por Roberto Gato
Diz-se que a palavra tem poder. Se
bem utilizada, edifica e transforma. Mal aplicada, fere, machuca e ofende causando
traumas na alma do sujeito com seqüelas irreversíveis.
Os veículos de comunicação devem
ser livres, todos têm, constitucionalmente, o direito à informação, mas a mesma
carta responsabiliza criminalmente os que ofendem, injuriam, caluniam. Quando
se faz um programa de rádio, o que é dito através dos microfones devem ser
sobepesados, pois do outro lado os rádios ouvintes merecem além da boa
informação, respeito. Comentários, avaliações ponderações subjetivas do
radialista e, por ser pessoal se transforma sempre num vôo perigoso por sobre o
abismo da opinião. Ai então é que a coisa fica séria.
Na manhã de sexta-feira (8), início
da quadra momesca um trio de nordestino faziam um programa de rádio que se
propõe ser de radiojornalismo e com comentários analíticos dos fatos e dos atos
que acontecem no Amapá e até no resto do mundo, pois embora um deles achar que
o Amapá está fora, ou na opinião dele transparece para os que chegam às terras
de Macapá, que nossa capital está fora do mundo racional, culturalmente correto
e cristão, fazemos parte do mundo apesar da nossa cultura, pois para ele,
Fassi, ela é bizarra e pagã.
Nordestino tem em todo lugar e
são pessoas maravilhosas. Trabalhadoras e produtivas. São Paulo com certeza não
seria essa potencia econômica sem o braço nordestino. Uma mão de obra barata e
abundante. Sobre tudo porque a seca sazonal do sertão nordestino é convite para
o abandono de tão querido chão, que Luiz Gonzaga cantou tão bem. Só deixo meu
Cariri, no último pau de arara. Deixou.
Falo que eram três nordestinos só
para enfatizar que se tratava de brasileiros de outra região, mas falavam do
Amapá, óbvio. E como invoquei a Constituição Federal acima, para justificar o
direito a informação, a invoco novamente para dizer que no artigo 5°, inciso
VI, está garantido o direito de ir e vir em todo o território nacional em tempo
de paz. Como não vivemos em guerra, graças a Deus, venham de onde vierem, só
respeitem nosso chão, nossa história e nossa cultura.
Fassi! O engenheiro Sérgio
L’roque, um dos mais competentes engenheiros amapaenses e que um dia foi também
do rádio, inclusive dono de uma das vozes mais belas desse chão, usou a
criatividade para homenagear a cultura amapaense quando da construção de uma
obra de utilidade pública. Uma Caixa d’água. Aquilo é uma caixa de marabaixo,
nossa música raiz. O Amapá Fassi, diferente do Piauí, onde a população negra
representa a absoluta minoria na composição étnica (7%) daquele grande estado
brasileiro, a presença negra na nossa composição étnica é muito forte e o
marabaixo faz parte da herança cultural dos nossos antepassados
afro-descendentes. A caixa é o instrumento de percussão Fassi que dá ritmo a
esta música. Não é de Umbanda, que, aliás, apesar do teu preconceito para o
culto afro, a Umbanda é uma religião de origem africana e o Brasil é um País
laico. Não tem religião oficial e a Constituição no artigo 5º, inciso VI diz
que é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o
livre exercício dos cultos religiosos e garantida na forma da lei à proteção
aos locais e suas liturgias. Não há paganismo na Umbanda, pois embora com
denominações diferentes das demais religiões cristãs, a Umbanda também, cultua
seus santos e Deus com suas peculiaridades naturais. Você cultua algum?
Por derradeiro Fassi, o Totem que
está fincado na Rodoviária de Macapá e uma simbologia indígena sim e representa
e homenageia os habitantes primitivos do Brasil, nas suas mais diferentes
etnias, como os Tremembés que não são reconhecidos como índios em seu estado
natal cujo o topônimo Piauí deriva da língua indígena Tupi, que significa rio
das piabas.
Eu fazia meu exercício matinal e
escutava o grande radialista GB o maior do Norte e Nordeste do Brasil. É que
ele que se adjetiva assim e não vou contestá-lo e ouvi essas barbaridades
advindas de sua boca. Muda de posição comigo, faça exercício físico, ligue o
rádio lá no Piauí e eu mais dois amapaenses apresentando um programa de rádio e
falando que a Batalha do Jenipapo, foi uma piada e que esse negócio de Cavalo
Piancó, Samba de Cumbuca, Congada e etc é uma anarquia?
Aliás, nossa cultura já foi
vítima do preconceito de outro nordestino, o Procurador da República João
Bosco, que entre outras atrocidades mandou prender o saudoso Pavão. Imagina
isso! O Mestre Pavão considerado um baderneiro porque comemorava o ciclo do
marabaixo. Aliás, Pavão foi um baluarte na perpetuação dessa musicalidade amapaense.
Você pode falar o que acha
parceiro, mais fala baixo e pra teus negos, rapaz. Respeita as caras. Tá na
hora de nós macapaenses começarmos a sermos mais ufanos com nossas coisas, se
não qualquer bichinho de orelha se acha no direito de pisar no que é nosso.
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