por Fabiana Figueiredo
Uma festa de tradição, amor e mistério retratada pelo próprio povo. Assim se descreve a Festa de São Tiago na vila histórica de Mazagão Velho, festejada há 235 anos pelo povo mazaganense e convidados.
Desde 1777 a festa é comemorada todos os anos durante a segunda quinzena de Julho, anualmente, e com ajuda da população local. Este ano, a festividade iniciou na segunda feira dia 16, após ter visitado no final de semana a capital amapaense, e segue até sábado, dia 28; não esquecendo o dia 25, quando a cidade recebe centenas de espectadores da encenação a céu aberto da batalha entre mouros e cristãos.
A reportagem do Jornal Tribuna Amapaense se deslocou até o município de Mazagão, na quarta-feira (25), para acompanhar a festividade daquele dia.
Para chegar a Mazagão Velho só é possível por transportes terrestres (carro particular ou algumas vans que cobram R$ 11 reais, somente para a ida). Através da rodovia AP-010, o caminho logo leva ao Rio Matapi, onde se encontram as balsas de transporte de veículos gratuitamente que nos leva até a continuação da rodovia. Depois, passa-se à ponte construída sobre o Rio Vila Nova, e Mazagão Novo. Como o dia 25 é de festa e de grande atrativo populacional, a viagem pode demorar de 1 hora e 15 minutos a 3 horas, por causa do engarrafamento.
Mazagão Velho, com um pouco mais de 17 mil habitantes (de acordo com dados do Censo 2010, do IBGE), recebeu centenas de visitantes que, mais tarde, tornaram-se os espectadores da Batalha.
Após a Missa presidida pelo Bispo Dom Pedro Conti, os fiéis participaram do emocionante Círio com as imagens e os representantes de São Tiago e São Jorge até a Igreja de São Tiago. Após o Círio, na Sede Principal da festa, o Governador do Estado, Camilo Capiberibe, sua esposa, Cláudia Camargo, o Prefeito de Mazagão, mais conhecido como Marmitão, Secretário de Cultura, Zé Miguel, Deputado Federal, Bala Rocha, Presidente da Assembleia Legislativa do Amapá, Júnior Favacho, e o organizador da festa, André Luiz Jacarandá, falaram um pouco sobre a Festividade e realizaram o Leilão de bens oferecidos pela comunidade.
Ao meio-dia, ocorria a passagem do personagem Bobo Velho pelas principais ruas do distrito, e as pessoas jogavam bagaços de laranja. Este personagem representa o Mouro enviado ao acampamento Cristão para espioná-los; o ato de jogar bagaços de laranja representa a reação dos cristãos ao perceberem a presença do espião, que jogaram os objetos que viam pela frente, até pedras. Quem representa o Bobo Velho, tradicionalmente, não é nomeado, pois, como diz uma moradora, "sempre existiu esse mistério, poucos sabem quem é o Bobo Velho."
Mais tarde, ocorria a saída do Arauto, batuque, anunciando o início da representação da esperada batalha. A encenação iniciou por volta de três e meia da tarde.
Com muitos espectadores, a encenação começou com o convite à batalha dos mouros aos cristãos, que aceitaram. Depois, os cristãos enviaram a figura do Atalaia ao acampamento mouro para levar a bandeira moura até seu acampamento, era a revanche dos cristãos. Percebendo que os inimigos haviam pegado sua bandeira, os mouros atiraram no Atalaia, mas, mesmo ferido, conseguiu jogar a bandeira para a tropa cristã, dando gritos de alerta.
Não conseguindo sucesso, os mouros enviaram os seus, mascarados, para vender crianças cristãs e conseguir dinheiro para comprar armas e munições. Percebendo isso, os cristãos trataram de fazer a emboscada, matando os mouros mascarados.
Como forma de reconquista da bandeira, os Mouros tentaram fazer a troca pelo corpo decapitado do Atalaia, mas foi em vão. O corpo foi reconquistado pelos cristãos, mas os mesmos se negaram à entregar a bandeira moura, piorando, assim, ainda mais a fúria moura.
Ao entardecer, a batalha recomeçou e os cristãos pediram a Deus que prolongasse o dia a fim de que pudessem vencer a desesperada luta. Misteriosamente, as figuras de São Tiago e São Jorge aparecem na batalha, salva os cristãos e os dá a conquista das terras mazaganenses, levando os mouros à derrota. À noite, há a festa com a dança do Vominê, representando a vitória Cristã. A festa inicia às dez horas da noite, com cidadãos de Mazagão e turistas, sem hora para acabar.
O dia é cansativo, mas se percebe a fé e tradição do povo mazaganense, principalmente dos homens, os únicos a participarem da encenação.
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