Há duas semanas divulguei aqui sobre escrita e a leitura, e como podem transformar a vida de alguém. Tal tópico não agradou a muita gente, nem a meu avô – que balançou a cabeça como quem dá de ombros –, nem a meu amigo Alexandre, com quem tenho boas conversas e que parece nutrir a mania de me contradizer. Pois bem, peço licença aos meus fiéis leitores, pouco satisfeitos, e insisto em introduzir de novo o tema insosso de duas semanas atrás.
Sócrates afirmava que a escrita limita o pensamento, engessa-o. Para ele, "um discurso será sempre o mesmo, repetido inúmeras vezes sem que se possa agregar novas ideias". Era o que dizia, e só dizia mesmo, porque quem escreveu foi Platão.
Não sou tão legal nem tão nariguda quanto Sócrates, mas vou ter de contrariá-lo. Porque se pode sim agregar muito ao que já foi feito, ao já escrito. Sempre que lemos um livro, ele se renova, percebemos coisas novas e construímos outras ideias. A leitura muda de leitor para leitor. E a literatura é exatamente isto: pegar o já existente e reinventá-lo...
Enquanto me admoestava, dizendo que errei ao superestimar a palavra e que existem coisas inefáveis (sentimentos, pensamentos, cheiros...), meu amigo Alexandre despejou-me uma lista de comprovações para seu ponto de vista. Falou sobre Jostein Gaarder e lembrou Sócrates. Mas nenhum foi tão convincente quanto Luan Santana, que meu colega também citou, embora não sem dor. Este último diz: "Um beijo vale mais que mil palavras, um toque é bem mais que poesia".
Até concordo. Existem coisas que não podemos externar mesmo com ardor na argumentação, mas nem por isso a palavra é prosaica, inapta. Pelo contrário. A palavra é como um tradutor da complexidade humana e, quando falha, o homem deve se contentar em simplesmente dizer com o olhar. Ou não dizer, que seja. Não morreremos por isto.
O fato de a palavra ser tão polissêmica e ainda assim falhar em exprimir o inexprimível, só deixa tudo muito mais charmoso. E não sou ninguém para desmentir o meteórico Luan Santana, mas, não fossem as letras, suas músicas nunca teriam sido escritas e jamais saberíamos o que ele (não) tem a dizer.
Por fim, arremato esta semana com uma crônica de Luis Fernando Veríssimo, que, apesar de ter sido escrita em 79, permanece uma pérola de leitura.
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