A política é, segundo os gregos, "administração de cidades". Mas, como administrar as cidades sem as divergências de ideias? Impossível! Cada um tem uma maneira muito peculiar de resolver problemas. O estudo das ideias deu origem a várias ciências que estudam o comportamento humano e seus movimentos: Sociologia, Antropologia, Filosofia, Psicologia e etc. Todas elas desenvolveram teses sobre o comportamento do homem em sociedade.
Dentre todos os estudos, o mais famoso foi o do filósofo Thomas Hobbes, com a obra intitulada "O Leviatã". Nessa obra, Hobbes discursa seu pensamento sobre o comportamento do homem. Segundo ele, somos individualistas por excelência. O homem está sempre colocando na prioridade de suas ações o interesse pessoal em detrimento da vontade do outro ou do coletivo. Foi assim que o homem viveu no Estado Natural. A lei do mais forte, sem limite. Para o estado de guerra constante entre os homens, Hobbes apontou como solução que o homem abrisse mão de sua liberdade, criando assim um contrato social, com a figura do Estado (O Leviatã) regulando a vida em sociedade, estabelecendo regras para cada indivíduo e, evidentemente, a punição para os que as descumprissem.
Os partidos políticos seriam, em tese, a agremiação que reúne homens com uma convergência ideológica. Na gênese pode ter sido assim, porém, hoje a realidade é bem outra. No Brasil, por exemplo, isso acontece só no papel, pois a prática tem mostrado que não funciona. Os próprios políticos partidários pouco se lixam para as ideologias deste ou daquele partido. Filiam-se mais preocupados com as suas possibilidades de eleição, do que com a ideologia que aquela agremiação apregoa. Tanto é verdade que a justiça eleitoral estabeleceu uma cláusula de barreira para os "parlamentares bandoleiros", a Lei da Fidelidade Partidária, ou seja, a norma versa que o mandato não é do indivíduo, mas sim do partido e aquele que eleito por uma sigla e sem justa causa dela sair, deixa lá o mandato que ganhou.
Essa ignorância ideológica no Brasil remeteu os mandatos e as siglas, principalmente as "nanicas", a um verdadeiro mercantilismo. Em todas as eleições o que se vê é um grande balcão de negócios para viabilizar projetos de poder.
Essas distorções de objetivo e função da política partidária levaram o Brasil a apequenar a importância da política e dos políticos. Política e partidos estão estigmatizados, são inconfiáveis e considerados corruptos. Em muitos lugares, sobretudo nos estados pequenos - e nas cidades mais ainda - esses equívocos e a falta de maturidade política levaram a demonialização das coisas relacionadas a grupos (partidos) adversários no campo das ideias. Entre as principais demonializadas estão às cores, palavras, objetos. Por exemplo, se um grupo político usa uma cor, aquela cor para os adversários são satanizadas. Amarelo é do PSB, azul do PDT, vermelho do PT, verde dos Verdes etc. No período de campanha ou em início de governo, Deus que te livre se entrares com a "cor errada" num ambiente onde ela é hostilizada. Você pode ter sido "general" eleitoral, mas os aliados vão te olhar com a seguinte indagação: "Será que esse cara é traíra?".
Exemplo clássico é que no governo do Waldez os marqueteiros e os iluminados palacianos foram buscar na palavra "harmonia" uma forma de desqualificar o governo socialista comandado por Capiberibe (Pai). Os constantes desencontros entre os poderes no período de 95/2002 levaram os adversários políticos a chamarem o governo socialista de um governo desagregador. Quando os socialistas recuperaram o poder em 2010, a palavra "harmonia" foi pra lata do lixo. Nem ligaram para a semântica da palavra, seu significado. "Harmonia" para os amarelos virou sinônimo de roubalheira e, claro, em cada discurso dos amarelos estes acusavam os que fizeram parte do governo e os militantes pedetistas de estarem no grupo da "harmonia". A palavra demonializada ganhou outros sentidos menos nobres. Harmonia, na essência, harmoniza, junta, agrega; coloca cada coisa no seu lugar - menos para os amarelos. "Harmonia aqui não!", principalmente a harmonia que eles atribuíram aos pedetistas. Bem passado dois anos de muita e intensa troca de acusação entre os poderes, parece que todo mundo volta a usar o verbo "harmonia". São os vai e vem da vida.
Na Assembleia o presidente em exercício, Júnior Favacho, afirmou que tudo naquela Casa vai funcionar, mas com o firme propósito de buscar a harmonia com os poderes. Desembargador Mário Gurtiev, presidente do Tribunal de Justiça, há pouco mais de 15 dias disparou contra o executivo. "Eles gostam de meter a mão no dinheiro dos outros", porém afirmou no mesmo diapasão que as portas do Tribunal não foram trancadas e que busca a... é isso mesmo, a "harmonia" - e lógico que o governador Camilo Capiberibe também tem falado que quer entendimento entre os poderes, que traduzindo para o bom português é a tal harmonia, outrora satanizadas e banida do dicionário amarelo.
Vamos verdadeiramente harmonizar com a prosperidade, o crescimento qualitativo e com a melhoria da qualidade de vida do povo amapaense. Vamos amadurecer politicamente, está na hora! Sem sectarismo e projetos políticos menores. Pode ser uma utopia, mas este é o meu sincero desejo.
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