sexta-feira, 22 de agosto de 2014

saude em foco





        POUCA ÊNFASE ÀS PLANTAS MEDICINAIS NO XVII CONGRESSO MÉDICO AMAZÔNICO
          Já faz alguns anos que ocorre o Congresso Médico Amazônico, evento científico  no campo da ciência, da saúde e da Medicina, que se repete desde 1939. Com o tema “ A Evolução da Saúde na Amazônia: 100 anos de História  de Camillo Salgado a Camillo Vianna”,  ocorreu em Belém, de 14 a 17.08.14, o  XVII Congresso  Médico Amazônico. Os temas foram os mais diversos: as pesquisas científicas de doenças tropicais, epidemiologia das doenças e agravos, impactos na saúde e no meio ambiente dos grandes projetos amazônicos e atuação dos institutos de pesquisa, como Evandro Chagas, assim como temas livres e dissertações de alunos das instituições de ensino universitário (CESUPA, UNAMA, UEPA e UFPa).
        O destaque do evento, que participei, foi a comemoração dos 100 anos  da Sociedade Médico Cirúrgica do Pará(SMCP), homenageando os renomados ex-presidentes Camillo Salgado e Camillo Viana. Este último foi meu professor e orientador de estagio nos chamados “porões” da Santa Casa de Misericórdia do Pará. Foi meu orientador do TCC de graduação em Medicina, quem me incentivou a gostar  dos temas da ecologia, em particular as plantas medicinais. A ele dediquei homenagem na minha tese de Pós-Graduação em Plantas Medicinais, em 2006. É meu grande ídolo  defensor e conservacionista  da Amazônia, mais do que Chico Mendes. Neste XVII encontro entreguei ao Mestre Camillo um esboço de meu futuro livro sobre plantas medicinais, a ser lançado em 2015.
         Apesar dos temas serem atuais e relevantes, causou-me estranheza a homenagem à Camillo Vianna, ícone da ecologia e defensor das florestas e da fauna, e ser dado pouco destaque a um dos temas estudados por ele: as plantas medicinais da Amazônia. Dos 1000 artigos científicos, apenas 0,9 % falaram do tema. Não houve nenhuma palestra, conferencia e nem mesa redonda sobre o assunto.  Ouvi comentários apenas numa palestra de Pediatria na atenção primária em saúde, onde a palestrante em vez de dizer Fitoterapia (tratamento com plantas) falou Homeopatia.
Os temas sobre pesquisas pré-clinicas com plantas medicinais se resumiram a 8 trabalhos, expostos em baneres, e 1 sobre a aplicação da massoterapia. Tinha mais estand sobre produtos tecnológicos das empresas patrocinadoras e nenhum dos produtos naturais retirados da floresta. Não vi nenhum trabalho realizado pelo Instituto de Pesquisa do Amapá(IEPA) e nem pela Universidade Federal do Amapá(UNIFAP).  Tivemos um trabalho do setor de Controle de Qualidade do LACEN/AP, sobre as laminas de pesquisa de malária encaminhada ao Laboratório pelos municípios amapaenses em 2012.
Entre os estudos com plantas citamos: Estudo das alterações eletroencefalográficas provocadas pelo extrato etanólico das folhas de Clibadium sp. (Cunambi), com ação ictiotóxica, usada pelas populações ribeirinhas para a captura de peixes, buscando a validação de novos fármacos anticonvulsivantes(UFPa); Alterações eletroencefalográficas   induzidas pelo extrato da raiz de Spilanthes acmella oleraceae (L.) R.K. Jansen (Jambu), também visando testes de drogas anticonvulsivantes(UFPa); Avaliação do metabolismo  oxidativo de ratos portadores  do tumor de Wlaker 256 frente à utilização  do extrato de Uncaria tomentosa (Unha-de-gato), objetivando comprovar sua ação anticancerígena(UEPA); Anonacina, uma toxina presente na graviola (Annona muricata), aumenta a fosforilação da proteína  TAU no cérebro de modelo animal de Taupatia humana, cuja utilização  pode aumentar a neurodegeneração, exigindo cautela em seu consumo(UFPa).
Levantamento de estudos sobre os efeitos  da Carapa guianensis (Andiroba), como repelente, larvicida, acaricida, antiinflamatório, analgésico e mecanismos imunológicos, cuja comprovação dos efeitos levaria a uma maior preservação do conhecimento tradicional das comunidades  e estimular a agricultura familiar(CESUPA); Efeito cicatrizante gástrico do extrato etanólico de casca de Himatanthus sucuuba (Sucuuba) em ratos, cujos resultados mostram efeitos superiores do que no grupo controle e correlação com a análise histológica(UFPa); Polpa de Crescentia cujete (Cuieira) como agente cicatrizante, com comprovação do efeito em concentrações e doses menores(UFPa). 
Com isso vemos que o avanço e a previsão de Coutinho (2001) apud LAMEIRA O.A.; PINTO,J.E.B.P.(2008), de que a “Amazônia, em 2050, será capaz de produzir US$ 500 bilhões em medicamentos e cosméticos, a partir de plantas medicinais e aromáticas”, é uma meta não difícil de alcançar, porém ainda com poucos investimentos e pesquisas na área, como ficou demonstrou no XVII Congresso Médico Amazônico.  A academia faz a sua parte, com poucas tecnologias. Os pesquisadores se esforçam para concluir seus estudos com dificuldade e poucos recursos. Porém, os gestores não estão sensibilizados e nem esclarecidos sobre as inovações e utilização racional e sustentável dos recursos da natureza na saúde publica. 
O que o Dr. Camillo Vianna ensinava nos porões da Santa Casa (Enfª São Francisco de Paula), no Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária ( CRUTAC) e na Sociedade  de Preservação  aos Recursos Naturais e Culturais da Amazônia (SOPREN) , órgãos que fundou nas décadas de 70 e 80, serve hoje não como lembrança de um passado, mas como comprovação e realidade no presente. Descreveu a Síndrome Anêmico – Parasitaria (SAP),  a potozoose e a paramarose, doenças dos seringais. Mas também ensinava e valorizava os tratamentos naturais aprendidos com os mateiros, caboclos, ervateiros, parteiras e outros curadores populares, remédios esses que chamava de “puçangas”, mostrados em trabalhos científicos escritos (VIANNA, 1982).
As novas gerações de profissionais da saúde deveriam se espelhar em cientistas visionários como o Mestre Camillo, hoje com 88 anos, que mesmo sendo professor da medicina clássica e acadêmica, enriquecia e ilustrava suas aulas e estágios de férias com fatos e conhecimentos tradicionais das populações caboclas e ribeirinhas da Amazônia. Uma sugestão para o próximo XVIII Congresso Médico Amazônico: um Encontro Paraense de Plantas Medicinais em Saúde Pública, que ainda não realizou nenhum evento desse tipo. O Amapá está na frente de todos os estados da Amazônia, já tendo realizado 4(quatro) seminários de plantas medicinais em saúde pública, sendo o último em 2007.  Esqueceu-se suas decisões e deliberações, como o Programa de Fitoterapia do Amapá(PROFITAP), que foi engavetado pelos gestores da época. Talvez tenham desprezado um dos melhores programas de saúde pública na área do Norte do Brasil. E o Mestre Camillo ainda está vivo para testemunhar a concretização de seus ideais. Mãos na terra amapaenses!! JARBAS DE ATAÍDE, Macapá-AP, 14.08.2014, 100 anos da SMCP.
  Descrição: C:\Users\Ataíde\AppData\Local\Microsoft\Windows\Temporary Internet Files\Content.Word\P16-08-14_10.57.jpg
Camillo Vianna em homenagem no XVII CMA, ladeado por ex-alunos e colegas médicos. Sobre a mesa o rascunho do livro do autor deste artigo.

 

    
    





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