sexta-feira, 11 de abril de 2014

REINALDO COELHO



Iandra Sabattini  - Futebol (meia-esquerda)

Mais de sessenta meninas "correndo atrás de um sonho". Esse é um dos retratos da peneira do futebol feminino, promovida pelo Centro Olímpico Osasco, clube paulistano. E entre as aspirantes a uma vaga, está uma amapaense de 14 anos: Iandra Sabattini, filha do ex-jogador de futebol Samuel Costa, que atuou como meia esquerda, mesma posição que a filha joga atualmente.
Samuel foi campeão por clubes importantes do Amapá, como o Ypiranga e o São José, nas décadas de 70 e 80, era do futebol amador do estado.
"Quando chegava em casa a Iandra pedia para jogar futebol comigo. Eu sempre apoiei e hoje me orgulho da minha filha ser jogadora, boa por sinal", conta o pai, orgulhoso.

Descoberta por 
outra amapaense

A oportunidade de encarar o primeiro grande teste para um clube de fora do Amapá veio de outra amapaense craque nos gramados, Aline Calandrini. A veterana jogadora descobriu Iandra quando curtia férias em Macapá. Ela "fez a ponte" quando retornou para o Olímpico, seu clube em São Paulo. 
Samuel conta que não houve muita conversa. "A Aline logo avisou dos testes no período de 7 a 11 de abril, onde ficou em período de testes".
A peneira foi conduzida pelo técnico Jonas Urias, que comanda as categorias Sub-15 e Sub-17 do Centro Olímpico. Urias explicou detalhadamente o principal foco de avaliação em uma seletiva como essa.
"Nosso principal foco de avaliação nas peneiras é técnico. Geralmente, as meninas jogam muito futsal e society. Dificilmente há meninas que já jogaram futebol de campo, por isso a cobrança tática é bem pequena. Elas nem sempre vão se destacar taticamente porque não sabem cumprir as funções ainda. A parte tática é nossa responsabilidade, nós temos que ensinar", afirma.

Preconceitos e regras

Na história de Iandra, nem tudo foi "um mar de rosas". Vivendo em uma sociedade ainda machista, a jovem precisou lidar com o preconceito da própria família. Muitos achavam estranho uma menina gostar de jogar bola ao invés de brincar com bonecas, lembra o pai.  "Chegamos num ponto de ter que ir para a Justiça para poder ter o direito de a minha filha jogar futebol. A mãe dela não aceitava. Hoje as coisas mudaram e ela [a mãe] vê com mais naturalidade a escolha da filha", comentou Samuel.

A jogadora Aline Calandrini conta que também precisou enfrentar obstáculos por ocasião da escolha pelo futebol. Pertencente aos quadros da equipe do Santos Futebol Clube, a amapaense chegou até a Seleção Brasileira e hoje defende o Centro Olímpico, como zagueira. "No início incomodava ser vista meramente como uma mulher bonita no futebol", disse.
No Amapá, o futebol feminino não existe nos quadros dos clubes amapaenses. Essa prática acontece somente no amador e, ainda assim, por iniciativa de desportistas de bairros. Encontrar um time formado só por meninas com idade semelhante a de Iandra em Macapá é impossível. Por esse motivo, a adolescente treinou em uma equipe masculina. 

O começo

Iandra começou a jogar futebol com 7 anos, passando a treinar na Escola Zico 10. Ela já participou de competições pelo Trem e Ypiranga Clube. Dotada de um talento incomum, Iandra sempre jogou entre garotos, por conta de não haver clubes que invistam na categoria no Amapá.
Em 2013, a jovem conquistou a grande vitória para ela e para a equipe: o título da Taça Brasil Sub-13. Feito inédito para o Amapá e para o time que tem como meia esquerda uma menina. "Foi um sonho realizado por jogar numa competição desse porte e contra times de várias partes do país. Durante os jogos, os meninos não davam colher de chá só porque sou menina. Vencemos na raça e por termos um bom futebol", conta, empolgada.
"Vou para São Paulo em busca de um sonho e, se depender de mim, o Amapá terá mais uma representante no futebol feminino nacional", disse Iandra.
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O Clube paulistano

O Centro Olímpico é uma marca do esporte paulistano desde 1976, e atua em todas as modalidades, formando atletas e mantendo vários quadros de alta competição. Obviamente que o futebol integra o projeto, e o feminino é uma das marcas vencedoras do Centro Olímpico. Uma parceria entre futebol e prefeitura de Osasco resultou no Audax Feminino, que fechou com todo o elenco do Centro Olímpico.  Na final do Campeonato Brasileiro, em dezembro do ano passado, bateu o São José por 2 a 1 e levantou o título nacional.

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