sexta-feira, 9 de setembro de 2011

ANTENADOS



Vinde a mim, todos os cansados do 11 de Setembro
Deus me perdoe pelo pequeno trocadilho com Sua sagrada Palavra, mas já estamos mais que saturados de todo o “auê” que ocorre há dez anos, perto do dia 11 de setembro.
Sim, faz dez anos que as torres gêmeas caíram lá nos States, e mesmo depois de tanto tempo ainda somos obrigados a reviver as cenas do ataque terrorista (será?) ao World Trade Center.
Eu tinha só sete anos quando aquelas torres caíram, mas ainda lembro com alguma nitidez a comoção geral que se abateu sobre o Brasil. Ou, quem sabe, minhas lembranças sejam fajutas: talvez eu pense que lembro o ocorrido quando, na verdade, depois de rever as imagens por um século, meu cérebro simplesmente se acostumou à eterna lengalenga que os norte-americanos deram um jeito de imprimir a fogo em nossas almas solidárias.
Naquele fatídico dia, mais de 2900 pessoas morreram, num momento estático que parecera durar uma eternidade. Eternidade mesmo, porque as imagens imortalizadas prometem ainda uma massificação exaustiva pelas próximas décadas a fio.
Não tiro o peso e o significado das mortes. Pelo contrário, reconheço que esses números, secos, frios, às vezes podem provocar um medo danado, pavor, guerra ao terror. Contudo, o que digo, com igual significado, é que, para cada americano que perdeu um parente ou um amigo no atentado às torres gêmeas, simplesmente visualizar outra vez, ano após ano, aqueles mesmos vídeos, é como perder seus amigos e parentela de novo.
É como ressuscitá-los simplesmente para vê-los cair novamente, agora devorados pelo consumo midiático.
Chega de falar do 11. Estamos saturados do Bush pai, do Bush filho (ou “Bushinho”, como diria o Lúcio, meu professor de História/Filosofia/Sociologia); estamos saturados de tudo o que o império americano do norte quer impor a nós, o resto do mundo, até mesmo quando se trata de sua dor. Chega de se condoer pelos vizinhos. Vamos olhar para dentro de casa?
O Brasil, habitação de barro, sempre prestes a desmoronar, temendo e driblando a inflação dos ventos econômicos que vêm e vão. Esse Brasil, de contrastes horríveis, de pobreza que cansa, que entristece, que emudece. Poderíamos fazer um pouco, poderíamos fazer muito, poderíamos simplesmente fazer algo por nossa nação, se começássemos a falar mais dela, orar por ela, pensar nela, respirá-la, ao invés de simplesmente atirá-la aos porcos.
E se algum brasileiro julga o Brasil uma causa perdida ou sem graça demais, então que vá procurar outras mais urgentes ou mais sangrentas à qual se dedicar. Temos a Somália, a Líbia, a Argélia, o Haiti, o Sri Lanka... Basta escolher a desolação que lhe aprouver. Um pouco de cuidado ao resto do globo de modo nenhum fará mal.
A verdade é que nossos primos ianques adoram uma guerra, e o 11 de Setembro é essencialmente uma desculpa para infligir na alma humana desde uma leve antipatia até um forte ódio contra os muçulmanos e o mundo islâmico em geral. Ou, quem sabe, não se trate apenas de religião e intolerância, mas também de petróleo. São tantas variáveis a considerar...
O que quero dizer mesmo é que não deveríamos tomar partido numa dor que já perdeu contexto, foi desfocada pelo tempo. Além disso, é uma dor que não nos pertence. Nós, do Terceiro Mundo. Nós, os emergenciais.
Há um ditado que diz mais ou menos assim: “Eles, que são brancos, que se entendam”... Sem falso moralismo nem afetação, vamos lavar a nossa roupa, cuidar das nossas crianças, tocar a vida, porque comprar os dissabores dos outros é, no mínimo, ilógico.
Até mesmo os que tiveram a sorte de nascer após o atentado, já conhecem o “hino” do 11 de Setembro de cor. Não parece haver risco de que as gerações futuras cresçam bitoladas, ignorantes de que existe todo um conflito entre o Oriente Médio e o resto do mundo. Então, já chega de ouvirmos os mesmos casos e anedotas que o velho Tio Sam nos conta. Ele está caduco, repetitivo, obsoleto...
Podemos agora mostrar as outras facetas de suas histórias, a versão de seus supostos “inimigos”. O que será que os que professam a fé islâmica (mais monoteísta que muita cristandade), por exemplo, têm a dizer sobre esse “surto do onze” que acomete o mundo ocidental sempre que se inicia o mês de setembro?
Ora, vamos fuçar novas historinhas ou, quem sabe, deixar de contar as velhas pela metade. Vamos nos concentrar no que é nosso e imediato, nos reais inimigos que nos cercam e dos quais podemos sentir o efeito todo dia: miséria, fome, medo, violência, corrupção...

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