Política é jogo
- BARBARA COSTA
Assim que cheguei a Macapá, nessas férias de janeiro, aconteceu de a TV estar ligada, e uma das primeiras coisas que fiz aqui foi assistir a um programa local em que um político do Estado dava uma entrevista. Daí então comecei a pensar em todos os motivos pelos quais desisti da política antes mesmo de ingressar nela.
Em minha cabeça, a política como está hoje não funciona. Que é esta politicagem que vejo por aí? Nem sei! A gente clama por um homem de bem, um único homem que seja... E nada. A maioria de nós espera por um representante que seja um pouquinho generoso, ao menos. Mas, na verdade, nem é generosidade o que devemos querer de um homem público. Talvez o problema já comece neste aspecto.
Pense bem. Uma pessoa generosa normalmente é aquela que nos cede favores e regalias, ainda que não as mereçamos. Ora, se o papel do político é nos representar, é suprir as necessidades da população, por que então esperar generosidade? Não queremos pessoas generosas, queremos apenas mulheres e homens justos no trono!
Ser justo implica em não fazer mais do que a sua obrigação. Implica em ter a consciência de que não se está ali para proveito próprio, pelo contrário... Os cargos políticos, em essência, não deveriam ser encarados como tronos. Se todos soubessem de verdade o que deve fazer um político, e os candidatos quisessem fazer o que devem fazer, talvez não se brigasse tanto por uma eleição...
Mas chega a me dar nojo o que vejo hoje, em todo canto. Não duvido que haja boas intenções em muitos corações. Oh, de intenções, há um mundo inteiro!... Mas um homem de política, ao assumir o poder, lida com tanto dinheiro e tanta autoridade, que talvez seja impossível a ele resistir. É preciso dois mandatos e um pouco mais para conseguir desviar o necessário à fortuna pessoal. Agora eu me pergunto: onde estão os que não se corrompem? É a esses que deveríamos querer. Será que existem?
Torna-se um vício: homens bons, aqueles que escolheríamos como representantes, normalmente não são ricos. E hoje, para se eleger, é preciso ter dinheiro. Porque o eleitor também se deixa comprar. Fomos educados mal. E só tem dinheiro quem alguma vez já esteve no trono, e desviou quantias para o próprio bolso. É uma roda difícil de ser quebrada.
O eleitor se deixa comprar porque não conhece outra maneira de dar utilidade a seus candidatos, a não ser em época de eleição. Em época de eleição, as pessoas veem se realizar tudo aquilo que elas sabem que não será feito quando se iniciar o mandato. Se a política está toda torta e desmantelada, como esperar que o povo aja corretamente?
Vejo bastante gente chamando o povo de burro. Gente que, em tese, compõe esse povo. Não tenho certeza de que só o que nos empata de mudar o mundo é a burrice... Sinceramente, estamos impedidos por coisas maiores que nós.
Muitos acreditam que as mudanças deveriam vir exatamente do povo, da classe que sustenta o sistema. Mas o que fazer, se as engrenagens do Estado hoje nos forçam a condescender com as estruturas corruptas/corruptíveis e opressoras? Forçam a gente a votar, a apoiar eleições calcadas em desvio e roubo, forçam a gente a permanecer miseráveis, para continuar implorando por migalhas em época de campanha e, consequentemente, elegendo os que são mais generosos ao raspar o prato.
A política é hoje um jogo nojento. Acaba afastando todo aquele que verdadeiramente desejaria representar as pessoas como deve ser. Política deveria ser uma questão de organizar verbas, arrumar a casa, cuidar bem dos filhos sem distinção entre nenhum. A política deveria estar muito mais próxima da figura de uma mãe dona-de-casa que ainda trabalha na jornada dupla, do que da imagem do executivo duvidoso, que assina contratos escusos e despacha pessoas.
Causa-me um fastio tremendo, coroado pelo nojo, pensar em política nos padrões de hoje. E se o jogo político afasta exatamente aqueles que mais deveriam desejar brincar - os jovens com suas esperanças e seu almejo de mudar o mundo - é sinal de que a brincadeira está, no mínimo, estragada por quem já deveria ter ido dormir faz tempo.
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