Moradora de rua e deficiente mental padece no pátio do PAI |
"Manoel" é um dos casos da desassistência social |
Caminhando pelas ruas, catando algum alimento nas lixeiras, vagando e conversando com a própria consciência; em suma, essa é a realidade que muitos doentes mentais enfrentam (não por vontade própria), hoje no Estado do Amapá e que, mais uma vez, o Tribuna Amapaense denuncia. As famílias que, num ato de insensatez e desamor, abandonaram essas pessoas, esqueceram-se do que é ser humano, esqueceram que naquelas pessoas abandonadas existem vivalmas. A culpa, porém, não é somente dos familiares, e sim de um conjunto de fatores: sociedade e poder público.
Celi dos Santos Ribeiro: um dos casos que já foi exposto no jornal |
Denúncias já foram feitas, muitos casos já foram expostos neste jornal, como o da Celi dos Santos Ribeiro, que teve uma vida acadêmica bem-sucedida, casou-se, teve uma filha e chegou a começar a construir certa fortuna: apartamentos, chácara e postos de combustível. Mas, posteriormente, ao apresentar distúrbios mentais, Celi encontrou o que ainda hoje muitos doentes mentais encontram: desassistência. Hoje Celi retornou ao seio de sua família e vem recebendo amor e atenção, o que tem ajudado e muito na sua convivência familiar e social.
Em declaração concedida à equipe do Tribuna, uma pessoa, que não quis se identificar, de dentro da Secretaria Estadual de Saúde (SESA) revelou que há mais de 10 anos o setor de psiquiatria do Estado do Amapá não sofre reformas na sua estrutura, e falou da atual situação do setor. "Existem 18 leitos que estão sempre lotados. A equipe que atende os pacientes é satisfatória, são quatro médicos psiquiatras e um corpo de oito enfermeiros e uma média de 30 pessoas no corpo técnico. Ainda assim, há uma lacuna muito grande no tratamento de doentes mentais e em determinados serviços, como os de atendimento, de suporte às famílias, de acompanhamento, pois muitas famílias abandonam os doentes, têm outras que não querem conviver com o paciente. Do mesmo modo, muitos pacientes não aceitam morar com a família e acaba indo para a rua."
Morador de rua procura alimento na lixeira |
Perguntada sobre como ocorre o atendimento de doentes mentais de outros municípios, a fonte anônima disse que todos os pacientes são atendidos em Macapá. "Não existe nenhum suporte para as famílias que vem de outros municípios. O maior problema é que falta investimento em todo o sistema de tratamento dos doentes mentais, desde o atendimento ao tratamento, medicamentos, transporte, apoio à família. Hoje o tratamento que é oferecido é o mínimo que se pode fazer, ainda assim, o Estado não atende à legislação brasileira. Nós não temos condições de receber todos os pacientes, o Pronto Socorro é muito pequeno para a grande demanda".
Para falar acerca desse assunto, os responsáveis pelo setor de psiquiatria da saúde do Estado do Amapá foram procurados, mas nenhum deles foi encontrado ou não quiseram ser encontrados e, portanto, não se posicionaram sobre os investimentos do estado no setor.
Segundo trabalho apresentado pelas acadêmicas Luciana de Almeida Colvero, Cilene Aparecida Costardi Ide e Marli Alves Rolim, no ano de 2002, intitulado "Família e doença mental: a difícil convivência com a diferença", criou-se na sociedade o costume de abandonar os doentes mentais devido ao estranhamento causado pelo comportamento destes. As autoras afirmam: "Desde o advento da medicalização e institucionalização das ações sobre a doença mental, podemos associar a representação da loucura construída sobre o modelo de exclusão social que 'refere-se ao isolamento de indivíduos de conduta desviante ou considerados indesejáveis pela comunidade'".
Sobre a questão familiar, as autoras criticam preposições de que é dos familiares toda a culpa pela situação de abandono dos doentes mentais. "Não satisfazem as respostas que contam os familiares como sujeitos resistentes às orientações e, por conseguinte, considerá-los como 'maus familiares', culpando-os pela dificuldade de atingirem as metas institucionais." Ainda argumentando, as autoras lançam perguntas: "Por que os grupos de atendimento de familiares, depois de determinado tempo, ficam esvaziados? O que dificulta a aderência dos familiares dos portadores de transtorno mental aos tratamentos oferecidos pelos serviços?".
De fato, ao exporem essas perguntas, as autoras nos fazem perceber que existe ainda uma carência muito grande no que tange ao tratamento de doentes mentais na rede de saúde do Estado do Amapá e em todo o Brasil. Mesmo com a regulamentação de programas do Ministério da Saúde como o Programa Nacional de Avaliação dos Serviços Hospitalares (PNASH) e o Programa Permanente de Formação de Recursos Humanos para a Reforma Psiquiátrica, lançados em 2002 com o objetivo de realizar vistorias em todos os hospitais psiquiátricos públicos e conveniados ao SUS em 2002 e 2003/2004 e 2006/2007; de incentivar, apoiar e financiar a implantação de núcleos de formação em saúde mental para a rede pública, por meio de convênios estabelecidos com a participação de instituições formadoras (especialmente universidades federais), municípios e Estados, além de fomentar e apoiar projetos que aceleram e consolidam o processo de reorientação da assistência em saúde mental, respectivamente.
Uma análise didática
Segundo trabalho apresentado pelas acadêmicas Luciana de Almeida Colvero, Cilene Aparecida Costardi Ide e Marli Alves Rolim, no ano de 2002, intitulado "Família e doença mental: a difícil convivência com a diferença", criou-se na sociedade o costume de abandonar os doentes mentais devido ao estranhamento causado pelo comportamento destes. As autoras afirmam: "Desde o advento da medicalização e institucionalização das ações sobre a doença mental, podemos associar a representação da loucura construída sobre o modelo de exclusão social que 'refere-se ao isolamento de indivíduos de conduta desviante ou considerados indesejáveis pela comunidade'".
Sobre a questão familiar, as autoras criticam preposições de que é dos familiares toda a culpa pela situação de abandono dos doentes mentais. "Não satisfazem as respostas que contam os familiares como sujeitos resistentes às orientações e, por conseguinte, considerá-los como 'maus familiares', culpando-os pela dificuldade de atingirem as metas institucionais." Ainda argumentando, as autoras lançam perguntas: "Por que os grupos de atendimento de familiares, depois de determinado tempo, ficam esvaziados? O que dificulta a aderência dos familiares dos portadores de transtorno mental aos tratamentos oferecidos pelos serviços?".
De fato, ao exporem essas perguntas, as autoras nos fazem perceber que existe ainda uma carência muito grande no que tange ao tratamento de doentes mentais na rede de saúde do Estado do Amapá e em todo o Brasil. Mesmo com a regulamentação de programas do Ministério da Saúde como o Programa Nacional de Avaliação dos Serviços Hospitalares (PNASH) e o Programa Permanente de Formação de Recursos Humanos para a Reforma Psiquiátrica, lançados em 2002 com o objetivo de realizar vistorias em todos os hospitais psiquiátricos públicos e conveniados ao SUS em 2002 e 2003/2004 e 2006/2007; de incentivar, apoiar e financiar a implantação de núcleos de formação em saúde mental para a rede pública, por meio de convênios estabelecidos com a participação de instituições formadoras (especialmente universidades federais), municípios e Estados, além de fomentar e apoiar projetos que aceleram e consolidam o processo de reorientação da assistência em saúde mental, respectivamente.
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