sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

PIONEIRISMO




Pedro Nery da Cruz (in memorium)


"A partir de 1960 o meu pai se transferiu para o Mercado Central e ai foi criado o Bar São Luiz de Gonzaga que depois foi renomeado Bar Du Pedro, onde trabalhou por 34 anos". 
Luiz Gonzaga Sandim Nery - filho








Na cidade onde não faltam quiosques na orla, o visitante encontra roteiros que conciliam praças, parques e museus, tudo logo ali, bem pertinho dos locais que tem como cenário o majestoso Rio Amazonas. Mas, se você olhar "sob os ombros", vai ver majestosa letras escrito Bar Du Pedro, na fachada de um dos raros monumentos arquitetônicos da Macapá antiga, o Mercado Central.
De acordo com Alcilene Cavalcante o Bar du Pedro, no Mercado Central, é, talvez, o mais antigo bar de Macapá. Suas paredes e prateleiras contam parte da história da cidade. Entre garrafas de bebidas, a história é contada através de fotos de prédios, solenidades, esporte e de autoridades e gente simples que frequentava o bar. Há também recortes de jornais emoldurados e objetos antigos. 


Uma pessoa que reinou atrás do balcão do famoso bar foi Pedro Nery da Cruz, seu proprietário, que vivo estivesse, teria completado no dia 15 de janeiro, 99 anos de idade. 


Essa semana o editoria do Pioneirismo do Tribuna Amapaense homenageia este homem que na sua humildade e sabedoria adquirida pela convivência   com os clientes e que ensinou aos 11 filhos que a educação e a democracia são importante para o cidadão brasileiro. O penúltimo da grande prole do Pedro Luiz Gonzaga Sandim Nery, é quem forneceu as informações contidas nesse texto.
O cidadão Pedro Nery que emprestou seu nome ao um empreendimento que se tornou referência histórica na capital amapaense o Bar Du Pedro e que está registrado em todas as fotos espalhadas pelo mundo, do tradicional Mercado Central, nasceu em Macapá em 1915, quando ainda faziamos  parte do Pará. 

Teve uma infância passada na Macapá antiga correndo pela "praia" do Rio Amazonas, quando veio perder os pais e como o mais velho de quatro irmãos, aos 12 anos, se dirigiu a Belém e lá se espalharam em casas de amigos. "Meu pai foi trabalhar em um restaurante de um casal português que o "adotou" e ali ficou até aos 22 anos de idade. Logo em seguida se tornou taifeiro de um barco a vela, o Luiz Gonzaga, que fazia viaje entre Belém/Afuá/Macapá com carteira assinada".

Pedro Nery aos 25 anos conheceu Maria Dalva Sandim Nery,  que tinha 17 anos, e se casaram e nasceram os 11 filhos. 

Retorno a Macapá
Em 1947, o Amapá já desmembrado do Estado do Pará e transformado em Território Federal pelo presidente Getulio Vargas, que nomeou o então Capitão Janary Nunes para governar esse novo torrão pátrio, Pedro retornou a sua terra natal. "Meu pai aos 47 anos de idade retornou, pois estava acontecendo uma revolução na estrutura da cidade que se tinha tornado um canteiro de obras. Se uniu ao seu primo Clóvis Dias e montaram uma loja de material de construção, no bairro do Trem, na Avenida  Cônego Domingo Maltês esquina com a Rua Odilardo Silva pois estava em construção a Escola Doméstica de Macapá, a Vila Operaria e a Escola Alexandre Vaz Tavares e tinha grande movimento financeiro no bairro".



Fez-se necessário a expansão do comercio dos sócios e filiais foram criadas. Pedro Nery assumiu a loja localizada na Doca da Fortaleza, pois ali aportavam as embarcações vindas do Pará e entorno. "A partir de 1960 o meu pai se transferiu para o Mercado Central e ali foi criado o Bar São Luiz de Gonzaga e depois renomeado Bar Du Pedro, onde trabalhou por 34 anos".

Luiz Gonzaga destaca que seu pai tinha uma personalidade forte e era muito carismático. "Ele conquistava os seus clientes e mesmo durante os fortes efeitos etílicos fazia se respeitarem mutuamente. Ele dava segurança a quem ali freqüentava. Isso atraia todos os boêmios da Macapá antiga, pois se tornou um point. Além disso, a Guarda Territorial funcionava na Fortaleza de São José e todos os funcionários do governo freqüentavam o bar. Os embarcadiços que aportavam na Doca da Fortaleza, Baixada da Maria Mucura, Remanço. Ali todos chegavam tanto para as "farras", quando para bater um papo e discutir política, namorar. A música era através do radio. Os encontros maiores se davam no dias de jogos do clássico paraense Remo e Paissandu".

Questionado a dar uma opinião sobre o seu pai, Luiz Gonzaga se emociona e narra as posições firmes e o caráter desse homem. "Lembro de um detalhe ele fixou uma placa "NÃO FUME E NÃO BEBA.ESTUDE E TRABALHE", isso dentro de um bar. Tinha uma outra: "VOCÊ NÃO PODE GASTAR MAIS DO QUE GANHA E NEM O GOVERNO" . Essa período da ditadura militar meu pai era determinadamente democrático e lutava para isso, ele tinha uma empatia muito grande com os jovens e seu principio maximo era a educação. Ele foi determinante em estabelecer para os 11 filhos e 13 netos a importância da educação, tanto que minhas seis irmãos se tornaram professoras".

Para o Luiz Gonzaga como filho ver essa trajetória de um bar se tornar tradição no Estado, pois vai completar 54 anos de criação é um orgulho. "Meu sempre amou e lutou pelo Amapá, uma das suas bandeiras foi a transformação do Amapá em Estado, ele era um ferrenho defensor dessa transformação e quando aconteceu ele ficou muito feliz, porém ele esperava muito mais. O principal foco dele sempre foi a educação. Meu pai se alfabetizou muito tarde e ele era autodidata".

Os clientes do bar Du Pedro eram diversificados e não deveriam faltar os políticos. "Politicamente meu pai acompanhava a ânsia da juventude. Na década de 70 ele optou pela candidatura do professor Antonio Pontes, correndo um risco empresarial. Ele percebeu que aquele momento era de mudança. Ele lutou muito contra a ditadura".
As amizades de Pedro Nery sempre traziam conteúdos intelectuais e ele tinha ânsia pelo saber e um dos amigos próximos foi o Jornalista e Historiador Hélio Penafort "Meu pai era muito amigo do Helio Penafort, sempre que ele vinha tomar sua dose de conhaque ficava horas batendo papo com meu pai, era uma troca de informações, era uma aprendizagem". 

O Bar Du Pedro hoje

Luiz Gonzaga conta que a transformação do Mercado Central em um centro cultural da forma como vem sendo conduzida não manterá a tradição. "No tempo do meu pai, na década de 80 e 90,  já vinha acontecendo a crise do Mercado Central, pela expansão urbana e a descentralização das vendas de carne e hortaliças, principalmente pelas novas regras de higienização. O que deveria ter sido feita, o que aconteceu em outras capitais, como em Belém no Mercado Bolonha , continua funcionando os talhos e vendas, porém adequados colocando frigoríficos e sistema hidráulico e de esgoto. Mais os tradicionais vendedores continuando o seu trabalho. Aqui não, tiraram tudo, transformaram em uma Praça de alimentação. Ainda existem de antigo, o Bar Du Pedro, a Ervaria Amazônia, o Bazar Brasil, Bazar São Luiz, da recém-falecida Dona Nazaré e alguns quiosques que mantém o estilo original" 

Para o Luiz Gonzaga Nery esse patrimônio macapaense que é o Bar Du Pedro se mantenha por mais cinqüenta anos. "Espero agora que um neto, sobrinho, primo alguém da família dei prosseguimento a este empreendimento que de comercial se tornou histórico e um patrimônio dos amapaenses. E que lutem para que o que resta de histórico na cidade não seja destruído ou descaracterizado pelo afã do progresso".

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