sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

ARTIGO DO TOSTES

Desenho institucional do Amapá em Macapá através de 258 anos
Autor: José Alberto Tostes

No dia, 04 de fevereiro, de 2016 a cidade de Macapá irá completar 258 anos de fundação. Nesse trajeto, explicar o desenho institucional da cidade se confunde com a própria concepção idealizada para o Amapá, seja enquanto área pertencente ao Pará, na condição de Território Federal ou na condição de estado da federação.
O desenho institucional no estado do Amapá ocorreu com o processo que constituiu o espaço amapaense. A definição de ações estratégicas e o processo de construção local.O desafio de pesquisar o desenho institucional no estado do Amapá, dentro de um cenário regional, auxilia a entender o dinamismo do ponto de vista interno e os fatores atrelados ao desempenho da região ao longo de décadas.  Isso possibilitou  novas leituras da trajetória histórica sobre o Amapá e de sua capital Macapá,  pensar a relação a partir do desempenho econômico, social, político, ambiental e institucional.
O desenho institucional do Amapá foi formado por inúmeros acontecimentos e fatos, que se originaram tanto no novo paradigma ambiental como na capacidade das relações sociais. Esse quadro foi possível em virtude da vertente socioambiental, apresentada na Constituição Federal de 1988. A reflexão histórica nos permite entender a formação das instituições que influenciaram no comportamento de diversos agentes sociais. No centro deste estado latente, os conflitos sobre a perspectiva de uso dos recursos naturais.
                    O desenhohistórico institucionalteve três momentos distintos: a criação do Território Federal do Amapá; a implantação dos grandes projetos e a criação do estado do Amapá, momentos decisivos e influentes em inúmeros fatores que provocaram profundas mudanças institucionais. A constituição das organizações e principalmente as implicações decorrentes do processo de efetivação de políticas públicas, dentre um conjunto de ações idealizadas através de planos, programas e projetos geradores de impactos significativos na conjuntura estadual e com reflexos diretos na capital, Macapá. Nessa análise as ações institucionais alteraram e modificaram as questões espaciais no Amapá e consequentemente na cidade de Macapá.
O desenhoinstitucional do Amapá é marcado por várias etapas como o processo de formação da Vila de Macapá com a posterior construção da Fortaleza de São José de Macapá para fins de defesa estratégica do território; a espacialidade amapaense com as questões da conquista sobre a região do Contestado,resolvida em 1900, na Suíça; a criação do Território do Amapá; a instalação dos projetos minerais e agro florestais; a criação do estado do Amapá e as consequências do processo de implantação; a demarcação das terras indígenas; a formação do mosaico de áreas protegidas, a criação de novos municípios e as implicações para as áreas rurais e urbanas.
Evidências do desenho institucional do Amapá são elucidadas por Porto (2003) quando elabora um conjunto de quadros que mostram a trajetória de desenvolvimento de ocupação do território amapaense, deixando clara a presença expressiva do Estado brasileiro na formatação e na caracterização desta região. O Amapá esteve sob a tutela do estado do Pará até a criação do Território em 1943, resultou em uma fase secundária de pouco desenvolvimento; a fase de maior evidência ocorre justamente com a criação do Território Federal do Amapá e um terceiro momento com a efetivação do Estado com o advento da Constituição de 1988.
As três fases que demarcam esse desenho institucional do Amapá são fortemente influenciadas pelo governo brasileiro e sua formatação das políticas regionais concebidas para região amazônica, portanto os diversos projetos, planos, programas e criações de diversas instituições públicas entre os anos 70 e 80 dão conta do propósito induzido pelo governo central. É marcante que na segunda fase, com a criação do Território Federal do Amapá, houve o impulso necessário para tirar o Amapá de um quadro desfavorável em relação à perspectiva de desenvolvimento, onde as poucas edificações existentes na capital retratavam o hiato institucional de mais de um século e meio, tendo este vazio institucional o inicio de seu preenchimento segundo novas dinâmicas a partir da década de 1940.
A visão estratégica lusitana acerca da importância da defesa e ocupação das colônias pode ser uma das razões que explicam ofato daAmérica portuguesa haver semantido unificada, enquanto a América espanhola ter sido repartida. A região do Amapá era pouco povoada, muito distante dos principais centros da Colônia e de difícil acesso. Do ponto de vista econômico, havia sido identificada como localidade de ocorrência de “drogas do sertão” e do ouro, mas sua principal importância era mesmo geopolítica, por ser região fronteiriça e uma das portas de entrada do rio Amazonas.
À Fortaleza de São Joséde Macapá, um dos maiores símbolos da presença militar portuguesa na Amazônia, não é assegurado, nos inúmeros registros históricos, que tenha sido disparado um único tiro de canhão de suas muralhas, pelo menos pelo rio Amazonas. Historicamente a edificação foi usada como prisão de escravos fugitivos nopassado distante e, mais recentemente durante a Ditadura Militar, como cárcere de dissidentes do regime. A obra, imponente inclusive para os padrões atuais, éuma das evidências mais marcantes da presença do estado no Amapá, no caso o governo da metrópole portuguesa, que a construiu com objetivos militares e geopolíticos. A ação do Estado direcionava-se para garantir a posse e assegurar aexploração econômica da região.
             Segundo Vidal (2010) o espaço amapaense foi desenhado à insólita historia da travessia de uma cidade da África para a Amazônia. A localidade de Mazagão africana, na antiga Mauritânia, onde hoje é território marroquino, foi uma das mais importantes feitorias de Portugal no litoral africano, instalada ainda no século XV e usada para o comércio de especiarias com as índias. Como os demais entrepostos portugueses na África, Mazagão também teve que enfrentar duras batalhas contra os mouros para manter domínio luso, mas quesó tornou-se insustentável a partir de1769, quando os portugueses admitiram a perda para os muçulmanos.

              O desenho institucional do Amapá retrata fielmente o que é Macapá, uma cidade estado. Os vínculos históricos, sociais, culturais e econômicos formaram esse lugar. As simbologias que se apresentam configuram a paisagem da cidade. O desenho institucional do Amapá é fiel ao que é Macapá. Para entender tal contexto, é preciso perceber que o desenho institucional começou com os propósitos de criação da Vila de Macapá. 258 anos, então, são marcados por constantes idas e vindas de um processo que construiu a paisagem local a partir da forte influência e dos interesses dos Estados português e brasileiro.

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