segunda-feira, 20 de abril de 2015

SAÚDE EM FOCO

 PARACETAMOL: OS RISCOS DA NÃO PRESCRIÇÃO E DA AUTOMEDICAÇÃO




         Falar sobre remédios e até sobre sua prescrição e dispensação, não se trata somente de assunto médico. É uma questão de saúde pública e de interesse de toda a sociedade, que precisa ser esclarecida e orientada quanto aos aspectos de sua produção, prescrição e distribuição. Estamos numa época que outros profissionais de saúde ficaram agora mais livres a praticarem atos que podem gerar malefícios, quando não possuem formação ou qualificação para prescrever medicamentos, mesmo os livres de prescrição ou previstos em programas especiais do governo federal
         Em artigo anterior, escrito por mim em 18.10.2013, considerado Dia do Médico, com título “Iatrogenia: quando o remédio causa doença”, refleti os danos materiais (uso de medicamentos, cirurgias desnecessárias, mutilações, etc.) e psicológicos (psicoiatrogenia – o comportamento, as atitudes, a palavra) causados ao paciente não só pelo médico, mas também por outros profissionais (enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, nutricionistas e demais profissionais).
          A iatrogenia pode ser provocada até por outro profissional que não da saúde ou por um cidadão quando pratica automedicação. Quando vamos a uma farmácia e compramos um medicamento livre de receituário e passamos à alguém ou a nós mesmos, temos um grande risco de cometer iatrogenia. E esse risco potencial é grande, pois temos medicamentos vendidos em todos os lugares, nos supermercados, lojas e até em posto de gasolina, sem qualquer fiscalização.
        Um medicamento muito comum e de venda livre, bastante prescrito, vendido e tomado pela população, nestes tempos de surto de Dengue e Chikungunya, é o PARACETAMOL, considerado analgésico e antifebril.  Tornou-se uma verdadeira “febre” a venda, prescrição e automedicação desse produto nas farmácias, ambulatórios e hospitais, embora a maioria da população e grande parte dos profissionais da saúde ignorem os maléficos efeitos colaterais e os riscos à saúde.
       Desde a época de minha Pós-graduação em Ciências Forenses, que enfocou o tema da toxicologia das plantas medicinais, estudei também vários medicamentos, entre os quais o Paracetamol. Portanto, fruto do conhecimento e informação, faz vários anos que quase não prescrevo o medicamento, que fica restrito aos casos de alergia à dipirona. Esses efeitos se agravam ainda mais nas doenças que afetam os rins e o fígado, como Malária e Hepatite, podendo causar grave insuficiência renal e hepática.
       O Ministério da Saúde recomenda e orienta que o tratamento da Dengue e da Chikungunya é sintomático com analgésicos e antipiréticos, além da hidratação oral ou endovenosa (hospitalar), dependendo do estado do paciente e do resultado dos exames. Mas jamais cita o remédio Paracetamol como tratamento de escolha, que foi adotado e banalizado pela população não só nessas doenças, usando-o rotineiramente como automedicação nas febres e dores.  E daí que vem o perigo, quando não se sabe o diagnóstico ou esse é feito erroneamente  no balcão da farmácia.
        O risco de hemorragia digestiva e outros efeitos colaterais no intestino podem chegar ao máximo de 49% de incidência, com uso excessivo do medicamento. Outras pesquisas concluíram elevado risco de problemas cardiovasculares, variando de 19% a 68%. Doentes crônicos que recorrem ao medicamento - usualmente, pessoas que costumam ingeri-la diariamente e em grande quantidade por vários anos - tendem a aumentar o risco de morrer ou então desenvolver problemas renais, intestinais e cardíacos, afirmaram os estudiosos. Estudos publicados no Jornal britânico Annals of the Rheumatic Diseases (Anais de Doenças Reumáticas) indicam que o risco “mesmo sendo baixo na maior parte das vezes, os médicos deveriam ser cautelosos ao receitar a droga", alertam os pesquisadores. " O risco real da prescrição do paracetamol talvez seja maior do que é percebido atualmente pela comunidade clínica” , o que justifica-se uma “revisão sistêmica da eficácia e da tolerância em condições individuais".
        Para alguns estudiosos “ainda é um analgésico mais seguro, e os estudo não deveriam fazer com que as pessoas parassem de tomá-lo", disse Nick Bateman, professor em toxicologia clínica na Universidade de Edimburgo (Escócia). "De posse desses resultados, é aconselhada a menor dosagem em um tempo mais curto e necessário". "Este é o senso comum para todos os remédios".
         Amplamente recomendado para várias patologias que cursam com dor crônica, c (artrites, artroses, osteoartrite, reumatismo e dores agudas na coluna), o remédio deve ser prescrito corretamente, na dosagem e obedecendo ao tempo de tratamento, pois mais cedo ou mais tarde poderá manifestar seus efeitos colaterais, como o agravamento dos comprometimentos renais e hepáticos de doenças como Hepatite, Dengue, Chikungunya e outras simples viroses autolimitadas , que com ou sem o medicamento vão evoluir para a cura.
        Fica o alerta à população que gosta de se automedicar frente a qualquer incomodo de dor ou febre. Sempre se recomenda procurar assistência médica. Aos profissionais de saúde, incluindo os Médicos, recomenda-se ficarem atentos às reações individuais de cada paciente ao paracetamol, observando o aumento no grau de toxicidade quando a dosagem for maior e por um período mais prolongado.
JARBAS ATAÍDE- Macapá-AP, 10.04.2015



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