PARACETAMOL:
OS RISCOS DA NÃO PRESCRIÇÃO E DA AUTOMEDICAÇÃO
Falar sobre remédios e até sobre sua
prescrição e dispensação, não se trata somente de assunto médico. É uma questão
de saúde pública e de interesse de toda a sociedade, que precisa ser esclarecida
e orientada quanto aos aspectos de sua produção, prescrição e distribuição. Estamos
numa época que outros profissionais de saúde ficaram agora mais livres a
praticarem atos que podem gerar malefícios, quando não possuem formação ou
qualificação para prescrever medicamentos, mesmo os livres de prescrição ou
previstos em programas especiais do governo federal
Em artigo anterior, escrito por mim em
18.10.2013, considerado Dia do Médico, com título “Iatrogenia: quando o remédio causa doença”, refleti os danos
materiais (uso de medicamentos, cirurgias desnecessárias, mutilações, etc.) e
psicológicos (psicoiatrogenia – o comportamento, as atitudes, a palavra)
causados ao paciente não só pelo médico, mas também por outros profissionais (enfermeiros,
psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, nutricionistas e demais
profissionais).
A iatrogenia pode ser provocada até
por outro profissional que não da saúde ou por um cidadão quando pratica automedicação.
Quando vamos a uma farmácia e compramos um medicamento livre de receituário e passamos
à alguém ou a nós mesmos, temos um grande risco de cometer iatrogenia. E esse
risco potencial é grande, pois temos medicamentos vendidos em todos os lugares,
nos supermercados, lojas e até em posto de gasolina, sem qualquer fiscalização.
Um medicamento muito comum e de venda
livre, bastante prescrito, vendido e tomado pela população, nestes tempos de
surto de Dengue e Chikungunya, é o PARACETAMOL, considerado analgésico e
antifebril. Tornou-se uma verdadeira
“febre” a venda, prescrição e automedicação desse produto nas farmácias,
ambulatórios e hospitais, embora a maioria da população e grande parte dos
profissionais da saúde ignorem os maléficos efeitos colaterais e os riscos à
saúde.
Desde a época de minha Pós-graduação em
Ciências Forenses, que enfocou o tema da toxicologia das plantas medicinais,
estudei também vários medicamentos, entre os quais o Paracetamol. Portanto,
fruto do conhecimento e informação, faz vários anos que quase não prescrevo o
medicamento, que fica restrito aos casos de alergia à dipirona. Esses efeitos
se agravam ainda mais nas doenças que afetam os rins e o fígado, como Malária e
Hepatite, podendo causar grave insuficiência renal e hepática.
O Ministério da Saúde recomenda e
orienta que o tratamento da Dengue e da Chikungunya é sintomático com
analgésicos e antipiréticos, além da hidratação oral ou endovenosa
(hospitalar), dependendo do estado do paciente e do resultado dos exames. Mas
jamais cita o remédio Paracetamol como tratamento de escolha, que foi adotado e
banalizado pela população não só nessas doenças, usando-o rotineiramente como
automedicação nas febres e dores. E daí
que vem o perigo, quando não se sabe o diagnóstico ou esse é feito
erroneamente no balcão da farmácia.
O risco de hemorragia digestiva e
outros efeitos colaterais no intestino podem chegar ao máximo de 49% de
incidência, com uso excessivo do medicamento. Outras pesquisas concluíram
elevado risco de problemas cardiovasculares, variando de 19% a 68%. Doentes crônicos que recorrem ao medicamento
- usualmente, pessoas que costumam ingeri-la diariamente e em grande quantidade
por vários anos - tendem a aumentar o risco de morrer ou então desenvolver
problemas renais, intestinais e cardíacos, afirmaram os estudiosos. Estudos publicados
no Jornal britânico Annals of the
Rheumatic Diseases (Anais de Doenças Reumáticas) indicam que o risco “mesmo
sendo baixo na maior parte das vezes, os médicos deveriam ser cautelosos ao
receitar a droga", alertam os pesquisadores. " O risco real da
prescrição do paracetamol talvez seja maior do que é percebido atualmente pela
comunidade clínica” , o que justifica-se uma “revisão sistêmica da eficácia e
da tolerância em condições individuais".
Para alguns estudiosos “ainda é
um analgésico mais seguro, e os estudo não deveriam fazer com que as pessoas
parassem de tomá-lo", disse Nick Bateman, professor em toxicologia clínica
na Universidade de Edimburgo (Escócia). "De posse desses resultados, é
aconselhada a menor dosagem em um tempo mais curto e necessário".
"Este é o senso comum para todos os remédios".
Amplamente recomendado para várias
patologias que cursam com dor crônica, c (artrites, artroses, osteoartrite,
reumatismo e dores agudas na coluna), o remédio deve ser prescrito
corretamente, na dosagem e obedecendo ao tempo de tratamento, pois mais cedo ou
mais tarde poderá manifestar seus efeitos colaterais, como o agravamento dos
comprometimentos renais e hepáticos de doenças como Hepatite, Dengue, Chikungunya
e outras simples viroses autolimitadas , que com ou sem o medicamento vão
evoluir para a cura.
Fica o alerta à população que gosta de
se automedicar frente a qualquer incomodo de dor ou febre. Sempre se recomenda
procurar assistência médica. Aos profissionais de saúde, incluindo os Médicos,
recomenda-se ficarem atentos às reações individuais de cada paciente ao
paracetamol, observando o aumento no grau de toxicidade quando a dosagem for maior
e por um período mais prolongado.
JARBAS ATAÍDE- Macapá-AP, 10.04.2015
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