sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

SAUDE EM FOCO

Jarbas de Ataíde - Médico


 "MATANÇA DE HERODES" ATUAL:
AS DOENÇAS DIARREICAS NA INFÂNCIA


Há semelhança do texto bíblico de Mateus, em que o Rei Herodes da Judéia"mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o território vizinho, de dois anos para baixo, de acordo como tempo indicado pelos magos" (Mt 2, 13-18), com o objetivo de assim ceifar a vida de Jesus, muitas crianças  menores de 1 ano morrem  vitimas de doenças evitáveis, decorrentes de medidas preventivas governamentais de saneamento não cumpridas, como as diarréias. Os governantes acabam os mandatos, se sucedem no poder, mas a mortalidade continua a causar"lamento em Raquel, que  chora seus filhos e não quer ser consolada, pois não existem mais", como previu o Profeta Jeremias.
Não há fuga desse mal se nossos dirigentes não tomarem as medidas, pois as diarréias são doenças de origem sanitária, de saneamento básico, e reflete a realidade da saúde pública e as condições de vida dos habitantes do bairro, da cidade, do estado, da região e do país. No Brasil e na América Latina, em especial nas regiões Norte e Nordeste brasileiras, as síndromes diarréicas (aguda, persistente e crônica) são um grande desafio para as autoridades. Estima-se que sejam a responsável por "21% de todos os óbitos de crianças com menos de 5 anos", sendo uma das maiores causas de mortalidade e morbidade nos países em desenvolvimento( Arima Y,  et al, 2011).
Segundo dados do MS (SVS/MS, 2012) em relação às doenças diarreicas agudas, de 2000 a 2011, foram notificados 33.397.413 casos no Brasil, cujo número já é bem inferior ao real, dos quais 37,8% ocorreu no Nordeste, 28,8 % no Sudeste, 13,4 no Norte, 10,2% no Centro-Oeste e 9,7% na região Sul. Segundo a OMS, foi a causa de morte de crianças menores 5 anos em 9% dos casos em 2000, taxa que diminuiu para 4% em 2010.
A estimativa de incidência de doença diarréica aguda (DDA) por faixa etária no período de 2000 a 2010, a maior em menores de 1 ano foi em 2006 (140 por 1.000), em 2008 para os menores de 1 a 4 anos (78 por 1.000), com redução no ano de 2010 na faixa etária menor de 10 anos (11 por 1.000). Em 2012 já foram notificados 874.768 casos de DDA, sendo 495.564 casos em maiores de 10 anos, refletindo um aumento de quase 50%, atingindo crianças de maiores faixas etárias.
Para avaliar a intervenção educativa da gestão pública sobre essas doenças, um estudo foi realizado em Pernambuco, nos municípios de Recife e Olinda, através de pesquisa domiciliar, com amostra de famílias com pelo menos uma criança menor de 5 anos, ocorrido no período de abril/maio de 1992 e 1994. Os dados obtidos foram alarmantes e mostraram os fatores de risco associados a essa doença e condicionantes para sua aquisição: " a idade da criança (menores de 2 anos), a ausência de saneamento básico e falta de eletrodomésticos no domicilio" (Vásquez M.L, et al, 1999).
Em nível de Brasil e no caso do Amapá, o estudo indica dizer que nas regiões, comunidades e municípios que ainda não chegaram os avanços do desenvolvimento, como eletricidade (descoberta no século XVIII), água encanada e tratada, telefone, radio e televisão, a diarréia impera pela falta de intervenção do poder público, pois o povo não possui informação, distante dos mínimos meios de subsistência, e, portanto, vulneráveis às condições desfavoráveis que ocasionam a doença: água contaminada, esgoto à céu aberto (fossas biológicas inadequadas), lixo não coletado, moradias em locais insalubres e alagados, alimentação inadequada e falta de assistência médica para intervenção e tratamento imediato.
É muito comum crianças virem para a capital oriundas das Ilhas do Pará, Bailique e dos municípios mais longínquos, para tratar uma simples diarréia, chegando em condições de desidratação e desnutrição, exigindo inclusive a internação para evitar o óbito, elevando os gastos hospitalares.
 Existem muitos infanticidas herodianos, que semelhante ao personagem bíblico premeditam medidas causadoras de várias doenças, como corte nas verbas, desvios de recursos para a atenção básica em saúde, educação básica e merenda escolar, não contratação de servidores para a atenção primária à saúde, desmonte ou não investimento na ampliação das UBS; a não utilização de recursos ou falta de projetos para habitações populares e saneamento básico são causas das más condições de vida das populações mais carentes.
Muitas dessas situações são responsáveis pelas condições desfavoráveis que levam a mortalidade por DDA no Brasil, que no período de "2000 a 2010 ocasionou 53.551 óbitos, dos quais  50% na Região Nordeste, 25,6% na Sudeste, 9,4% na Norte, 8,7% na Sul e 6,3% na Centro-Oeste". ( UVHA/CGDT/DEVEP/SVS/MS, 2000-2011).
No Amapá a sazonalidade do período chuvoso eleva os casos de diarréia nas unidades de saúde, causada pelas patologias de veiculação hídrica, como disenterias parasitárias (verminoses, amebíase, giardíase), infecções intestinais e enterites virais. Daí a necessidade do poder público tomar as medidas adequadas para a prevenção e o tratamento. Os profissionais de saúde, como o Medico, possuem o papel de provedor de educação da população, levando informação, mas também alertando a responsabilidade das autoridades para a solução das condições agravantes.
Essas medidas básicas, de responsabilidade primeira das Prefeituras, vão reduzir as internações, como aconteceu no Brasil no quinquênio (2006-2010), que registrou 180.267 internações  entre as crianças com menos de 1 ano, mas com aumento de casos a partir dos 10 anos de idade, atingindo a cifra de 3.146  em    2008( SVS/MS, 2012). Essa redução atingiria não só as crianças pequenas, mas também os idosos e imunodeprimidos, que possuem propensão à doença diarréica .


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