sexta-feira, 5 de setembro de 2014

ARTIGO DO GATO

O ADMINISTRADOR E AS TRÊS CARTAS




Senhores e senhoras, escrevi esse texto em maio de 2012. Gostaria que avaliassem onde errei. Reescrevam se acharem que eu errei na minha avaliação.

O administrador de uma grande empresa recebeu a visita de um velho ermitão. A visita lhe causa espanto e surpresa. Afinal ele nunca havia cruzado com aquele senhor em seu caminho.
O administrador era jovem, culto e cheio de si. Dizia que no dia em que chegasse à presidência da empresa, todos perceberiam a verdadeira transformação em suas vidas. Bons salários, saúde de qualidade, segurança, casa e educação. Todos, discentes e docentes entrariam na era da informatização.
O velho onipresente e onisciente conhecia o discurso do jovem administrador  e se preocupava com o futuro do povo. Daí a visita, cujo objetivo era orientar o jovem na função e na responsabilidade que assumiria.
O velho pouco falou, apenas ouviu e ao sair lhe entregou três cartas  lacradas  e com uma recomendação “Meu jovem! Você terá de superar muitas dificuldades. Vários percalços terão que ser ultrapassados na condução dessa empresa. Só abra as cartas em caso em extrema necessidade”.

Dito isso o velho ermitão voltou para o seu mundo. Saiu silenciosamente como havia entrado. O novo administrador ficou com as cartas nas mãos e, com ele a certeza de que aquele velho estranho não tinha muito a lhe ensinar. Jogou as cartas no fundo da gaveta e as esqueceu.

Passado pouco mais de oito meses de gestão, os funcionários começaram a cobrar respostas do novo administrador. O primeiro problema enfrentado foi o súbito crescimento da violência. Aumentou a criminalidade, começaram a acontecer fugas da cadeia da empresa e os assaltos eram frequentes. Faltou dinheiro no mercado. Os fornecedores da empresa reclamavam que não recebiam pelos serviços e produtos que vendiam a empresa. Diante destes problemas o jovem foi dar uma olhada nas cartas deixada pelo Ermitão. As pegou, revirou, sentiu uma vontade enorme de abrir uma, mas resistiu. O seu orgulho naquele momento não lhe permitiu   dar o braço a torcer.
Os problemas não acabaram, outros começaram a surgir. A politica da empresa começou a dar errada, não funcionar. A educação e a saúde começariam a dar claros sinais de retrocesso.  Faltavam médicos e medicamentos. Superlotação nas salas de saúde da empresa e funcionários cada vez mais angustiados.   O jovem administrador voltou a gaveta e pegou as cartas novamente.  Diante da pressão não resistiu e abriu a primeira carta, lá estava escrita: “Seja humilde”. Ele aborrecido embolou a carta e atirou no cesto de lixo e usou os arautos e disse a culpa dos problemas que enfrentava era do antecessor e de seus assessores. Até trocou alguns.
Porém, os problemas não acabavam pelo contrário.
Os funcionários da empresa a cada dia mais impaciente e percebendo que a verdadeira transformação era na realidade um grande jogo de marketing e nada mais. Os enfermeiros foram para rua, os professores, médicos. Qual saída, perguntava o jovem. Correu e foi buscar conselho com o seu velho mestre que alguns anos administraram a empresa: - Mestre a situação está cada dia pior, o que eu faço? Do alto da soberba e da arrogância que lhe é peculiar, o mestre do jovem lhe aconselhou: Brigue com os poderes meu jovem. Enquanto o povo se entrete com as brigas, suas falhas passam despercebidas.
Conselho dado e assimilado. O jovem virou sua bateria de acusação contra os membros do legislativo da empresa. Os legisladores da empresa foram acusados de corruptos, de gananciosos e começou a dizer que faltava dinheiro na empresa porque os legisladores ganhavam muito.  
A briga acirrou e o mestre do jovem usava a rede social de comunicação para atacar a tudo e a todos.
Na empresa surgiu uma onda de denuncismo. O mestre e o jovem só atacavam. Até que um dia veio o contra ataque. O mestre e o jovem foram também acusados de corrupção. Aí ele não se conteve. Foi à gaveta novamente e pegou a segunda carta. Não pestanejou. Abriu-a. E nela estava escrito “Tenha sabedoria”. Novamente aborrecido com o conselho contido na segunda carta, ela teve o fim da primeira. O lixo.
Passado mais de um ano de administração, os agricultores se rebelaram contra a política de inanição do setor produtivo que o jovem administrador comanda. Ele proibiu que se plantasse nas terras da empresa. A imprensa nacional veio conferir os escândalos anunciados a cada dia pelo mestre dos jovens e a empresa mergulhou em crise.  O órgão para ajudar na fiscalização das leis, entrou em crise. A diretora de lá e o marido estão até o pescoço, envolvidos com acusação de favorecimento de obras e o jovem administrador caiu na vala comum das “Mãos Puras”. Foi depor na capital da República. A crise institucionalizou-se. O velho mandou um castigo ao jovem. Derrubou duas árvores em sua residência e uma manga lhe acertou o cocuruto.       “Você não teve humildade nem sabedoria, só arrogância. Igual a seu mestre, você só semeou vento, por isso está colhendo tempestade e deixando a empresa e seus funcionários na falência. Siga o conselho da primeira e da segunda carta e terá chance de reverter esse quadro desolador em que a empresa atravessa”.   

 Senhores e senhoras, escrevi esse texto em maio de 2012. Gostaria que avaliassem onde errei. Reescrevam se acharem que eu errei na minha avaliação.

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