sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Antenados - Vampiros, lobos, diretores e grilos


Em 1940, a Walt Disney lançou "Pinocchio", animação cinematográfica baseada na história escrita por Carlo Collodi. Como bem sabido, Pinóquio é um brinquedo de madeira criado e amado por Gepetto, e ganha vida graças à magia da Fada Azul.


No meio-termo entre boneco e criança, Pinóquio sonha ser "um menino de verdade", de carne. Mas para que Fada Azul realize tal desejo, Pinóquio precisa provar seu real valor. Nesse ponto do filme, enquanto acertam-se as condições da jornada purgatória de Pinóquio, desnuda-se a existência de Grilo Falante, o narrador-personagem da história.

O inseto é escalado então para ser a consciência do boneco, e, assim, guiar os passos errantes de madeira pelo caminho correto. Recheado de sabedoria, o Grilo vez ou outra dispara alguma pérola, sendo esta mesma a sua função como consciência.

O filme corre. Está para atingir o clímax. Vem o susto: Ao dar-se conta de que Pinóquio enveredou-se por caminhos tortuosos - abandonou a escola e optou pela vida de ator no circo -, o Grilo, tristonho, derrotado, conformado, vem com esta: "Pra que um ator precisa de consciência, afinal?". E assim desiste do boneco estouvado e ingênuo.

E a que ponto nós chegamos? Ora!... Deveríamos ter atentado ao conselho do Grilo! Quando crianças, diante do vídeo cassete, deveríamos ter entendido a mensagem contida ali: Não se pode confiar em atores.

Veja o exemplo da pobre e insossa Kristen Stewart. A atriz, que interpretou a musa lupino-vampiresca na saga "Crepúsculo" adaptada ao cinema, já não se mostrava muito leal nas telonas. Vivia dividida entre a alcateia e a catacumba. Numa hora amava o vampiro, na outra, o lobo.

Nossos corações deveriam ter previsto o golpe que nos sobreveio... No entanto, não prestamos atenção ao conselho do Grilo, e, agora, há meses padecemos com a descoberta de que Kristen traiu o namorado Robert Pattinson (por sinal, intérprete do já citado vampiro da trama "Crepúsculo") com o diretor de outro filme, no qual ela atuou como Branca de Neve.

Notícia velha? Não. Reflexão. Não é de nos causar revolta o bacanal cinematográfico?! Primeiro, no caso de Kristen, vem a traição em cena. Daí então, apenas um passo para o adultério na vida real. Dizem, passados um ou dois meses, que o casal está se acertando. Mas, de que nos serve? O estrago já foi feito!  

 Bem, cito aqui o infame caso de Stewart porque este é o escândalo mais recente, colapso ainda quentinho, saído do forno. No entanto, não nos faltam traumas ao longo da história do cinema... Elizabeth Taylor, Mel Gibson, Ashton Kutcher, Woody Allen (que traiu Mia Farrow com a filha adotiva da atriz!), Brad Pitt, etc. Como pode? Não pode!

Por outro lado, deve-se considerar o seguinte: Será que esquecemos que esses atores não vivem, de fato, a ficção que interpretam? Vendo-os em cena, brilhantes, sorridentes, polidos, materializamos neles todos os finais felizes possíveis. Pensamos que seus corpos, almas, corações são os responsáveis por carregar para fora da ficção a perfeita alegria conjugal, e até outras perfeitas alegrias mais.
Então eles traem. Caem. Fraquejam. Ocultam. Mostram. Mostram demais... E o sonho fenece. O público definha, vendo suas ilusões desabarem uma a uma. A quimera concretizada se mostra, então, pura e bruta ilusão. Quimera, simples quimera, afinal.

Os atores traem a nós, o pobre público, quando traem uns aos outros. Mas... Fazer o quê? Penso que é hora de nos divorciarmos. Deixarmos que o mundo dos atores adormeça assim que caia o pano. Não queiramos mais transportar a vida irreal dos palcos, das telas, para a vida real e fria fora deles.

Fiquemos só com os livros. Os livros não nos traem, não nos iludem capengamente. Os livros, nobres camaradas, nos iludem eficazmente e por completo! Os personagens que ali desempenham seus papéis jamais trairão ninguém ou deixarão de amar alguém ao dobrar-se a última página, porque não existem além da trama (existem?), porque não vivem para além de sua própria existência de personagem. O cinema bichou a vida. A vida bichou o cinema. 

Pois sim, mas o livro não. O livro permanece a mentira mais inexorável e perfeita.

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