sexta-feira, 8 de novembro de 2013

ENTRELINHAS

Antecipações e manchetes de jornal!


Muitos de nós passamos por situações em que ficamos com a impressão de já as termos vivenciado. Algumas vezes advém a sensação de que as pessoas nos antecedem em dizer ou fazer aquilo que ainda estamos elaborando. Em outras mais comuns, temos a convicção de sabermos o que farão ou falarão, a cada momento, os que nos rodeiam.  Nessa semana vivenciei tal impressão! Algumas das coisas que me vieram à mente foram ditas por outros antes de mim. Enquanto acessava a rede social e pensava sobre como a mídia tem superestimado a questão do vandalismo e se recusado a apresentar as causas das manifestações, encontro um texto de Andrew Costa afirmando: 'Hoje, quando voltava pra casa, ouvi 5 minutos de cobertura "ao vivo" da manifestação na Avenida Paulista. Foram 5 minutos de muito "mascarados", "violência", "confronto", "ruas fechadas" e "trânsito caótico". "Vandalismo" parece que virou vírgula. Ao fim dos 5 minutos a repórter termina a passagem dizendo que nenhum patrimônio público foi depredado, embora todos sejam "vândalos", "mascarados" e "violentos". Os motivos da manifestação? Cinco minutos deve ter sido pouco no rádio, esqueceram de noticiar'.

O texto casava com meus pensamentos de forma tão imbricada que poderia ter sido escrito por mim. Ainda entretido com tamanha similaridade, passeei os olhos por outras informações e me defrontei com a notícia de manifestações populares na Itália. Um canal de notícias que sempre reporta as manifestações no Brasil como vandalismo (a esmagadora maioria da mídia brasileira faz isso) noticiou o fato com a seguinte manchete: "Jovens descontentes com governo enfrentam polícia em Roma". Imediatamente me coloquei a pensar sobre como a mídia trata eventos equivalentes de forma distinta segundo seus interesses e sobre como a notícia é usada como processo ideológico. É preciso dizer que se enganam aqueles que teimam em acreditar que a grande mídia é objetiva e imparcial. 
Os processos de manifestações no Brasil, Europa e mundo árabe, embora tenham particularidades, seguem o mesmo padrão em suas causas e formas de atuação. As imagens do evento em Roma mostram, como no Brasil, pessoas mascaradas, quebrando vidraças e enfrentando a polícia. Entretanto, a manchete e a forma de tratar a notícia cria a impressão de que lá fora há pessoas cultas e engajadas em questões sociais, enquanto aqui temos vândalos cuja diversão é destruir o patrimônio público e privado. Essa manipulação na forma de noticiar os fatos gera a ideia de que no Brasil não vale a pena participar de nenhuma ação reivindicatória e o status quo segue mantido. Aqueles que absorvem acriticamente o material da grande mídia assumem uma postura de inércia local enquanto enfatizam a criticidade, a politização e o envolvimento das pessoas de "nações desenvolvidas".

À reportagem do jornal com as imagens dos confrontos e destruição foi apensada uma pergunta: "Como seria a manchete se a manifestação fosse no Brasil?" Passei adiante a imagem em minha rede social e pensava em discutir a ideia. Mas pouco depois vi que não precisava me preocupar em responder, pois minhas compreensões foram novamente antecipadas por outra pessoa. Assim em vez de escrever o que estava formulando, vou simplesmente dar voz ao Maurício Araújo, aluno da UNIFAP crítico e dono de uma pena articulada, como cabe a um universitário e futuro profissional das Letras. Segundo Maurício, a manchete se o evento fosse no Brasil:
'Seria "Vândalos Mascarados Destroem Patrimônio Público e Privado e Enfrentam a PM"! De fato, professor, muito curiosa (embora nem de longe surpreenda) a forma diferenciada de tratamento para manifestações equivalentes contra o Capital (neste caso, em Roma) por parte das emissoras de televisão, estações de rádio e internet. Isso não ocorre por acaso, a intenção é continuar a manipulação da opinião pública contra qualquer movimento popular reivindicatório por parte da elite conservadora dos meios de comunicação, tendo como objetivo a manutenção da criminosa política neoliberal dos atuais governos que intensificam cada vez mais os ataques contra o povo pobre e a classe trabalhadora, assim como intensificam (e isso ainda é possível) as transferências descaradas de recursos públicos para os grandes capitalistas, entre os quais se incluem os monopolistas da comunicação no Brasil através das grandes emissoras de televisão, estações de rádio e portais da internet. Sendo estes grupos tão beneficiados pelo Estado através de subsídios, empréstimos a juros quase inexistentes de bancos públicos, isenções fiscais, entre outras espécies de transferências de recursos e patrimônios públicos, não é de se admirar que se coloquem tão diretamente contra a população manifestante dado que a falta das ditas benesses questionada pela população trabalhadora levaria esses capitalistas à inevitável bancarrota! É necessário fortalecer cada vez mais a luta da classe trabalhadora contra toda a espécie de repressão, censura e criminalização dos direitos promovida, acima de tudo, pelo grande capital representado pela burguesia nacional através do Estado Neoliberal! Essa luta é nossa!'

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