sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014



"Tem várias ações que a Embrapa está trazendo para o Amapá, que são justamente para mostrar aos técnicos e aos produtores como devolver esse equilíbrio. Então o segredo para controlar essa ameaça sanitária e qualquer outra é o manejo integrado". Jefferson Costa - coordenador da Caravana Embrapa de Alerta às Ameaças Fitossanitárias


Esta semana entrevistamos Jefferson Costa, pesquisador, assessor da diretoria executiva da Embrapa Amapá e coordenador da Caravana Embrapa de Alerta às Ameaças Fitossanitárias, com foco no controle da lagarta Helicoverpaarmigera. Ele fala da vinda de técnicos ao estado para orientar agricultores amapaenses no combate a essa nova praga. Acompanhe a entrevista.

Isaias Silva

Tribuna Amapaense - Em que consiste e por quem é composta a caravana da Embrapa?
Jefferson Costa - A caravana da Embrapa foi uma iniciativa da diretoria executiva, para responder às ameaças sanitárias que estão chegando ao Brasil, especialmente uma ameaça chamada Helicoverpaarmigeraque, que no ano passado quebrou a safra brasileira. Tivemos um prejuízo de R$ 3 bilhões. A Embrapa se reuniu, mobilizou seus pesquisadores e descobriu que nós tínhamos pessoas espalhadas pelo Brasil com conhecimento para controlar essa praga. Então juntamos essa competência e sintetizamos o conhecimento e modulamos palestras para levar pelo Brasil, para ensinar os técnicos transformadores de opinião, como viver e como combater essa nova praga.

TA - Como é o ataque dessa praga que apareceu no Brasil na safra 2012/2013?
JC - Na verdade, é uma praga quarentenária, é uma praga que, segundo o ministério da agricultura, já existe no Brasil, e como chegou, não sabemos. São diversas as formas e que estão sendo investigadas. Muitos pensam que pode ter sido um bioterrorismo, para poder derrubar a agricultura brasileira. Isso não é mérito da Embrapa, não trabalhamos nesse sentido. O bicho apareceu na Bahia, provavelmente a praga já estava no Brasil, o que causou o problema de elas fugirem no começo do ano foi a falta do equilíbrio ecológico do agro e do ecossistema. Ser você tem um desequilíbrio no sistema produtivo como tinha em 2012 e 2013 caracterizado pelo uso intenso de inseticidas  sem monitoramento  adequado, as pessoas usam sem seletividade, inseticidas  sem moléculas, produtos  inadequados, isso deu um prejuízo imenso ao país.

TA - Como ela chegou ao Brasil e ao Amapá? Existe algum meio de condução dessa praga de região para região?
JC - É uma praga que tem a capacidade de voar quilômetros rapidamente. Ela pode se mobilizar muito rápido dentro do estado do Amapá. Como ela chegou não sabemos, estão sendo investigadas as diversas portas de entrada no Brasil, exclusive aqui na Região Norte. Temos a grande faixa de fronteira aqui no Amapá, temos várias portas de entrada de pragas, e isso é uma preocupação do governo federal. Precisamos aumentar a fiscalização. 

TA - O que essa lagarta pode provocar numa lavoura?
JC - Ela pode atacar toda e qualquer parte da planta, essa é a verdade. No início, quando ela chegou, assustou, quando ela começou a atacar, foi primeiro nos brotos, nas flores. O produtor já tinha investido na lavoura, foi quando ela chegou e causou o maior dano, mas hoje vimos que essa praga come de tudo, qualquer parte da planta, ela deposita ovos durante todo o ciclo, em uma única safra de soja você pode, por exemplo, ter até quatro gerações de todos os tipos de praga, todas as gerações que essa praga gera são capazes de causar danos a essa planta.
TA - Quais os prejuízos que ela já trouxe para a agricultura brasileira e amapaense?
JC - Bom, no Amapá, de acordo com os dados locais, em 2013, ela atingiu em torno de 20% da safra de grãos do estado, resultando na perda de cinco mil toneladas na produção dos produtos, segundo apontam pesquisadores. Não tenho esse levantamento oficial, eu teria que ver calmamente, mas no Brasil, na safra passada, como eu disse, chegou a R$ 3 bilhões, foi o prejuízo estimado. 
lagarta Helicoverpaarmigera

TA - Quais as indicações aos produtores para combater essa praga sem atingir o meio ambiente?
JC - Essa praga tem uma enorme capacidade de adaptação a inseticidas, ela não tem condição de ser controlada por um único produto, tem gente aí comprando inseticidas, e até  contrabandeando inseticidas. Mas, pensando em combater com um único tipo de inseticida, isso não resolve, pois ela não é uma praga que se combate com único produto. Se já foi usada ou está sendo usada, ela pode dar sim um bom controle, sendo que daqui a dois anos ela perde esse controle. O que não se pode é controlar uma praga pensando na aplicação. Você tem primeiro que monitorar sua população e o seu nível de dano. Se você monitora uma praga, você vai entrar no momento certo para combatê-la. A Helicoverpaarmigera e essas novas ameaças chegam porque o sistema está desequilibrado, então você tem que devolver ao sistema o equilíbrio ecológico dele e para isso você tem que adotar o manejo adequado de pragas, que preconiza vários tipos de controles biológico, cultural, químico. Tem várias ações que a Embrapa está trazendo para o Amapá, que são justamente para mostrar aos técnicos e aos produtores como devolver esse equilíbrio. Então o segredo para controlar essa ameaça sanitária e qualquer outra é o manejo integrado.  

TA - Vocês estarão ajudando a combater outras pragas? Seria através do Manejo Integrado de Pragas [MIP]?
JC - Exatamente, o MIP [Manejo Integrado de Pragas] objetiva todo o complexo de pragas, inclusive aquelas que ainda não chegaram ao Brasil, porque o conceito é muito claro, o produtor tem que mudar a mentalidade dele, parar de pensar em entrar na safra com o calendário de proliferações. Ele tem que entrar na safra com um calendário de monitoramento, ele tem que pensar como monitorar a lavoura. Essa frequência de monitoramento é que vai dar para ele e vai regular o sucesso do plantio e a eficiência das tecnologias aqui existentes no controle químico, no controle biológico, no uso de progênito e assim por diante.     

TA - A caravana tem outras finalidades além do combate a essa nova praga?

JC - A caravana, na verdade, tem a finalidade de dar um alerta ao produtor rural, ser produtivo brasileiro, como é importante a gente devolver esse equilíbrio, então a Helicoverpaarmigera foi a praga que motivou essa mensagem, mas ela continua através dos tempos. A Embrapa vai à fase dois da caravana que é treinar técnicos, especialmente técnicos que estão no campo, para identificar essa praga, e naturalmente outras pragas que causam problemas no Brasil, como mosca branca. Temos aqui na Região Norte essa mosca da carambola, são pragas que por trás delas tem o mesmo conceito, elas estão aí porque o nosso sistema está desequilibrado, então a grande mensagem da caravana é contra a praga.

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