O observador
Vou usar o espaço do ‘Artigo do Gato’ para externar o
sentimento de um cidadão que, ao me encontrar num supermercado da cidade, se
apresentou. Disse ser fã do meu trabalho e puxou conversa. Como não poderia ser
diferente, enveredou pela política partidária que hoje se desenrola no Amapá.
Um senhor acima dos setenta anos, que está no Amapá desde o
começo, digo, desde a criação do Território Federal do Amapá. Naturalmente, acompanhou
à evolução da política amapaense. Viu a Macapá bucólica, dos negros da Rua da
Praia serem remanejados para os campos do Laguinho; assistiu à Construção do
Hospital Geral de Macapá (HGM), da Praça Barão do Rio Branco, a criação do
bairro da Favela, do Trem e do bairro Central.
Aos poucos, nosso nobre cidadão constatou que a bem traçada Macapá
estava perdendo o feitio de moça prendada, e se transformando numa urbe
Frankenstein, uma cidade-monstro. O crescimento a toque de invasões logo
revelou as deformidades inerentes a uma futura metrópole caótica. Hoje, sob
todos os aspectos, apesar de nem termos um milhão de habitantes, o Amapá é o
Estado campeão de todas as carências.
Enquanto caminhávamos pelas gôndolas do supermercado, senti
que a conversa iria ser longa. E, como andamos sempre correndo atrás do
prejuízo, quis me adiantar:
– E então, como o
senhor está vendo o Amapá de hoje?
- Não estou!
- Como assim?
- Meu filho, o Amapá não avança, estagnou. Não compreendo, e
parece que vou morrer sem entender o fato de termos um único hospital de especialidades
na capital. Uma maternidade, um Pronto Socorro. Não produzirmos nem o que
comemos. Olha, meu filho, quando o Capitão Janary chegou aqui, uns cinco anos
depois minha família veio para o Amapá. O Janary imprimiu um ritmo de
desenvolvimento que eu imaginei que logo, logo, estaríamos bem perto de Belém,
Manaus, Fortaleza. Mas, que nada. Os anos passaram e nosso Estado foi se
arrastando. Hoje me envergonho em saber que somos um dos piores estados do
Brasil, senão o mais desgraçado de todos.
- A que o senhor atribui tudo isso?
- Ora, vejo você falar na TV e no rádio que a política é o
agente transformador da vida das pessoas. E se nossas vidas, a cada ano, só
estão piorando, afinal, quem você acha que são responsáveis por essa
desgraceira toda? Tenho certeza que são os políticos.
- Mas é verdade: a política é a única forma de transformar as
nossas vidas. Essa é a lógica da evolução do organismo social.
- Bem, mas aí há um porém. Só há transformação quando a política
é feita para beneficiar o coletivo. Ações voltadas a atender a necessidade do
cidadão. É assim que está, em tese, organizada a sociedade. Mas o que vejo
aqui, principalmente nos últimos trinta anos, são grupos políticos brigando
pelo poder para roubar o dinheiro do povo. Só querem enriquecer e deixar o
cidadão na situação em que se encontra. Meu filho, como justificar faltar
remédio nos hospitais? Como Justificar, em pleno século 21 após 80 anos, a
estrada BR-156 ainda não ter sido asfaltada no eixo Norte-Sul, ou seja, de Oiapoque
ao Laranjal do Jari?
Faltou dinheiro? Ou Faltou compromisso com o desenvolvimento
do Estado do Amapá? Responda você que é jornalista.
- É, pois é, realmente sua conclusão é incontestável. Porém,
temos que continuar tentando. Estamos às portas de mais uma eleição, vamos às
urnas e temos a obrigação de escolher o melhor para governar o Amapá.
- Quem é o melhor? Sabe, eu vejo um Amapá com autoridades sem
autoridade. Instituições sendo usadas para atender aos interesses particulares.
Quem respeita a Assembleia Legislativa? Lembro de quando era adolescente,
tínhamos um respeito pela autoridade. Governador, prefeito, deputado, vereador.
Ah! Vereador! Trabalhava sem remuneração. Imagina um Juiz. Hoje, o que vejo é o
Ministério Público na berlinda. Quem acredita na independência do Ministério
Público? Essa doutora Ivana Franco Cei é filha do Aroldo Franco. Conheci o pai
dela, um grande jornalista, mas ela tem muito que explicar para nossa sociedade.
As acusações do delegado da Polícia Federal são gravíssimas. E o auxílio
moradia que vocês apelidaram de “auxílio mansão”? É uma vergonha. E quem cala
consente. Ela não ofereceu nenhuma explicação plausível.
Esse garoto, Camilo Capiberibe, e esclareço que não tenho
nada contra família dele. Eles chegaram aqui também há muitos anos e foram
morar no Igarapé das Mulheres. Mas o Capiberibe sempre foi um baderneiro,
governou o capital e o Estado, e pouco fez. Nunca esperei muito do filho, mas
não imaginava que seria tão ruim assim. Muito discurso e pouca ação. E adoram
brigar, acusar as pessoas. Os responsáveis por essa brigalhada toda no Estado
são eles. Tal pai, tal filho.
- O senhor tem esperança que dias melhores virão após a
próxima eleição?
- Ah! Meu filho. Já não tenho idade para utopias. O que ouço
por todos os cantos e becos da cidade é uma coisa só: “Quem será o próximo
ladrão?”.
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