"Bem aventurados os pobres, por que eles serão acolhidos pelo Senhor". A bem aventurança da Bíblia é diferente desta que criei, pois fiz de propósito para evidenciar a dignidade de um gesto de pureza, de simplicidade, de grandeza, de personalidade, de sentido de ser humano. Hoje, agradeci a Deus por me haver agraciado nessa condição de SER HUMANO, através do casal de pobres de bens materiais, que muitos chamam de mendigos ou moradores de rua.
Esse casal, "mora" debaixo de um viaduto, foi protagonista nacional em programas de televisão, rádio e jornais. Que fizeram para merecer tamanha honraria? Nada de mais, diriam alguns, ou fizeram papel de otários, diriam outros. Os comentários a respeito do gesto desse casal deixou muitos boquiabertos, outros estupefatos, outros com inveja de não terem sido estes os protagonistas.
A nação brasileira tem orgulho de pessoas como esse casal e despreza pessoas que se apossam do dinheiro público através de meios corruptos, de malversação, de conchavos. Esses meios, por incrível que pareça ou por coincidência foram mostrados na televisão pela novela Cheia de Charme. Um advogado de renome , o filho de um grande empresário e seu gerente de confiança, tramaram desviar dinheiro da construção de uma obra de grande vulto. Como a tramóia tem pernas curtas, o advogado recém formado que trabalhava no escritório do advogado de renome, descobriu a tramóia e denunciou o fato. Teve o denunciante oportunidade de ganhar dinheiro pelo silêncio, calando-se para sempre. Não o fez. Por que? Perguntariam alguns mais céticos ou de convicção menos reforçada. Denunciou porque sua formação moral e sua conduta profissional falaram mais alto. Isto é chamado de dignidade da pessoa humana. Isto é ética profissional.
O casal que mora debaixo do viaduto por que não tem casa para morar e talvez nem família tenha ou se a tem por ela foi abandonado, deu um grande exemplo de dignidade pessoal, de ética humana, e também mostrou que mesmo sendo pobre de bens materiais é rico em dignidade. Para eles, R$ 20.000,00 é uma singular fortuna, o que para muitos não passa de troco. Com esse dinheiro suas vidas mudariam substancialmente, mesmo por pouco tempo, porém teriam bens que a vida sempre lhes negou. Com esse dinheiro o viaduto deixaria de ser sua casa, e muito além do horizonte construiriam seu lar. Sabe-se lá quanto tempo levariam para voltar ao velho "casarão/viaduto".
Não pensaram muito. Tomaram a decisão que a consciência e a dignidade do ser humano ditou. Chamaram a polícia e entregaram o dinheiro achado, deixado por algum gatuno que não tivera tempo de levá-lo, talvez por que pesava muito - eram sacos cheios de moedas.
A polícia acionou seu aparelho estatal e encontrou os verdadeiros donos do dinheiro - um restaurante que havia sido assaltado. O empresário, em reconhecimento, não deu a chamada gratificação, mas convidou-os para almoçar, acomodou-os da melhor forma, prontificou-se a ajudá-los a recomeçar a vida através do trabalho, oferecendo-lhes participar de cursos profissionalizantes. Tudo isso somado tem custo monetário, mas o preço é incalculável, transcende o material, o pessoal. É de valor imaterial, não tem preço, por que vai durar para sempre e mudar em definitivo a vida deles.
Que bom seria que no universo político, empresarial, funcional público ou em qualquer ramo da atividade econômica tivéssemos casal ou casais igual a esse que morava debaixo do viaduto. Dignos de respeito, de gratidão, de personalidade, de dignidade, isso e muito mais. O Brasil agradece a esse casal, o exemplo de dignidade, honradez e de moral humana. Ser pobre de bens materiais não é SER INDIGNO DE SER PESSOA, mas uma questão de necessidade. Ser pobre de bens materiais é melhor do que ser rico corrupto, desviar verbas públicas, fazer conchavos em licitações, vender lobo com pele de carneiro.
Atenção autoridade competente. Hoje, 10/07/202, confirmo que as valas gêmeas ainda estão abertas. Só quero saber pra quem mandar a conta da revisão do meu Pálio 2004.
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