A
força das cooperativas
no
desenvolvimento socioeconômico do Amapá
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Cooperativas de agricultores familiares |
A cooperativa do Bailique repassa para cooperativas de Macapá
que processa o caroço para a polpa do açaí e vende para mercados
internacionais, especialmente para a Europa.
Reinaldo Coelho
Colaboração de Mirrelle Rabello
O
cooperativismo é um modelo socioeconômico fundamentado na participação democrática
e na autonomia dos que se unem de forma voluntária em prol de um objetivo
econômico e social comum. A meta do cooperativismo é atender às necessidades do
grupo e garantir o bem-estar de cada integrante.
O
movimento cooperativista no Brasil reúne cerca de 44 milhões de brasileiros,
incluindo cooperados, familiares e funcionários, merece ser reconhecido como
uma ferramenta de desenvolvimento socioeconômico no País.
Cooperativismo no Amapá
O
desenvolvimento econômico e social do Amapá está sendo cultivado com raízes
solidamente plantadas em um território fértil para que o crescimento se faça
com rapidez de retorno seguro. Uma das ferramentas é a união de produtores e
empresários dos setores agrícola, pecuários, piscicultura e de grãos em cooperativas
ou associações para que a arrancada seja forte e legal.
O estado
do Amapá possui mais de um milhão e setecentos e oitenta mil hectares para
plantação sem comprometer o meio ambiente, ou seja, ainda temos um estado
virgem na área da agricultura e do agronegócio. E se desse milhão de hectares
fossem destinados apenas 200 mil hectares para a plantação de soja, o governo
do Amapá já aumentaria seu orçamento em R$ 5 bilhões em 2017.
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Inauguração de terminal portuário de grãos no estado também deve reduzir em 20% o valor do frete para produtores de Mato Grosso |
Recentemente,
o Amapá sediou o XIV Congresso Brasileiro do Cooperativismo com a participação
do presidente do Sistema OCB Nacional, Márcio Lopes; e dos representantes das
OCB’s do Tocantins, Rondônia, Pará, Amazonas, Roraima, Acre e Amapá que é
anfitrião do evento, para discutir o papel atual do cooperativismo no Brasil.
As
Unidades Estaduais do Sistema OCB são peças-chave nesse processo, com a
mobilização nacional, construção coletiva e representatividade. E o Amapá tem
se destacado com a participação de suas cooperativas nos agronegócios e
empreendimentos no crescimento da economia local.
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Deputado Estadual Max da AABB participa da Frente Parlamentar de Cooperativismo |
O
deputado estadual Max da AABB (SD) e membro da Frente Parlamentar em Defesa do
Empreendedorismo, Cooperativismo e Economia Solidária da Assembleia Legislativa
do Amapá e que participou do encontro. Em entrevista à reportagem explicou que “o
orçamento anual do governo é de pouco mais de R$ 4 bilhões. Se fosse investido
mais em agronegócio poderia dobrar esse valor, sem contar os empregos que
seriam gerados”.
Ela
ressaltou que um dos impasses para que isso seja atingido ainda é a legalização
das terras. “Esse processo teve início no
ano passado, mais ainda é lento. A Assembleia Legislativa precisa correr e dar
esse apoio ao governo na confecção das leis que orientam essa utilização da
terra. Nosso Estado tem que largar essa dependência de contra cheque. Como se
diz, ‘o governo não gera riqueza, quem gera riqueza e o povo’”.
Logística
e infraestrutura
Clima,
oferta e demanda, oscilações de mercado. A maioria desses fatores que
influenciam na renda do produtor e no preço das commodities agrícolas não podem
ser controlada por política agrícola e investimentos dos agricultores.
Já quando
se fala em logística e infraestrutura de transportes e armazenagem, a situação
é diferente. Se há algo que pesa nos custos de produção e impede o agronegócio brasileiro
de ser ainda mais competitivo, são os problemas enfrentados por quem produz na
hora de escoar a safra.
E o Amapá
sofre com o mesmo problema. São anos sem planejamento de recuperação das
estradas e rodovias do Estado, o que poderia melhorar o escoamento da produção e
baratear a exportação, competindo assim com as outras unidades produtoras. A
atual administração vem superando as crises e investindo no corredor de
escoamento do agronegócio, construindo pontes, ampliando rodovias e vicinais
nos municípios que produzem ou são terminais de logística.
O porto
de Santana também está incluído nesse processo de infraestrutura. “Em outros estados como Mato Grosso, por
exemplo, a soja roda mais de 2 mil quilômetros para chegar até o porto de
embarque, aqui são apenas 70 quilômetros”, explica o deputado Max da AABB.
Um outro
detalhe de suma importância para a valorização da produção de grãos do Amapá,
principalmente da Soja, é a certificação do produto amapaense, pois para seu
cultivo não é destruído nossa floresta e conservamos o bioma da Amazônia.
“A nossa soja pode ser certificada e ter um
preço mais alto no mercado, porque não devastamos o meio ambiente. Nossos “biomas”
estarão todos preservados e a economia do Amapá cada vez mais pujante. Porém, é
preciso que a nossa classe política trabalhe nas leis ambientais focadas na
preservação e sustentabilidade. O Amapá inteiro ganha, imagine que após a
instalação da fábrica de ração no Estado teremos muitas oportunidades de
negócios criadas pelas cooperativas como a piscicultura, suinocultura e
frigoríficos”.
Produção certificada
Essa
certificação e sua importância para os produtores cooperados já garantiu
melhoria nas atividades da cooperativa dos Produtores Agroextrativista do
Bailique, AmazonBai, filiada à Organização das Cooperativas do Amapá (OCB), que
recebeu, recentemente, do Conselho de Manejo Florestal (FSC – Forest
StewardshipCouncil), o certificado de manejo da floresta que incentiva à
regularização fundiária, garante o manejo florestal e incentiva a segurança do
trabalhador, com uso de proteção individual.
O selo
foi concedido porque o açaí do Bailique corresponde às características exigidas
pelo Conselho de Manejo Florestal, atendendo aos padrões do FSC, com benefícios
sociais e viabilidade econômica. Este é o selo mais conhecido do mundo no
segmento.
A
certificação do açaí por um conselho mundial torna o produto mais valorizado e
incentiva os extrativistas do açaí a entrarem no mercado de exportação.
Expansão
cooperativista
No Amapá
existem 90 cooperativas ativas, e mais de 100 que aguardam e buscam orientações
para serem legalizadas, juntas somam mais de seis mil cooperados e geram mais
de quatrocentos empregos diretos. O Estado possui potencial florestal e
experiência para vender produtos com qualidade e competição no mercado com
modelos orgânicos e com selo comercial para competir com o mercado nacional.
Aprosoja Amapá
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Diretoria da Aprosoja-Amapá |
Atualmente,
existem 200 produtores de soja em atividades no estado e deverão ser cultivados
15.000 hectares de soja, além de outras culturas como arroz, milho e feijão
caupi. Dados da Embrapa Amapá dão conta de que o Estado conta com
aproximadamente 1 milhão de hectares de cerrado, dos quais cerca de 400.000 são
aptos para agricultura.
Fundada em
2015, nos moldes dos outros Estados, a Associação dos Produtores de Soja do
Amapá (Aprosoja-AP) vem atuando nas áreas socioambiental, relações públicas,
orientação técnica, apoiando à pesquisa e o desenvolvimento de mercados.
Segundo o
presidente da entidade, Daniel Sebben, é grande a importância da associação
para alavancar o crescimento da produção de Soja. “Uma vez institucionalmente organizados através da Aprosoja, os
produtores podem cobrar, fiscalizar e influenciar políticas públicas voltadas
para o setor, como nos casos do licenciamento ambiental e da regularização
fundiária, que atualmente é o maior entrave para a produção e maior prioridade
da associação”, afirma Sebben.
O Estado
do Amapá planta atualmente 14 mil hectares com soja e colhe 38 mil toneladas. Mas
essa realidade está prestes a mudar. Com a inauguração de um terminal de grãos
no porto de Santana, localizado no sudeste do Estado, a região deve atrair
investidores interessados em abrir outros 400 mil hectares para a semeadura da
oleaginosa na região.
Ao todo
foram embarcadas em setembro de 2016, vinte e cinco mil toneladas do cereal,
produzidos no Estado, montante que representa quase 66% de toda a produção do
Amapá da safra 2016/2017, colhida em setembro. “Isso é um marco histórico”,
comemorou Daniel Sebben. “Esse terminal graneleiro representa um divisor de
águas na agricultura do Estado”, continuou.
Além da
Aprosoja que está colhendo o sucesso com a união dos produtores, hoje, o Amapá
já conta com uma cooperativa que está importando cacau, outras que já estão
exportando açaí com manejo sustentável e castanha do Brasil. Algumas
cooperativas conseguem destaques significativos na produção, principalmente no
setor pesqueiro, e somam altos valores e tem impacto importante na economia do
estado.
Desde
1988, segundo a Organização das Cooperativas do Amapá (OCB-AP), o faturamento
tem melhorado. Só com o pescado, a produção chega a mais de 5 mil toneladas
ano. Com o camarão, a produtividade é de 850 toneladas ao ano. Juntas, elas
somam mais de R$ 60 milhões.
No Amapá,
as cooperativas têm avanços significativos. No setor primário, considerado
ainda o mais baixo, o impacto é de quase 3,2% sobre toda a produção agrícola.
No setor secundário, os números são melhores, 10%. Mas é no setor terciário que
está a melhor participação das cooperativas. Juntas, elas representam 86,8% do
PIB do Amapá.
Gerações
de agricultores, como os da Colônia do Matapi, em Porto Grande, no norte oeste
do Estado, apostam na força do cooperativismo. A sucessão rural com base no
cooperativismo está dando certo. Só em 2014, com uma produção de 50 toneladas
entre polpas, verduras e frutas, os cooperados obtiveram uma renda de R$ 300
mil.
Mas
apesar dos êxitos, o sistema de cooperativismo também enfrente obstáculos. Os 72,03%
de áreas protegidas divididas entre unidades de preservação e conservação. Do
total, 11,4% estão sob o domínio do Estado e apenas 1,15% das terras destinadas
para as atividades econômicas.
Para
população que habita nesta região, a cooperativa se apresenta como o modelo
ideal para empreender, gerar negócios e acessar o mercado institucional dos
programas de incentivo a produção no campo.
O esforço
dos agricultores, pecuaristas, pescadores artesanais entre outros trabalhadores
que produzem nestas áreas para abastecer o estado com alimentos e produtos para
ter um tratamento diferenciado, sem esquecer as limitações dos empreendimentos
por conta dos desafios que existem na região amazônica, como estradas, ramais e
energia.
Box 1
Apoio do Estado e os incentivos da ZFV
A
AmazonBai e outras 11 cooperativas fazem parte do consórcio de produção de
alimentos que é gerenciado pela OCB. A organização atua em três cadeias
produtivas: açaí (seis cooperativas), pescado (três cooperativas) e castanha do
brasil (três cooperativas).
Recentemente,
os representantes da OCB solicitaram o apoio e incentivo do governo do Estado
para se instalar no Distrito Industrial de Santana. Os cooperados já receberam
orientação da Agência de Desenvolvimento Econômico do Amapá (Agência Amapá),
quanto à documentação e incentivos fiscais da Zona Franca Verde.
As
cooperativas também aguardam a liberação de um financiamento do Fundo de
Desenvolvimento Rural do Amapá (Frap), para que possam modernizar e expandir a
produção de alimentos no Estado do Amapá.
“A
Agência tem cumprido com o seu papel de buscar o investidor, seja ele grande,
médio ou pequeno. Queremos dar oportunidade a todos e, claro, percebendo que o
nosso investidor tem grandes potenciais como é o caso desses cooperados, nós
temos o maior orgulho de incentivá-los”, destacou o diretor-presidente da
Agência Amapá, Eliezir Viterbino.