sexta-feira, 27 de junho de 2014

ARTIGO

Em tempos de Copa e política
 Que o jogo eleitoral não comece como a seleção: com gol contra

Por: João Edsom



Em tempos de jogos de Copa do Mundo a repercussão das partidas de futebol toma conta dos noticiários e a política sorrateiramente continua traçando seus caminhos um pouco mais longe dos holofotes, mas segue costurando um pouco aqui outro ali; um olho no campo e outro nas negociações.
Até o último dia de junho teremos terminado as convenções partidárias para escolha dos candidatos ao pleito de 2014. A Copa do Mundo estará recém entrando na sua segunda fase de jogos mata-mata, termo que pode ser também aplicado à política, pois candidatos também serão fritados enquanto outros receberão atenção redobrada.
Uma eleição começa ser vencida nos bastidores, nos acordos, nas coligações, nas convenções. Quando julho chegar o jogo é para valer, não apenas na copa do mundo que caminhará para sua reta final, mas também para o jogo da politica. Candidatos a postos, começa a corrida eleitoral. "ue o jogo da política não comece como a seleção brasileira na Copa, fazendo de cara um gol contra e depois sendo ajudada pelo juiz"
O quanto o resultado da Copa irá influenciar a campanha eleitoral somente o tempo poderá dizer. Mas algo é certo: os governistas, tanto federal quanto dos estados onde ocorrem os jogos, estarão torcendo como nunca para o sucesso não só da seleção brasileira, mas do evento em si.
As manifestações tão prometidas para este período ainda não tomaram corpo. Grande responsabilidade dos chamados black blocs, que espantaram o povo das ruas e jogaram para dentro de suas casas as famílias. Este movimento foi um atentado a aprendizagem democrática, pois aniquilou o cidadão de bem que quer mudança sem destruição.
A mal fadada abertura dos jogos, fiasco mundial, só serviu para vitimar a ré num ato covarde de xingamento, que deixa transparecer muito mais a falta de compostura e educação de um povo do que um protesto em si, terminou por agredir a presidente do país, quando poderíamos usar o momento para protestar, vaiar ou reivindicar.
Mas esta descompostura não é inédita: em 2001, o então candidato Lula também fez algo parecido com o presidente da República da época, tanto que pediu desculpas em seguida pelo xingamento. Pesquisas daqui para frente viram jogo de interesse. Como as regras e o caráter não são claros, vai depender de quem contratar o instituto para coletar e processar os dados, pois tudo será motivo de ganho ou perda de espaço junto ao eleitorado. Quando os jogos terminarem virão o alívio e as frustrações. Só não sabemos ainda para quem.
Nelson Rodrigues, “o mestre das crônicas imortais” que escreveu “a pátria de chuteiras”, se vivo fosse hoje, diria que a pátria usa tênis, pois apesar dos jogos serem aqui, parece não convencer mais com a mesma ênfase de décadas anteriores. Fruto de uma melhor escolarização, quem sabe. Hoje já há muitos que separam o ato de torcer das coisas da política. Mas inegavelmente a ira da derrota ou o prazer da vitória poderá ditar o humor do eleitor nos próximos meses.
As regras das eleições são muito ruins, principalmente em se tratando de eleições proporcionais, aonde o menos votado entra em detrimento de outros com mais votos e a reeleição é gestada pela máquina governista. O que sabemos é que a falta de planejamento dos governantes faz com que qualquer governo acima de quatro anos no poder se torne corrupto e cansativo. A falta de expectativa e de gente realmente nova na política é outro fator desanimador; é sempre muito do mesmo e isso vem cansando o eleitorado. Tornam-se insuportáveis os discursos sobre educação, saúde, segurança, bolsa tudo, geração de emprego...
Precisamos de falas novas para velhos problemas que, apesar de velhos no discurso, nunca foram resolvidos. Que a Copa não sirva de desculpa para cegar e empobrecer o debate político. Precisamos retomar o crescimento, diminuir impostos, mudar o pacto federativo e reencontrar o caminho da democracia, tão abalada nos últimos anos com o aparelhamento do Estado. Os três poderes precisam ser independentes de verdade. Que o jogo da política não comece como a seleção brasileira na Copa, fazendo de cara um gol contra e depois sendo ajudada pelo juiz.
JOÃO EDISOM DE SOUZA é analista político e professor universitário em Mato Grosso.


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