DOENÇAS DAS BARRAGENS,
REPRESAS E HIDROELÉTRICAS.
Estudos epidemiológicos mostram as
consequencias maléficas para a saúde humana e para o meio ambiente no entorno
onde são implantados grandes projetos de represamento de água de fontes naturais
como rios, lagos e lagoa e barragens de contenção de resíduos.
Em quase todas essas grandes obras os
estudos e relatórios de impacto ambiental fazem previsões incompletas, que
ignoram vários fatores sócio-econômico-culturais e minimizam as repercussões das
alterações do meio ambiente. Mesmo assim, as autoridades liberam as construções
e deixam a fiscalização preventiva por conta das próprias empresas, que
negligenciam as medidas de segurança.
As repercussões dos desastres de Mariana (MG ), com
contaminação de lama e rejeitos no Rio
Doce , e de Ferreira Gomes (AP), com a mortandade de peixes e animais aquáticos
no Rio Araguari, ocorreram por essa falta de controle, fiscalização e medidas
de segurança, tanto do Estado quanto da empresa responsável.
Desastres ambientais em cidades e localidades pobres, que
não possuem condições sanitárias e saneamento básico, as repercussões vão além
do meio abiótico. Atingem as populações com doenças parasitárias, infecções,
contaminações diversas com metais. As diarréias surgem imediatamente, e as
decorrentes da poluição, como os cânceres, degenerativas e alérgicas, surgem
algum tempo depois.
Em Mariana a população foi pega de surpresa pela
irresponsabilidade e inoperância da empresa San Marco/Vale , que foi multada em
apenas R$ 1,25 bilhão, quantia ínfima para reparar os danos da lama tóxica à
população. No Amapá, a empresa foi multada em 30 milhões, o que é muito pouco
pelos graves danos causados ao ambiente, a economia e à saúde humana.
No Amapá ficaram
prejudicados os Municípios de Ferreira
Gomes, Porto Grande e Cutias do Araguari. O rio reduziu a vazão drasticamente.
A abertura das comportas ocasionou
alterações na água ,tornando-se tóxica para os peixes, causando grande
mortandade. A entrada da água salgada do oceano, em cerca de 50 km, na foz do
Araguari, acabou o fenômeno Pororoca e
alterou a vida, a saúde e a sobrevivência das populações ribeirinhas.
Os resíduos tóxicos dos materiais usados para a
construção das barragens e hidroelétricas (cimento, ferro, concreto,
explosivos, óleos e combustíveis) provocam o acúmulo de metais venenosos tanto
para os animais, quanto para o homem. As doenças de veiculação hídrica, como as
parasitoses, verminoses e infecções diarréicas (cólera, febre tifóide, leptospirose,
shigueloses) são as primeiras a se manifestar.
Os setores de Vigilância Sanitária e Epidemiológica devem
ficar atentos e unir forças nas medidas de prevenção, com apoio logístico do
Estado. As empresas responsáveis devem arcar
com a carga financeira e as multas proporcionais aos prejuízos e não
apenas um valor irrisório. As entidades e associações dos atingidos por
barragens ou desabrigados das hidroelétricas vão ter muito pano pra manga para
colocar os responsáveis na justiça e pedir indenizações milionárias para toda
uma população.
No caso de Mariana-MG, o impacto do desastre atingiu dois
estados (MG e ES), mas a lama atingiu a costa de outros. Portanto, todo o
aparato jurídico e das agencias nacionais reguladoras (DNPM, IBAMA, Ministério
das Cidades, Defesa Civil, MPF) deveriam ser acionados para que a penalidade e
as multas sejam em conformidade com os danos globais causados.
Tudo isso é o preço que pagamos pelos avanços da ciência,
da tecnologia e da industrialização. A energia aqui gerada já foi vendida e vai
ser destinada a empreendimentos em outros estados, deixando de gerar riqueza e
desenvolvimento para o povo amapaense.
Fica para nós a degradação do meio ambiente, a interferência na vida e cultura ribeirinha
(pescadores artesanais e agricultores familiares), altas contas de energia
elétrica, destruição da beleza cênica do Rio Araguari, a fome de várias
famílias que dependem da pesca, além das doenças advindas, pois a natureza se
vinga com o retorno de enfermidades controladas ou mesmo apresentando novos
agentes infecciosos desconhecidos. JARBAS
ATAÍDE, Macapá-AP, 23.11.2015.
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