segunda-feira, 2 de julho de 2012

Editorial: A volta do anzol


"A volta do anzol" é uma expressão popular para demonstrar que uma maldade feita contra alguém terá volta. É assim que está o Brasil de hoje, devolvendo com juro e correção monetária a maldade de ontem. 

Nos finalmente da década de 50 e início dos anos 60, o mundo "capitalista" foi tomado de surpresa com o triunfo da Revolução Cubana em pleno domínio "Yanque." A partir daí, os sinais vermelhos foram ligados nas Américas, e uma ação veloz dos americanos do Norte e dos capitalistas europeus do ocidente foi deflagrada para que o modelo comunista implantado em Cuba não avançasse nos demais países da América do Sul. 

A estratégia usada foi uma massiva propaganda contra Fidel Castro e os comunistas "gelados". A ação letal foram os golpes militares sucessivos engendrados e implementados com auxílio dos americanos do Norte. O Brasil experimentou a sua em 1964.

O regime militar assumira o comando do País: Congresso Nacional foi fechado, imprensa censurada e a liberdade de expressão foram mandadas "pras cuscuias". Quem não foi morto pelo regime e ousou enfrenta-lo, foi colocado para fora do País na base das coturnadas.

Foram longos anos de exílio e de sofrimento, famílias separadas pelo arbítrio... Mas tudo passa. Chico Buarque de Holanda cantou uma música no início dos anos 70, que retratava com exatidão o endurecimento do regime militar, quando o presidente Emílio Garrastazu Médici editou o Ato Institucional Número 5 (AI-5), que acabou por completo com a liberdade de expressão. A letra da música "Apesar de você" antecipa o que ocorre hoje no Brasil: "Quando chegar o momento, esse meu sofrimento, vou cobrar com juros. Juro! Você vai pagar dobrado, cada lágrima rolada, nesse meu penar. E eu vou morrer de rir, e esse dia há de vir antes do que você pensa. Apesar de Você. Você vai se dar mal, etc e tal, la laiá, la laiá, la lai...".

Em 1979, o Brasil, sob o comando do João Baptista de Figueiredo, iniciou o processo de reabertura política e os exilados voltaram ao país. Em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva chegara à presidência do Brasil e começara a volta do anzol. Quem imaginou que os que pugnaram pela democracia ampla e irrestrita iam implantar uma ditadura civil? Os fatos que sucederam e se sucedem no Brasil pós Lula está retratada na letra da música de Chico. O Brasil, que é um Estado Democrático de Direito, deixou de ser democrático, meus amigos, pois, nesse governo, democracia é quando eles mandam. De direito, no sentido do legal, do moral, do razoável, do equânime e do justo foi pro exílio. Foi expulso do Brasil não com coturnadas, mas com falácias e muitos discursos retóricos.

Hoje, a justiça brasileira e a polícia estão a serviço de quem manda. O verso "Hoje você é quem manda, mandou tá falado" encaixa-se como uma luva. O que a justiça faz arrepia os que juravam na cruz pela deusa da justiça, Themis - que usava vendas nos olhos para não fazer diferença entre os que dela precisava. No Brasil de hoje, a venda é não mostrar o rubor de suas faces e o sorriso amarelo nos olhos pelo que faz.

Os militares que oprimiram, morreram ou assistem a "volta do anzol" de pijama, e nós, que também lutamos por democracia no sentido amplo do termo, mas não alinhamos com os que comandam o Brasil, estamos pagando o preço do arbítrio e da ditadura dos barbudos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ARTIGO DO GATO - Amapá no protagonismo

 Amapá no protagonismo Por Roberto Gato  Desde sua criação em 1988, o Amapá nunca esteve tão bem colocado no cenário político nacional. Arri...