sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Matéria de Capa

Ultraje de uma marca

A ICOMI celebrizou e eternizou seu “I” de formato Romano. Um símbolo que significava credibilidade, riqueza, prosperidade. Foram cinqüenta anos de Amapá. Gerações se acostumaram em ver carros, caminhões, escritórios e etc..., com aquela logomarca.
Mas o contrato de exploração mineral, entre o já então grupo CAEMI, que desde 1997 passou a ter o controle acionário da ICOMI, e o Estado do Amapá, já não tinha interesse comercial. O Manganês existente nas minas, segundo seus técnicos, era de baixo teor e com pouco valor no mercado. Dr. Ortiz, gerente geral da empresa no Amapá, diz que àquela época, os recursos para aumentar o valor desse minério era impossível, hoje, a realidade é outra. Então, a ICOMI, iniciou um processo lento de desaceleração de suas atividades. 10 anos antes de 1997, data em que a empresa desativou suas atividades minerais.
A saída do Estado, que poderia ser sem trauma, passou a ser uma demanda judicial. E esse litígio, onde o Estado não aceitava receber o espólio da ICOMI de volta, culminou com uma determinação dos netos de Augusto Antunes, André e Marcos Guilherme Antunes, os verdadeiros donos da ICOMI e do Grupo CAEMI, se desfazer da empresa e do grupo. Venderam o grupo CAEMI por U$ 600 milhões e a ICOMI, numa negociação nebulosa e estranha, por apenas  R$ 1  real. O Dr. Ortiz Vergolino, que esteve presente durante toda a negociação da ICOMI, diisse que o negócio foi juridicamente perfeito e que essa história de R$ 1real, não é bem assim. A empresa Alto Tocantins,   assumiu os compromissos que a ICOMI tinha com o Estado. Além de está obrigada  a pagar U$ 1 real, por cada tonelada vendida do manganês estocado em Santana e Serra do Navio. Na verdade 3,8 milhões de toneladas.
A partir do ano 2003, a situação só se complicou. E o Amapá passou a ser palco de uma verdadeira orquestração de negócios fraudulentos, todos comandados pela empresa Mineração Tocantins, Alto Tocantins e Jorge Augusto, dono da empresa. Foram tantos negócios, envolvendo empresas que compraram participação com a alto Tocantins e foram enganadas, que a justiça do Amapá está entulhada de ações contra a Alto Tocantins e Jorge Augusto. São ações civis, criminais e trabalhistas. Hoje, a Ecometals Manganês do Amapá, se diz a verdadeira proprietária de todo o estoque de manganês, que a Tocantins comprou da ICOMI. A Ecometals já assinou três contratos com a Tocantins,  pagou parte do acertado e os contratos não foram cumpridos pela Tocantins.
Mas quem pensa que o prejuízo que o Amapá tem é apenas social e econômico, está completamente enganado. O Dr. Paulo Amorim, é outra vítima deste “serialbussines”. Ele foi o responsável Técnico da REVECOM Comércio e Serviços Ambientais, contratada para executar o Programa de Reflorestamento de Áreas Degradadas (PRAD) e produção de mudas para o plantio.


Dr. Paulo Amorim responsavel tecnico pela REVECON e executor do PRAD de Serra do Navio na epoca da ICOMI dos Antunes

A REVECONm elaborou e executou grande parte do programa de recuperação de áreas degradáveis de Serra do Navio, na área dominada pela Indústria e Comercio de Minérios S/A (ICOMI). Essa atividade correu muito bem até 2003.
Paulo Amorim, diz que quando a ICOMI foi vendida, a REVECON estava na ativa, fazendo os plantios e tocando para frente, tudo aquilo que tinha sido programado, mas alega que sem explicação lógica, a Alto Tocantins rompeu o contrato de forma unilateral, alegando dificuldades financeiras.
“Na realidade, quem ficou com dificuldades financeiras fui eu, pois tinha mais de 20 empregados em Serra do Navio e 20 em Santana, na REVECOM. Fiquei com quarenta pessoas para colocar na rua e estava há três meses sem receber, aproximadamente, entre R$ 180 a R$ 200 mil  reais. Foi um prejuízo muito grande, não só para REVERCOM, que teve que se descapitalizar e se desoperacionalizar, para fazer frente aos seus compromissos.” Declara Paulo Amorim, mais uma vítima da Alto Tocantins.
Paulo relata que quando recebeu o golpe, tinha responsabilidade com funcionários e fornecedores. Havia reformado as máquinas, caminhões, tratores, veículos leves, para dar conta do contrato, pois trabalhava com desmonte hidráulico na Serra do Navio. Teve que se desfazer de tudo para pagar o pessoal. Me desfiz das máquinas para manter o bom nome da empresa e manter a reserva (RPPN REVECOM).

Parque Municipal do Cancão
O golpe em Paulo foi tão duro, que ele afirma ter ido à lona, se desfez, inclusive, de imóveis no Rio de Janeiro. Um apartamento próximo a Barra da Tijuca e dois terrenos grandes, que iam ser transformados  em novas Reservas Ambientais.
A decisão irresponsável da Tocantins de não continuar com o PRAD (Programa de Recuperação de Áreas Degradáveis), comprometeu todos os procedimentos de dez a doze anos, onde a empresa estava tentando  transformar a Serra do Navio em um grande jardim. Emocionado afirma: “ se eu fechar os olhos eu me lembro até hoje, de todas as árvores que eu plantei em mais de 2000 hectares .Foram mais de um milhão e meio de árvores plantadas. Com o tempo você cria amor, cria um vinculo, uma dependência,   de uma coisa que você estava criando, uma nova floresta. A alternativa foi me recolher, e o PRAD não foi continuado.

Serra do Navio hoje apresenta ainda estruturas problemáticas, são mais de 96 eventos (nós chamamos de eventos  as situações geológicas), que podem vir a causar problemas futuros para a população que lá reside, como estabilidade geotécnica, casas com problemas, as barragens que não estão sendo monitoradas e não foram monitoradas. Em suma, uma série de problemas que compõem esse passivo ambiental do PRAD não concluído, inclusive, hoje é motivo de briga na justiça. Ação do Ministério Publico Estadual contra a Alto Tocantins.”
Mas, apesar de todo esse alerta, feito por um técnico da envergadura do Dr. Paulo Amorim, um homem de vasta experiência na área de recuperação de áreas degradadas, o Estado mantém –se  num silêncio sepulcral, com relação aos procedimentos criminosos dessa empresa no Amapá. A pergunta que não quer calar é: como Jorge Augusto consegue sair incólume de tantas demandas judiciais? Será que ele está só nessas falcatruas todas, ou tem gente graúda por trás de tudo?


Serra do Navio precisa de Socorro
Amorim sentencia que hoje a Serra do Navio, precisa da conclusão do PRAD. Ele faz uma avaliação da necessidade de ser investido para a conclusão desse trabalho que irresponsavelmente foi interrompido de R$ 60 milhões. Ele reconhece que é um processo complexo, algumas coisas têm que ser feita com urgência, pois os perigos que aquela comunidade corre não são poucos.
“Gostaria de completar o seguinte: Eu rogo as autoridades, que não negligenciem a recuperação de Serra do Navio. A Serra do Navio é linda, embora esteja feia “prá xuxu” e muito maltratada. Não se pode permitir que uma cidade de US$ 6 milhões, seja destruída, por uma população que não sabe gerenciar. E aí temos de fazer uma “mea culpa”. Hoje eu falo com muita liberdade, sem complexo de culpa nenhuma, pois eu não sou mais carioca, sou amapaense, Depois de 39 anos de Amapá, eu amo essa terra, eu quero se enterrado aqui, se Deus quiser. Se eu não amasse o Amapá, eu não estaria passando o sufoco que eu estou passando para poder manter o projeto REVECOM, ideologia REVECOM funcionando, mais, a Serra do Navio merece muito mais. Eu rogo ao governo do Estado que se preocupe com aquilo, rogo aos representantes na Assembleia Legislativa do Amapá, que façam algo pela Serra, mais para valer, como eu fiz com meu dinheiro para garantir a área do Cancão que hoje é um parque.” Este é o apelo dramático que faz o Dr. Paulo Amorim as autoridades do Estado.
De que ICOMI estamos falando

A reportagem do jornal foi até a casa de um dos funcionários símbolos da ICOMI. Ortiz Vergolino. Fomos recebidos em sua residência situada as margens do rio Matapi. Mantém a tradição da Vila Amazonas, do Staff. Sorridente ele nos convidou para sentar no pátio de sua casa, onde curtimos uma bela conversa, aliás, saudosa conversa. Matamos saudade daquela ICOMI. A ICOMI de gente trabalhadora e séria. Ortiz nos conta que lembra quando chegou recém formado na empresa. Jovem, inexperiente e foi imediatamente despachado para cuidar da ferrovia. “Lá fui adotado pelos grandes mestres. Aprendi tudo, mas tudo mesmo sobre engenharia ferroviária”
Ortiz conta com satisfação absoluta que conhecia cada dormente da ferrovia, do Porto até a Serra do Navio. “Conhecia todos e sabia quando cada um havia sido colocado lá. Quando eram retirados e quando tempo haviam ficado na ferrovia. Tínhamos um verdadeiro prontuário de tudo.” Orgulha-se.
Depois de uma viagem nas suas reminiscências, chegou o momento amargo da conversa: a venda da ICOMI. Ortiz detalha todo imbróglio que envolveu o litígio da ICOMI com o governo Estadual, que se recusou a receber o espólio da Companhia. “Estávamos prontos para deixar o Amapá pela porta da frente. Queríamos dar ao Amapá, ao seu povo uma empresa funcionando
Com relação à decisão do Estado de não aceitar o espólio Ortiz diz o seguinte: “Isso no futuro vai ser conhecido como um crime de “lesa ao Estado”, por que a ICOMI entregou uma empresa funcionando. No dia 31 de dezembro, trouxermos três Trens de minério de Serra do Navio, então estava tudo funcionando. No dia 1º era dever do governo chegar e assumir a empresa. Mais isso não aconteceu.
Quando perguntamos para o Dr. Ortiz Vergolino sobre essa ICOMI que está aí, ele desconversa. Mas reconhece que a mudança de nome do consórcio entre a Durbay e Tocantins para ICOMI é perfeitamente legal, contudo ressalva que são outros sócios.
“Não posso falar abertamente sobre o assunto por uma questão ética. Eu estava na reunião em que foi sacramentada a venda da ICOMI para a Tocantins, então prefiro não emitir um juízo de valor sobre a transação, mas o que deixo claro é que essa ICOMI possui outros acionistas e o que se ouve é que esta empresa já vendeu o minério pra um monte de gente e não entregou.”
Infelizmente foi uma profunda infelicidade nossa termos vendido para ele. Não escreve isso.
Na realidade essa declaração dada pelo Dr. Ortiz é em função do descumprimento por parte do “empresário” Jorge Augusto de tudo aquilo que fiucou estabelecido no contrato de compra da ICOMI. A Tocantins assumiu o ativo e também o passivo da ICOMI, mas entre outras gritantes falhas da empresa foi a paralisação do PRAD o que pode causar um tremendo embaraço para o Guilherme Antunes que hoje é vice presidente da WWF, uma das maiores ONGs do mundo e que defende de forma ferrenha a preservação ambiental. Talvez o mundo não goste de saber que os Antunes venderam uma empresa mineradora, que explorou manganês por 50 anos no Estado e saíram daqui passando a ICOMI para as mãos de um criminoso ambiental e que Serra do Navio, onde se localizam as jazidas exploradas pela ICOMI possui um grande passivo ambiental, descrito por Paulo Amorim.
ICOMI DE MENTIRA
Não há contradição no subtítulo. É que a ICOMI de Augusto Antunes não existe mais. Hoje um grupo empresarial tenta aplicar um estelionato empresarial usando o bom nome de uma das maiores empresas de mineração que já existiu neste País, mas é óbvio que o comportamento de seus sócios e o  “modus operandi” da empresa, ou seja, a ICOMI atual é bem, mas bem diferente da de outrora.



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