domingo, 19 de fevereiro de 2017

ARTIGO BESALIEL

A origem da corrupção eleitoral no Brasil
                Em nível de Brasil, o desenvolvimento do processo eleitoral deu-se de forma lenta. Infelizmente, o famigerado abuso do poder econômico também foi lentamente invadindo e sua repreensão tornou-se extremamente necessária.
                Um exemplo interessante a ser citado, é o constante no título LXVII, das Ordenações Filipinas, uma das primeiras normas jurídicas a viger em terras brasileiras. Estas Ordenações, que funcionaram no período de 1603 a 1828, continham o que podemos dizer, as primeiras orientações legais eleitorais das histórias do Brasil. Dizia, em certo trecho, que “Quando se fizerem as eleições, não estarão presentes os alcaides-mores e pessoas poderosas, nem senhores de terras e seus ouvidores ...”. A preocupação com a interferência dos donos do poder econômico no processo eleitoral já estava aqui presente. (Nelson Jobim e Walter Costa Porto, Legislação eleitoral no Brasil, do século XVI a nossos dias, vol. 1, Brasília: Senado Federal, 1996, p. 14).
            A primeira eleição realizada no Brasil foi em 23 de janeiro de 1532. Ocorreu em São Vicente - São Paulo, que foi a primeira vila do Brasil. (Heródoto Barbeiro e Bruna Renata Cantele, Ensaio geral: 500 anos de Brasil, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1999, p. 36).
            Desde essa época, o poder econômico instituiu-se como poder paralelo dentro da sociedade de modo ter ingerência na vida política brasileira.
            Na realidade, desde o início da colonização portuguesa, o poder político no Brasil foi entregue aos possuidores do poder econômico. Uma prova disso é que o poder político sucedeu-se nas mãos dos economicamente poderosos: primeiro dos donatários das Capitanias; depois dos governadores gerais, amigos particulares do rei; depois dos senhores de engenho; dos fazendeiros; dos latifundiários; dos cafeicultores; dos coronéis; dos industriais; etc. A dependência econômica da sociedade brasileira, é fruto de um longo processo social e histórico.
            Houve período da história nacional que o poder econômico atuou tão fortemente na esfera eleitoral que determinava até quem tinha ou não direito de votar. Em 1860, o Brasil tinha oito milhões de pessoas. Oitenta mil, apenas 1%, tinha direito a votar. O fator econômico excluía os demais. (Brasil 500 anos, Mara Ziravello (Red.), São Paulo: Editora Abril/Nova Cultural, 1999, vol. 1, p. 424).
            Com o decorrer do tempo, a oligarquia econômica transformou-se na principal inimiga da democracia brasileira. A necessidade de controlar, por meios legais, os excessos das ações desta oligarquia, se fazia premente.
                No presente século, em nosso país pelo menos, o controle das bases econômicas do poder manifestou-se em dois importantes momentos.
            Primeiramente, concentrou-se nas forças rurais e agrárias. Tivemos neste período a predominância dos grandes agricultores e criadores de gado. Estes influenciavam diretamente no funcionamento dos partidos políticos e determinavam quem seria içado ao poder. Eram os partidos, nesta época, estaduais e instrumentos de oligarquias regionais.
                Como enfatizaram George Soule, David Efron e Norman T. Ness, “a monopolização da terra tem sido e ainda é fonte e técnica do poder político na América Latina” (A América Latina no mundo futuro, New York, 1945, p. 63 apud Pinto Ferreira, Comentários à lei orgânica dos partidos políticos, São Paulo: Saraiva, 1992, p. 18), colocação totalmente aplicável ao Brasil de então.
            Vieram as duas Guerras Mundiais que mudaram a história da humanidade. Após à Segunda Guerra Mundial, as nações passaram por profundo processo de industrialização, do qual a América Latina e o nosso País tiraram enormes proveitos.
                O Brasil, predominantemente agrário e rural, industrializa-se de forma rápida. Os partidos adquirem caráter nacional, dificultando a influência pessoal de alguns líderes nos mesmos. Reside aqui a instalação de uma nova base econômica do poder, que traz consigo suas respectivas artimanhas de controle político e partidário.
                Agora, não teremos mais grandes cafeicultores e fazendeiros manipulando o funcionamento dos Partidos e o agir dos políticos como em tempos atrás. Os donos de capitais financeiros irão ocupar este espaço.
            Os mecanismos de manipulação política e partidária mudaram. Não serão mais elementos policialescos, coercitivos e controladores; o dinheiro entra em evidência nesta seara e substitui, com eficiência, os antigos meios de interferência nos processos políticos e eleitorais do País, tornando-se uma das maiores falhas do sistema eleitoral vigente (Sérgio Sérvulo da Cunha, O que é voto distrital, Porto Alegre: SAFE, 1991, p. 23). Até a próxima oportunidade.



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