sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Artigo do Gato


Infidelidade
Fui instado por uma leitora a versar sobre (in) fidelidade. Semanticamente falando, infidelidade é um vocábulo do universo vocabular do populacho. Parece simples falar do tema. Infiel é o que trai, ora bolas. Mas trai quem cara pálida? O companheiro ou a companheira de vida conjugal, o colega do trabalho, o amigo, o correligionário ou a si mesmo?
Nossa língua tem sua raiz no latim. Por tanto a origem latina da palavra é “fidelitas.” Para os gregos fidelitas eram as pessoas que mantinham ou conservavam as tradições originais. Mantinham-se fiel aos seus princípios.
No entanto Aurélio Buarque de Holanda nos dá para a mesma palavra significado variados em contextos diferentes. Mas que no frigir dos ovos, invocando a douta sabedoria popular, o infiel é àquele que tangiversia de seus princípios e convicções.
Segundo o filólogo Aurélio Buarque de Holanda, infidelidade no mercado é a perda do vinculo que prende o cliente ao provedor. Já na eletrônica a palavra é usada para definir a falta de qualidade de som e imagem. E por aí a fora. Muito bem! Mas nas relações humanas, como seria então o tratamento dado a quem comete o ato da infidelidade? Será que a pessoa deve ser condenada por mudar de conceito, opinião, atitude?
Entramos num campo delicadíssimo, perigoso até para os psicólogos versarem sobre o tema, pois se o homem é um animal dotado de razão, aliás, o único que possui emoção, sentido então seria uma mudança de atitude ou de opinião sobre uma ideologia, uma companheira, um companheiro, um amigo e etc; um comportamento infiel?
Se o ser humano tem a capacidade do raciocínio e por ser a vida dinâmica, por que o homem não pode reavaliar e mudar suas atitudes, seu comportamento e entrar também nessa metamorfose cotidiana. Como escreveu Paulo Coelho e Raul Seixas: “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Sobre o que é o amor, se eu não sei nem mesmo quem sou”
Essa cobrança de um estado de inércia sentimental não seria tirar do homem a capacidade de evoluir, de abrir discussões interiores para reavaliar conceitos?
A fidelidade exigida a ferro e fogo não coloca de certa forma uma camisa de força no ser humano, que por um preconceito com os que mudam de opinião, de parceiro, de atitude, acabam sendo taxados de volúveis, instáveis e o pior. Inconfiáveis, sem caráter?
Vamos voltar no tempo e no espaço, e buscarmos fragmentos da história de pessoas que mudaram de opinião. Comecemos pela escritura sagrada. Temos na história dois momentos distintos de comportamento, de conceito e de atitude dos ensinamentos Bíblicos. O Velho Testamento e o Novo Testamento. O primeiro nos remete a um DEUS punitivo, onde deixa de forma inequívoca que quem faz o mal, merece receber o mal. Tipo quem com ferro fere, com ferro será ferido. E o segundo que nos apresenta um Deus benevolente, onde o ensinamento é o mal se paga com o bem. Do tipo, quando você apanhar em uma face ceda à outra. DEUS em sua infinita sabedoria foi infiel com suas mudanças conceituais?
Vou fugir desta seara perigosa e vamos para uma relação conjugal. Um homem ou uma mulher casada, juntada, está proibida de se afeiçoar a outro. Talvez pelas convenções sociais esse ente relute ao desejo, reprima sua libido, mas sentimentalmente essa relutância não provocará um conflito interno intenso a ponto de abalar as estruturas de uma relação que iniciou tão sólida tal qual uma rocha de granito. Sei lá. Isso é exercício psicológico para o profissional da psique humana.
Fica claro que adultério é um comportamento do infiel. Adultério que também é palavra de origem latina significa estar na cama de outro, claro com o outro ou a outra. A infidelidade para os repressores é mudança de atitude, de hábito de costume. Se você separa e vai para cama com outro você não é adultero, porém foi infiel, pois mudou de sentimento. Entendeu? Não!
Agora claro, há banalização desse comportamento está intrinsecamente ligado a política. Nesse campo da atividade humana os conceitos que ornam as relações são de um ardil absoluto. Os comportamentos são melimetricamente planejado de acordo com a conveniência do momento. Então dizer que a política é a arte de conviver com os contrários, nos remete a uma relação de hipocrisia. Quem habita o mesmo quadrado em divergência permanente? Só os hipócritas. Ou que na política não há inimigo que não se possa reconciliar e amigo que não se possa romper é algo palatável entre os políticos. Afinal o poder está acima das mutáveis convenções de ética.
Por fim. Infidelidade é mudar ou permanecer mesmo a contra gosto em algo que não se acredita mais? Quem é o infiel? O infiel é o que muda ou aquele que se engana, por mutilar seu desejo? A bola está com vocês. Tchau!

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