOM DE SOUZA é analista político e
professor universitário em Mato Grosso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário