quinta-feira, 26 de novembro de 2015

SAÚDE EM FOCO

DOENÇAS DAS BARRAGENS, REPRESAS E HIDROELÉTRICAS.



         Estudos epidemiológicos mostram as consequencias maléficas para a saúde humana e para o meio ambiente no entorno onde são implantados grandes projetos de represamento de água de fontes naturais como rios, lagos e lagoa e barragens de contenção de resíduos.
         Em quase todas essas grandes obras os estudos e relatórios de impacto ambiental fazem previsões incompletas, que ignoram vários fatores sócio-econômico-culturais e minimizam as repercussões das alterações do meio ambiente. Mesmo assim, as autoridades liberam as construções e deixam a fiscalização preventiva por conta das próprias empresas, que negligenciam as medidas de segurança.
As repercussões dos desastres de Mariana (MG ), com contaminação  de lama e rejeitos no Rio Doce , e de Ferreira Gomes (AP), com a mortandade de peixes e animais aquáticos no Rio Araguari, ocorreram por essa falta de controle, fiscalização e medidas de segurança, tanto do Estado quanto da empresa responsável. 
Desastres ambientais em cidades e localidades pobres, que não possuem condições sanitárias e saneamento básico, as repercussões vão além do meio abiótico. Atingem as populações com doenças parasitárias, infecções, contaminações diversas com metais. As diarréias surgem imediatamente, e as decorrentes da poluição, como os cânceres, degenerativas e alérgicas, surgem algum tempo depois.
Em Mariana a população foi pega de surpresa pela irresponsabilidade e inoperância da empresa San Marco/Vale , que foi multada em apenas R$ 1,25 bilhão, quantia ínfima para reparar os danos da lama tóxica à população. No Amapá, a empresa foi multada em 30 milhões, o que é muito pouco pelos graves danos causados ao ambiente, a economia  e à saúde humana.  
 No Amapá ficaram prejudicados os Municípios de  Ferreira Gomes, Porto Grande e Cutias do Araguari. O rio reduziu a vazão drasticamente. A abertura das comportas  ocasionou alterações na água ,tornando-se tóxica para os peixes, causando grande mortandade. A entrada da água salgada do oceano, em cerca de 50 km, na foz do Araguari, acabou o fenômeno  Pororoca e alterou a vida, a saúde e a sobrevivência das populações ribeirinhas.
Os resíduos tóxicos dos materiais usados para a construção das barragens e hidroelétricas (cimento, ferro, concreto, explosivos, óleos e combustíveis) provocam o acúmulo de metais venenosos tanto para os animais, quanto para o homem. As doenças de veiculação hídrica, como as parasitoses, verminoses e infecções diarréicas (cólera, febre tifóide, leptospirose, shigueloses) são as primeiras a se manifestar.
Os setores de Vigilância Sanitária e Epidemiológica devem ficar atentos e unir forças nas medidas de prevenção, com apoio logístico do Estado. As empresas responsáveis devem arcar  com a carga financeira e as multas proporcionais aos prejuízos e não apenas um valor irrisório. As entidades e associações dos atingidos por barragens ou desabrigados das hidroelétricas vão ter muito pano pra manga para colocar os responsáveis na justiça e pedir indenizações milionárias para toda uma população.
No caso de Mariana-MG, o impacto do desastre atingiu dois estados (MG e ES), mas a lama atingiu a costa de outros. Portanto, todo o aparato jurídico e das agencias nacionais reguladoras (DNPM, IBAMA, Ministério das Cidades, Defesa Civil, MPF) deveriam ser acionados para que a penalidade e as multas sejam em conformidade com os danos globais causados.  
Tudo isso é o preço que pagamos pelos avanços da ciência, da tecnologia e da industrialização. A energia aqui gerada já foi vendida e vai ser destinada a empreendimentos em outros estados, deixando de gerar riqueza e desenvolvimento para o povo amapaense.
Fica para nós a degradação do meio ambiente, a  interferência na vida e cultura ribeirinha (pescadores artesanais e agricultores familiares), altas contas de energia elétrica, destruição da beleza cênica do Rio Araguari, a fome de várias famílias que dependem da pesca, além das doenças advindas, pois a natureza se vinga com o retorno de enfermidades controladas ou mesmo apresentando novos agentes infecciosos desconhecidos. JARBAS ATAÍDE, Macapá-AP, 23.11.2015.




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