Ainda nos resta
Carmem Lúcia
"Na história recente da nossa pátria, houve
um momento em que a maioria de nós, brasileiros, acreditou no mote segundo o
qual uma esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a Ação Penal
470 e descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. Agora parece se
constatar que o escárnio venceu o cinismo. O crime não vencerá a Justiça. Aviso
aos navegantes dessas águas turvas de corrupção e das iniquidades: criminosos
não passarão a navalha da desfaçatez e da confusão entre imunidade, impunidade
e corrupção. Não passarão sobre os juízes e as juízas do Brasil. Não passarão
sobre novas esperanças do povo brasileiro, porque a decepção não pode estancar
a vontade de acertar no espaço público. Não passarão sobre a Constituição do
Brasil”, disse a ministra Carmem Lúcia (STF).
Eu
não poderia estabelecer nosso diálogo semanal sem o pensamento ministerial de
uma mulher da envergadura moral da ministra Carmem Lúcia. Mas é importante
registrar, excelentíssima ministra, o povo pensa tal qual a senhora. E quando o
cidadão expressa sua indignação o faz sem a linguagem rebuscada usual na sua
profissão.
A
esperança do povo brasileiro é realmente nas migalhas de honestidade, no
restinho de republicanismo que vemos aqui acolá surgir, como esse recado
conclusivo ao crime organizado que a senhora dá, seja ele de que colarinho for.
Porque, branco não é. O branco suscita candura, pureza, e imaculação, e isso é
tudo o que esses canalhas não são. Puros, imaculados e cândidos.
Mas
é nas adversidades que as coisas boas brotam. Assisti uma parte da entrevista
do ex-ministro Ciro Gomes onde analisa o comportamento da presidente Dilma. Ele
assegura que meteu não só a mão, mas o corpo todo no fogo em penhorar sua
palavra de que a Presidente é séria. “Ela é séria!”. Disparou Ciro Gomes. E
estabeleceu a diferença entre ela, Dilma e ele, Lula, é que Dilma tem uma
postura austera e firme e Lula tem uma postura concessiva. “A moral do Lula é frouxa, a dela não é”.
E Ciro foi além, na análise: “Ele, Lula é
afeito ao jeitinho. Adere o Luiz Inácio Lula da Silva, a “Lei de Gerson”.
Ciro, com sua verve de Cearense cabra macho, até propõe que a saída da
presidente era optar pela instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito-CPI.
Mas ele, Ciro Gomes, deixou nas entrelinhas que muita gente não iria querer
essa saída. E só, somente só a renúncia.
A
fala da ministra vem de encontro às conversas telefônicas gravadas pelo filho
do diretor da área internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró, o ator Bernardo
Cerveró. A forma natural como o senador petista envolve nomes de ministros da
mais alta corte do País coloca em cheque a credibilidade do Supremo Tribunal
Federal. Dura foi a resposta da ministra. Diria a altura da postura cínica de
Delcídio do Amaral.
Mas
a prisão do senador do PT mato-grossense revelou o que todos nós sabemos,
mas não temos prova. Mas, quando as provas vêm a lume aí nos dá a certeza de
que a vontade da Dilma é superada pela vontade de Lula. A troca de favores
corre solta nos bastidores do poder. Podres poderes. Nós brasileiros temos que
nos virar em tralhotos, aquele peixe que têm quatro olhos, pois não podemos
piscar que esses biltres mostram suas garras e pior, sua imensa cara de
pau. Se não for assim, o que dizer dos dirigentes da Samarco, empresa que
presta serviço a Vale e BHP Billiton que simplesmente multada pelo IBAMA em R$ 250
milhões sumiu com o dinheiro da conta. Esses ‘fdp’ parecem não se importar com
as pessoas, com o meio ambiente e só e tão somente com a ganância capitalista.
Mas
o olho tem que realmente dar giro de 360 graus. E quando a gente está olhando o
panorama nacional, onde o presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha,
insiste numa mentira, o senador Delcídio negociando silêncio, Romário fazendo
acordo espúrio para encobrir sua corrupção, aqui a Ferreira Gomes Energia não
reconhece o crime e como a Samarco tem a cara de pau que criar um corolário de
desculpas para os crimes ambientais que comete. Será que não está rolando nos
bastidores os acordos do Delcídio, do Romário e alguém está levando vantagem
enquanto os nossos ribeirinhos veem atônitos uma das suas fontes de alimentação
agonizar; leia-se Araguari. Porra, quanto custa esse progresso para nós? Será
mesmo que essas empresas vêm para cá nos espoliar e nos relegar a plano
secundário. Pois até hoje nenhuma ação concreta foi tomada contra essa empresa
que contumazmente vem cometendo crimes ambientais no Amapá.
A
saída me parece que está estabelecida, porém executada de forma atabalhoada. A
democracia é o povo no poder e o povo pode estar no poder desde que se
organize. E a história é pródiga, as mudanças promovidas nesse País só
ocorreram pelos movimentos populares. Quando o povo vai pras ruas e
verdadeiramente protesta e exige mudanças, elas acontecem. Tá na hora!
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