Como pensar Macapá no
Amapá?
Autor: José Alberto
Tostes
Nos últimos anos tem sido muito discutido através de um bom número de trabalhos
acadêmicos e científicos, a cidade de Macapá. A diversidade destes trabalhos
ainda não teve a dimensão e absorção por parte do poder público quanto ao
aproveitamento de todo este material em favor da real perspectiva de
desenvolvimento. Este artigo trata de abordar uma temática de igual e tamanha
importância para a sociedade, começa com uma pergunta crucial: qual a
influência ou importância da cidade de Macapá no Amapá?
Para responder a esta pergunta de uma maneira mais sistêmica, é preciso
primeiro pensar a essência da própria pergunta: o que significa a concentração
da maior parte da população do estado do Amapá na capital Macapá? Em Macapá a
evolução urbana só ocorre com maior propriedade após a criação do Território
Federal do Amapá no ano de 1943, muito tempo à cidade ficou na inércia por
parte dos governantes do estado do Pará.
A história do Amapá se confunde com a história da cidade de Macapá, é nesta
cidade que se localiza o rio Amazonas, uma das principais fortalezas da América
Latina, é uma das poucas cidades cortadas pela Linha do Equador. Portanto,
significa que parte expressiva da nossa história é vinculada a Macapá. Os
demais municípios, com raras exceções tem uma história reduzida, isso é grave,
pois significa que sucessivos governantes não priorizaram o desenvolvimento de
áreas que tiveram uma causa: Mazagão, Serra do Navio e Oiapoque, tais lugares
tem uma história para contar, mas não tem uma paisagem para ser narrada, tal a
incipiente perspectiva de desenvolvimento destes lugares.
Macapá é vista sob a ótica de uma cidade em constante mudança, transformações
motivadas muito mais pela pressão social e política, do que propriamente por
regras básicas de planejamento urbano, até neste quesito, verifica-se nesta
cidade como existe a influência nas demais cidades do Amapá, isso é fruto
da predominância do setor público intenso e que caracterizou fortemente o
comércio. Diferentemente do começo do Território Federal nas primeiras décadas,
onde a instalação da ICOMI motivou e estimulou o comércio local, nos dias
atuais a economia do setor público cresceu e determinou o funcionamento do
comércio e outras atividades de serviços.
Macapá padeceu também de diversos governos que deixaram de cumprir um papel
importante, de investir em projetos estruturais e estruturantes: água, energia,
pavimentação e transporte digno. O slogan era cuidar apenas de problemas
cotidianos, até nesse ponto as demais cidades amapaenses passaram a copiar o
modelo da capital, investir em questões cotidianas, e sem regras de
planejamento. Macapá no Amapá tornou-se algo dependente e crônico, a vinculação
umbilical dos demais municípios tornou-se patente e visível na paisagem das
cidades.
A crítica dos
diversos setores da sociedade amapaense, a concentração de bens e serviços cada
vez mais, excluíam os demais municípios sem qualquer possibilidade de
desenvolvimento. Conheço um caso quando passei a desenvolver um trabalho de
pesquisa na cidade de Oiapoque, certo prefeito queria que fosse realizada em
Oiapoque uma Expo-feira agropecuária igual a de Macapá, mostramos ao prefeito
que não era a vocação da cidade de Oiapoque, seria muito mais interessante um
festival da cultura dos povos indígenas. Este é um exemplo da falta de
identidade de nossos lugares, o “vazio” provoca este tipo de sentimento,
contraditoriamente, apesar de boa parte da população viver na capital, isso não
tem significado maior e melhor qualidade de vida.
Os índices nacionais que mensuram desenvolvimento municipal, coloca Macapá na
posição acima de 1.500 no ranking nacional, convenhamos isso beira o ridículo tratando-se
de uma capital de um estado da federação. O que aconteceu para que Macapá no
Amapá tenha se consolidado ao longo dos últimos vinte anos? Tal fato é
decorrente também das fragilidades políticas, de ações pontuais, e da pouca eficácia
dos projetos concebidos para os demais municípios. É fato para todos, Macapá e
Santana são áreas conurbadas (integradas), mas, desde que Santana deixou de ser
Distrito de Macapá, as coisas ficaram mais complexas, nem quando estes
municípios tiveram governantes do mesmo partido foram suficientes para buscarem
soluções integradoras, discursos afinados, mais ações fragmentadas.
Macapá no Amapá é algo que deve ser pensado como centro de referência, e não
como referência totalizadora, apesar dos maiores índices de investimento se
concentrarem na capital, tais benefícios não aparece como geradores contínuos
de emprego e renda. As demais cidades se apresentam cada vez mais com o perfil
de Macapá: dependência completa do setor público; comércio limitado; sem
identidade local; investimentos pontuais e fracionados e elevação dos índices
de pobreza urbana.
Os novos investimentos que vem sendo materializados acenam com a possibilidade
de reduzirem a influência de Macapá no Amapá, fortalecer a perspectiva de
desenvolvimento dos demais municípios a saírem da inércia dos últimos vinte
anos. A ponte binacional; hidrelétricas; BR 156; linhão de Tucuruí e rede de
fibra ótica para internet de alta velocidade, podem reduzir problemas crônicos
que atingem o Amapá em sua totalidade. Queremos Macapá no Amapá como um ponto
de referência, não somente a única referência.
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