sexta-feira, 11 de abril de 2014


SAÚDE EM FOCO

Jarbas de Ataíde

A DOENÇA CHAMADA  CORRUPÇÃO
COMEÇA NA MÁ EDUCAÇÃO


Veio em minha mente uma piada que aprendi ainda na minha infância, contada lá pelos torrões de minha terra natal, Curuçá-PA, mas que não é a terra do fato contado.  Foi assim: estávamos numa festa de igreja, na quermesse da Paróquia, onde estavam presentes as maiores autoridades da cidade. O Juquinha (nome fantasia) estava lá ouvindo as conversas, as fofocas e os "bla-bla-blas". De repente, ele ouviu um comentário que duas pessoas faziam: "olha ali o Prefeito" falando de suas obras na cidade, e o outro resmungou e respondeu: "só corrupto". "Olha o Delegado", dizendo quantos ele prendeu, e o outro, sacudindo a cabeça, disse: "só corrupto". Olhou para o único Médico da cidade, que estava impecável com seu terno branco e alinhado, e disse ao colega: ele deve ganhar muito bem. O outro, sem titubear, disse: "também corrupto".  Apontou discretamente para o Juiz, que estava conversando com o Promotor sobre o último julgamento que ocorrera. O outro foi enfático: "mais corruptos".  Disse: olha lá o Professor e o Advogado falando das causas e lutas trabalhistas. E o colega respondeu: "fruto de corrupção".  Quando mostrou o Padre da cidade, pensando que o colega ia fazer um elogio, ouviu  baixinho, entre os dentes: "mais um corrupto".
Nessa quermesse, de cidade do interior, ninguém se safou da língua do comentarista. O Juquinha ficou atento a todos os comentários, e , inocente que era, foi para a mesa de seus pais. La chegando, um amigo de seu pai, no meio da conversa, elogiando o comportamento do menino, perguntou ao Juquinha: o que você quer ser quando crescer? Ele respondeu prontamente, em forte e em bom: "quero ser corrupto".
Existe muito Juquinha por ai que, pensando estar se espelhando em pessoas de bem, está sendo enganado por pessoas inescrupulosas, que se valem de seu posto, de sua posição, de seu cargo e de sua influência para algar benefícios a base de falcatruas. Nas escolas, os professores vivem o pânico das agressões e da violência urbana. Os alunos, não são mais estudantes das bibliotecas e leitores de livros. São apenas alunos matriculados, que buscam conhecimentos falhos e inverídicos na inter net e nas redes socais. Não falam sobre as matérias dadas em sala de aula. Falam veleidades. 
Com celulares modernos, muitos financiados pelos próprios pais, jovens e adolescentes marcam encontros não para estudar, mas para brigas, intrigas, acertos de conta e "rolezinhos". Os pais só ficam sabendo quando são chamados na Secretaria da Escola ou na Delegacia e, às vezes, dão razão à desobediência.  O respeito à instituição escolar e à família estão acabando. Estamos vivendo uma época em que a educação está se afastando dos seus primórdios de ensinar para a vida e para o trabalho. E assim os alunos, perdem as referencias, deixam de serem estudantes para serem "rolezeiros", "blogueiros que incitam", admiradores de "besteirol", condutores de "arrancadões", baixadores de vídeos que mostram e incitam a violência.
Com isso, os bons livros, as cópias que antes fazíamos de bons artigos, os ditados que escrevíamos da lousa, as tabuadas que exercitávamos entre os alunos, as tarefas pesquisadas nas bibliotecas, os trabalhos escritos, as brincadeiras sadias do período do recreio, ficaram apenas na lembrança dessa geração, que podem gerar muitos como o inocente Juquinha, admirador da tão falada, propalada, televisada e impressa corrupção. 
Para muitos incentivadores dessa educação alienante, o que vale é sempre tirar proveito, não importando os meios e as consequencias. Ter e aparecer é o que vale. Daí vem não saber falar o português certo e falar somente gírias. De fazer conta apenas com calculadora ou no celular. De não saber escrever uma redação. De não assistir os programas educativos: Tv escola, Tv cultura, Tv ecologia, Tv rural. De não conhecer a história verídica do seu povo e não saber se localizar nos mapas geográficos. O interesse é estar por dentro das últimas modas da inter net e das redes sociais. 
Em todas as classes, em todos os níveis, em todas as profissões existem aqueles que podem ser pós-graduados em conhecimento específico, mas quando se trata do coletivo, do bem-comum e dos interesses sociais, eles tiram o máximo de proveito por "baixo do pano" e jogam o "lixo para baixo do tapete", que depois só vão a público quando existe interesse pessoal, de grupo ou político, para malhar ou derrubar o oponente. 
Assim, essa perversa doença antisocio-politico-econômica, maligna e metastásica, chamada corrupção, vai se infiltrando lentamente nas mentes, nos corações, no seio da família, nos relacionamentos superficiais, nas condutas dos maus profissionais,  num simples vídeo de celular, num programa de televisão, na sala de aula bagunçada, nas conversas "moles" do recreio, num revista mal intencionada, nos jornais sensacionalistas e comprados, que só mostram matérias financiadas.  
Enfim, estamos envolvidos e imersos nas diversificadas maneiras de nos enganar, corromper e adoecer. Não temos a fórmula certa, o remédio ou o quimioterápico para combater essa praga doentia do comportamento psicopático de tirar vantagem, que se esconde atrás das máscaras, das maquiagens, da palavra mansa, da lábia e das falácias propagandas. Mas temos os anticorpos que quebram os antídotos, as células benignas, as vacinas, que giram na circulação e que o coração leva para todo o conjunto do corpo social e que ninguém consegue tirar: o pensamento, a palavra e a comunicação nos dado por uma educação cidadã, transformadora e construtiva. Com essas armas em mente, conseguiremos transformar a sociedade e revolucionar e educação das futuras gerações. Tudo depende de nossas referências na família, nos estudos, na escola, no trabalho e nas relações sociais e políticas.   JARBAS ATAÍDE. Macapá-AP, 05.04.2014.

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