sexta-feira, 25 de abril de 2014

SAÚDE EM FOCO

Jarbas de Ataíde - Médico

MARCELO CANDIA:
BENFEITOR DA SAÚDE DO AMAPÁ


"Se estas com Deus, louva-o com as obras". Assim, Dom Maria Martini se refere às obras de caridade de Dr. Marcelo Candia, em seu processo de canonização, pois a vida desse benfeitor da saúde dos amapaenses, embora fundamentada na fé, se  expressa na materialidade de suas obras de amor.
Assim iniciei o artigo que escrevi em 1995, no Jornal do Dia,  falando das obras do Dr. Marcelo Cândia no Amapá. Nessa época comemorávamos os 4 anos de fundação do Centro Comunitário Marcelo Candia, que foi  construído pelo autor deste artigo na periferia do bairro do Congos, que prestava atendimento médico e odontológico  à população carente. Lembrava também da memória desse missionário, que deixou um legado importante para a saúde na região norte: a obra do Hospital São Camilo e São Luiz na capital do Território Federal do Amapá. Escrevi três artigos sobre o leigo, o profissional da saúde e sobre o benfeitor da saúde. 
O trabalho  e as profissões desse missionário italiano assumem duas dimensões divinas: a da oração laborativa, onde os dons e tudo o que recebeu gratuitamente é devolvido a Deus na forma de obras aos pobres. O trabalho também é gerador de solidariedade e fraternidade, pois coloca seus bens a disposição dos desvalidos e excluídos da sociedade.
Impulsionado pela fé e pelo convite de Dom Aristides Piróvano, Bispo de Macapá,  para realizar um trabalho na capital do GTFA,  Marcelo Candia larga sua terra natal e emprega o dinheiro de sua herança na construção do Hospital São Camilo. Numa época de dificuldades, de conturbação política (época do golpe militar de 1964) e até de impedimentos legais, consegue convencer as autoridades locais, que desconfiavam de suas intenções, sobre a construção de um hospital para atender prioritariamente os mais pobres. Mesmo com escassez de material de construção, que vinha de navio de outros estados e da Europa,  consegue construir, na época, o maior e mais bem equipado  hospital da Amazônia. Um grande feito num território pobre e imerso na mata amazônica.
Mas guiado por seus idéias humanitários e preocupado com a formação dos profissionais, monta  a Escola de Técnicos de Enfermagem, em 1975. Também na área hospitalar, constrói um anexo para atendimento dos hansenianos, motivado pelo seu ídolo de vocação missionária: o Frei capuxinho Daniel de Samarate, que viveu no leprosário de Marituba, em Belém-PA, e faleceu leproso em 1924. Esse mesmo capuxinho, hoje dá seu nome ao Centro de Promoção Humana e Saúde, funcionando na Av. FAB, que recebe apoio da Fundação Marcelo Candia.
Além do Centro Frei Daniel, outras obras em Macapá mantém o nome e receberam apoio desse homem,  que só fez o bem para a saúde dos amapaenses, mas que também é exemplo  para nossos governantes e gestores, que possuem influência política, mandato eletivo, salários e verbas indenizatória para ajudar muita gente e às, vezes, só fazem projetos para se beneficiar.  O maior exemplo triste do mau emprego da verba pública é a obra paralisada do Hospital Metropolitano, na zona norte, que há mais de 12 anos foi abandonada, devido corrupção e superfaturamento, e hoje está no meio do mato, sofrendo depredações e sem atender a população. 
Outros destaques que levam o seu nome: o Centro Caritativo Dr, Marcelo Candia (onde funcionava o Banco dos Remédios), o Convento das Irmãs de Santa Terezinha do Menino Jesus (o "Carmelo') e Centro Catequético, na área da Igreja Jesus de Nazaré, no Laguinho; Centro Pastoral M. Candia, na Igreja Bom Pastor, no Novo Buritizal; o Centro Comunitário M. Candia, construído em 05.08.1991, na periferia do bairro Congos, onde  funcionou por 5 anos o Posto Médico Comunitário do "Barreiro", executando atendimento  de saúde comunitária, mesmo sem  apoio de nenhuma organização religiosa,mas apenas de doações da comunidade. 
Mas a maior obra, que permanece até hoje, é o Hospital São Camilo, que Marcelo Candia passou à administração da Congregação dos Padres Camilianos. Nesse hospital trabalhei como Médico por 12 anos e  conheci muito da história verídica do empenho do empresário, industrial, químico e farmacêutico, Marcelo Candia, que  faleceu em 1983 na Itália, onde um dos seus biógrafos, Dom Maria Martini, luta pela sua canonização.
Apesar das obras religiosas e de caridade que tiveram seu nome, temos também a Rua Marcelo Candia, antiga Rio e Janeiro, que passa na frente do Hospital São Camilo, que atualmente esta quase intrafegável pela quantidade de buracos e ondulações. Outro serviço que leva seu nome é a UBS Marcelo Candia do Jardim Felicidade I, da PMM, que passou muito tempo desativada, exigindo mobilização e protesto da população  para que fosse reinaugurada. 
Assim também o próprio Hospital São Camilo, na década de 90, passou por séria dificuldade financeira e de manutenção de seus serviços, que recebia com bastante atraso os recursos federais do atendimento do SUS e sem o repasse da Fundação Candia. Foram feitas campanhas na comunidade, envolvendo a Igreja Católica, os governantes, parlamentares, empresários e vários voluntários, que se empenharam e conseguiram reerguer o hospital.   
Precisamos de um mutirão desses em favor da saúde do Amapá, retirando as UBS da penúria e os hospitais estaduais da situação caótica que se encontram.  Se tivéssemos governantes, gestores, administradores e parlamentares que assumissem de fato a suas condições de cristãos fiéis, como o foi Marcelo Candia, com certeza nossa saúde publica estaria muito melhor do que está hoje. JARBAS DE ATAÍDE, 21.04.2014, Dia de Tiradentes e Dia da Inconfidência Mineira.

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