Jarbas de Ataíde
SEM DESENVOLVIMENTO NÃO HÁ
SAÚDE
Qual
a nação ou Estado organizado que se diz desenvolvido se seus habitantes estão
doentes, tem alimentação restrita, tomam água não potável, morrem cedo por
acidentes, são vítimas de guerras militares ou civis, ou não têm acesso aos
serviços básicos de saúde? Poderíamos responder que várias nações africanas
estão nessa situação, ou mesmo as que vivem em regime de oligarquias ou
ditatoriais, blindadas pela falsa couraça da prosperidade.
Mas
essa situação não está na África e nem distantes de nós, exceto a guerra
militar. Aqui mesmo no Brasil, considerada a 8ª economia mundial, passamos por
essa situação. Atingimos um período de crescimento econômico nos últimos 12
anos, que não foi acompanhado de desenvolvimento e aplicação em setores básicos
da população. Obras e investimentos nesses setores dependem de aplicação de
recursos e de projetos bem elaborados e efetivamente executados. No caso da
saúde, podemos dizer que esses benefícios, aonde as necessidades são maiores e
urgentes, não ocorreram devido um progressivo e histórico processo de redução,
não aplicação e contingenciamento de recursos.
Projetos
e programas considerados estratégicos pelo governo, visando o desenvolvimento
do setor estão passando por essa situação de falta de investimento. As obras do
PAC da saúde e o Programa Mais Médicos são dois exemplos de medidas que estão
em análise pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e Tribunal de Contas da
União (TCU), mostrando desempenho abaixo do esperado ou em situação crítica. “Apenas
25, 7% das ações previstas na fase do PAC II foram concluídas desde 2011. Entre
as 21 mil ações do MS e FUNASA pouco mais de cinco mil foram concluídas até
outubro de 2014”. As análises do TCU são parecidas com as do CFM em relação ao
‘Mais Médicos’: “a necessidade de revisão do programa para que haja a extinção
dos prejuízos aos cofres públicos... a preservação da vida e da saúde dos
brasileiros que se encontram na camada social mais vulnerável e desfavorecida,
agora com menos médicos e menos saúde”, conclui Carlos Vital, em artigo
publicado no jornal Folha de São Paulo.
Mesmo
com apoio da rede conveniada e filantrópica, considerada mais equipada e
sofisticada, os índices não cresceram, pois a saúde suplementar também passa
por crise. Os pagamentos dos casos de maior complexidade, cirurgias e internações
estão com valores defasados. A Tabela do SUS, que serve de referência para o
pagamento dos hospitais conveniados mostra perdas acumuladas no período de 2008
a 2014. “Mais de 1.500 procedimentos hospitalares da Tabela do SUS estão com
preços defasados”. A assistência ambulatorial, internações e exames
complementares feita em hospital privado conveniando não são garantia de
atendimento de qualidade. Devido o atraso no pagamento e os preços
desvalorizados, as unidades contratadas fazem e gastam o mínimo com os usuários
do SUS. O CFM, o MP e a Agência Nacional da Saúde (ANS) fiscalizam, mas não
conseguem corrigir ou proibir essas práticas de “medicina de rico e medicina de
pobre”.
Essa
redução nos gastos com a saúde pública acompanha a falta de investimentos e
desenvolvimento nos outros setores da economia nacional e local, como a redução
da oferta de emprego, da desvalorização do salário mínimo, do aumento da inflamação,
da carga tributária, da dívida pública e dos ajustes da previdência emitidos no
recente pacote fiscal. No Amapá a dívida pública chega à cifra altíssima e R$
1.636 bilhões (÷ 750.912 hab.), levando a um débito per capta por habitante
amapaense de R$ 2.179,79 (IBGE/2014). Grande parte dessa dívida contraída pelo
Estado do Amapá foi decorrente de empréstimos para socorrer a Companhia de
Eletricidade-CEA e, do BNDS, utilizados para pagamentos de dívidas e para
custeio e não para investimento em infraestrutura, agravando ainda mais os
setores básicos da população que necessitam de urgente apoio financeiro.
Endividado
por décadas (até 2030) e com taxas de desocupação de 32 mil desempregados, o
Amapá amarga o segundo lugar de desemprego no Brasil (9,6%), ficando apenas
atrás do Rio Grande do Norte (11,5%).
Sem contribuir ou com insignificante fatia do bolo do PIB nacional, o
Amapá poderá evoluir para uma triste situação de ficar por décadas sem obras de
Infraestrutura em setores básicos como a saúde, educação e segurança pública,
caso não receba ajuda financeira da União.
Caberá
aos governantes, aos parlamentares e aos gestores amapaenses encontrarem
caminhos e inovações para o desenvolvimento sustentável e para o aumento da
renda do Estado e dos municípios, a fim de promoverem a recuperação desses
setores básicos que estão com investimentos defasados há longos anos. Basta
olhar que as unidades hospitalares da capital e dos interiores (Unidades
Mistas) não passaram por ampliações e reformam desde a década de 1945, quando
foi criado o Território Federal do Amapá. Apenas em três municípios foram
construídos hospitais novos (Laranjal do Jari, Oiapoque e Santana). Na capital
tivemos reformas das fachadas do Hospital de Emergência (HE) e do Hospital de
Especialidades (HCAL). O único hospital construído para ser gerido pela
Prefeitura de Macapá, o antigo Hospital do Câncer (hoje Metropolitano), está
com obras abandonadas há mais de 12 anos, cujos recursos públicos aplicados
foram corroídos pela corrupção e estão sendo destruídos pelo tempo.
Com
a falta de crescimento econômico, aumento da inflação, redução dos
investimentos e contingenciamento dos recursos para a saúde, temos quase
certeza do pouco desenvolvimento, aparelhamento, ampliação e modernização das
citadas unidades e da infraestrutura em saúde. Ou melhor, sem desenvolvimento
econômico e investimentos a curto e médio prazo não haverá prestação de
serviços de saúde capazes de responder aos anseios e às necessidades da
população. Continuaremos a repetir a velha dicotomia antidemocrática,
inconstitucional e anti-humanitária, de que “quem tem paga; e quem não tem,
sofre”, ou de uma “medicina de rico e
uma medicina de pobre”.
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