sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Antenados - Aqueles que nunca estão

Não sei ao certo quando tudo isso sobre o que quero discorrer aqui começou a acontecer, mas a popularização dos telefones móveis parece ser o ponto mais seguro a se indicar. De repente, não era mais uma questão de jogar Snake nos tijolões da Nokia ou acender a lanterna do aparelho quando a luz fosse embora. A coisa toda se transformou em algo muito maior que um comércio, passou a categorizar estilos de vida. Como era de se esperar, celulares se tornaram mais uma forma de a elite se autoafirmar, e as classes intermediárias aspirarem ao elitismo, ostentando muito mais do que de fato possuindo.

Com todo esse sistema forte de consumismo, as indústrias dos celulares passaram a trabalhar pesado a fim de mantê-lo. Vieram as telas coloridas, o infravermelho (para quem não sabe, os arquivos antes eram passados de um aparelho a outro assim), depois o bluetooth, em seguida os cartões de memória, e aí a coisa destrambelhou de vez com o surgimento dos smartphones.

A Apple lançou em 2007 seu primeiro iPhone, o iPhone 2G, e as pobres almas do mundo inteiro nunca mais tiveram sossego. Foi uma verdadeira corrida armamentista. Ninguém mais quis saber de outra coisa além de possuir os aparelhos mais modernos do mercado, que vão se sobrepondo uns aos outros sem pausa para respirar entre os lançamentos. 

A possibilidade de acesso à internet via celular, em qualquer canto que se esteja, abriu caminho para aplicativos interessantes, que possibilitam, por exemplo, fazer "check-in" em todo lugar que você chegue, numa espécie de cidadezinha virtual em que você pode até mesmo se tornar prefeito dos locais que mais frequenta.

A vida virtual na palma da mão tomou tal proporção, que o fenômeno observado agora chega a assustar. Parece-me que as pessoas simplesmente pararam de estar presentes. Elas sempre estão em outros lugares que não são os lugares onde seus corpos se encontram, com celulares sempre grudados a si. 

Comer um sanduíche já não é mais comer um sanduíche. Na verdade, qualquer refeição se tornou uma potencial obra de arte, em que o artista ordinário se sente incumbido do dever estético e social de bater uma foto do prato e postar a imagem nas redes sociais cibernéticas. Loucura pensar que refeições entre amigos íntimos já não existem, mas é exatamente isso. Agora todo tipo de processo alimentício envolve pelo menos mais quatrocentos indivíduos não presentes à mesa em forma corpórea.

Em que pesadelo moderno nos metemos?! Estar em qualquer lugar, com pessoas que você ama ou com as quais se diverte, já não é uma questão de aproveitar o momento. É mais um fardo pesado, uma obrigação de mostrar ao mundo - ao seu mundo social da internet - que você está tendo aquele momento. E o socializar na rede acaba tomando ares paradoxais: Fixar-se tão fortemente ao que acontece na telinha do celular, compartilhando e recebendo exclusivamente por ali, torna você a pessoa mais antissocial do mundo. E não de um jeito misterioso ou interessante. Mas de um jeito vazio, apático, catatônico ou esquizofrênico (rindo do nada, falando sozinho...).

Conheço muita gente que já não vive se os celulares não estiverem a um palmo delas. Entretanto, esse texto não é dedicada a ninguém em especial. É só mais uma forma de lembrete (tanto para os viciados quanto para os que se julgam moderados): Existe algo mais. O momento, muitas vezes, vale bem mais por si só. E você perde as melhores partes dele porque estava distraído demais postando uma foto na rede ou verificando suas atualizações. 
Aquelas pessoas na telinha do celular não se importam realmente com você. Quanto tempo você passa sem vê-las? Com que frequência elas estão ao seu lado, aturando suas oscilações de humor e compartilhando com você o que não é interessante? Elas curtem trezentas fotos suas por dia, mas isso não significa nada. Afinal, é só um clique... Quem se importa mesmo é aquele cidadão sentado ali, aquele que atura você frente a frente, pessoalmente, que está presente e quer saber de verdade como foi o seu dia (não simplesmente o que você comeu ou com quem mais você estava naquela festa ótima de ontem à noite). Essa é a pessoa que importa, mesmo quando você insiste em (des)conversar tendo uma parte da atenção focada nela, mas os olhos cem por cento fixos no absurdo da tela. 

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