"O Amapá foi muito bom para mim. Criei meus filhos.
Hoje estão todos formados e bem de vida. Na minha
época, a formação do jovem era rígida e moldada para
o bem, o que infelizmente não acontece hoje”
Nabi Ami Eichne
A migração sírio-libanesa para a Amazônia trouxe uma contribuição para o comércio amapaense, especialmente durante o ciclo da economia da borracha. Com atividades tipicamente espontâneas, vinculadas principalmente ao comércio varejista, os migrantes eram em geral mascates ou vendedores ambulantes, que circulavam pelo país utilizando os mais diversos sistemas de transporte, e na Amazônia, ao longo dos rios, em regatões, levando mercadorias aos mais afastados lugares. Os sírio-libaneses eram majoritariamente homens solteiros, denominados também como turcos, por viajarem com passaportes da Turquia.
Entre esses migrantes libaneses, estava a família Eicheni, que aportou em Soure, município do Pará, em 1914, onde passou atuar no comércio de madeira beneficiada denominada Amim Adala Eicheni. A família era composta por 10 pessoas, dos quais oito eram irmãos, e, daí, saiu o pioneiro desta semana do TA: Nabi Ami Eichne, 76 anos, libanês-paraense e amapaense por adoção. "Meu pai trabalhava com estância madeireira e eu, desde novo, já fazia minhas tarefas, contribuindo para o crescimento econômico de minha família. Tive uma infância normal".
Chegada ao Amapá
Em 1947, o patriarca da família Eichne, juntamente com os filhos mais velhos, aventurou-se no recém-desmembrado Território Federal do Amapá, onde se estabeleceu na periferia da capital amapaense, Macapá. "Meu pai montou sua loja de estivas e fixou residência numa área de terra do antigo 'Bairro da Favela', onde abriu uma casa de comércio na esquina da Leopoldo Machado com a Mendonça Junior, que recebeu seu nome, e ali ficou até o seu falecimento, quando assumi os negócios da família", lembra Amim.
Em 1951, chegou em Macapá Nabi Ami Eichne para ajudar nos negócios. "Após o falecimento de meu pai e ter assumido os negócios da família, procurei manter o mesmo padrão de vida ensinado por ele". Essa dedicação não inclui na vida de Nabi o casamento, pois não era homem de uma mulher só e o concubinato aconteceu com diversas delas e gerando sete filhos (sendo somente um homem).
Anos 60 - Barcos da Senava atracados no Trapiche Eliezer Levy |
Era desse trapiche que saiam os navios com destino a Belém. No final das férias, partiam lotados de universitários que voltavam para as faculdades (não havia ensino superior no Amapá naquela época).
Remexendo a memória, Ami diz que o 'Bairro da Favela' era onde terminava Macapá Antiga. Segundo ele, na cidade pequena não havia economia própria, tudo dependia do Pará. "Havia a mobilização de comerciantes, como o Manoel Pinheiro, filho de Celestino, outro pioneiro amapaense. Tinha também um comércio na outra esquina do cruzamento, a Casa Duas Estrelas, por ele fundada. Ele é pai do nosso desembargador Gilberto Pinheiro, que conheci garoto correndo nas ruas de piçarra da 'Favela'. Eles me consideravam da família, tanto que até hoje me tratam como tal e com toda consideração".
TRAPICHE ELIEZER LEVY |
Nabi acompanhou o crescimento de Macapá, tanto que passou a residir no bairro Santa Rita, logo que a região foi loteada. "Moro neste bairro desde 1972. Acompanhei o crescimento do Santa Rita e dos outros no entorno".
Agradecimento
O pioneiro desta semana aproveitou a homenagem para agradecer ao Amapá e a seus habitantes pelas oportunidades dadas a ele e aos filhos. "O Amapá foi muito bom para mim. Criei meus filhos. Hoje estão todos formados e bem de vida. Na minha época, a formação do jovem era rígida e moldada para o bem, o que infelizmente não acontece hoje. O que me preocupa, e peço aos nossos governantes que deem aos meus quatro netos, é a segurança, oportunidade e estabilidade. Quero que eles [netos], ao concluírem os estudos, tenham um futuro. Hoje sou tranquilo, estou aposentado e feliz, isso se deve à tranquilidade que tive no início de minha vida".
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