sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Entrevista da Semana




Entrevista da Semana


 
Entrevista com os pesquisadores do Cerrado brasileiro na Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), Sebastião Pedro da Silva Neto Pesquisador Classe A da EMBRAPA, tem MBA em Gestão Empresarial da  Fundação Getúlio Vargas (2003); Doutorado em Biotecnologia Agrícola, Tokyo University of Agriculture (2001) e Mestrado  Genética e Melhoramento de Plantas na Universidade Federal de Viçosa (1992)



 e  Dr. Gustavo Spadotti Amaral Castro - Possui Graduação em Agronomia pela Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP (2005), Mestrado e Doutorado em Agronomia (Agricultura) junto ao Departamento de Produção Vegetal / Agricultura da de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP (2009 e 2012). Atualmente é analista A da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Fertilidade do Solo, Sistemas de Produção e Adubação, atuando principalmente nos seguintes temas: pastagem, integração lavoura-pecuária, atributos químicos, calagem.
           


A Embrapa concluiu duas pesquisas previstas na cooperação técnica com o Governo do Estado do Amapá para contribuir com o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) do Cerrado do Amapá, uma das últimas fronteiras de expansão agrícola do Brasil. Os estudos resultaram no mapeamento da aptidão agrícola dos solos do Cerrado amapaense. A outra contribuição é uma publicação que detalha uma proposta para uso agropecuário mais sustentável do Cerrado amapaense. Acompanhem a entrevista com os personagens responsáveis pela pesquisa.


Tribuna Amapaense -  Quanto demora em ser encontrado uma nova cultivares que atenda comercialmente o Cerrado Brasileiro, principalmente o Amapaense?
Pesquisadores - O trabalho de melhoramento genético de soja demora em média 10 anos, do inicio até a liberação da nova cultivar aos produtores. No caso da Embrapa, o processo é em fluxo contínuo, por isso a seleção de novas cultivares para o Cerrado Brasileiro, inclusive o Amapaense pode ser conseguida com a metade do tempo. No caso do Amapá, já estamos há dois anos conduzindo ensaios de competição e determinação de valor de cultivo e uso (VCU) para selecionar novas cultivares de soja adaptadas às condições de solo e clima do estado do Amapá. Dessa forma, este ano podemos recomendar uma cultivar comercial que tenha se adaptado bem, e, em 3 anos, podemos ter uma nova cultivar desenvolvida para as condições específicas deste estado.

TA – Como funciona a parceria público-privado para a geração de novas cultivares de soja para o Cerrado?
Pesquisadores - A Embrapa possui convênios de cooperação técnica com Fundações de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico na Agricultura visando o desenvolvimento de novos cultivares de soja para o aumento da sustentabilidade da agricultura brasileira. Nestas parcerias a Embrapa representa o lado público, e as Fundações o lado privado, uma vez que são formadas por multiplicadores de sementes Embrapa, que atuam no mercado de produção e comercialização de sementes de soja. Especificamente visando novas cultivares de soja para o Cerrados da região Norte, a Embrapa tem parcerias com a Fundação Cerrados e Fundação BA, que atuam em todas as regiões do Bioma Cerrado, e são operacionalmente baseadas na Embrapa Cerrados, em Planaltina DF, que no Amapá atua em parceria com a Embrapa Amapá. Além destas unidades, para que as novas cultivares de soja sejam desenvolvidas e suas sementes cheguem ao mercado a Embrapa conta conta também com suas unidades Embrapa Soja e Embrapa Produtos e Mercados.

TA – Para a safra de soja de 2014/2015, quais os materiais oferecidos pela Embrapa?
Pesquisadores - Os resultados preliminares obtidos nos ensaios de determinação de valor de cultivo e uso (VCU), executados pela Embrapa no estado do Amapá nos últimos dois anos agrícolas, permitirão indicar para a safra de soja 2014/2015 as cultivares BRSTracajá, BRS Raimunda, BRS Pérola, BRS 333, BRS Pétala, BRS 8780 e BRS 7980. Com a conclusão das análises dos dados que ainda estão em curso, outras cultivares poderão ser indicadas além destas. 

TA -  Os novos produtos buscam atender às demandas dos produtores e às exigências dos mercados nacional e internacional de soja?
Pesquisadores - Sim. As novas cultivares em fase de indicação buscam atender as demandas dos produtores no que tange a produtividade, estabilidade, adaptabilidade, resistência às principais pragas e doenças da cultura da soja como os nematóides. Além disso, buscam facilitar o manejo da Ferrugem Asiática, que na safra 2014 se manifestou de forma muito intensa nas lavouras de soja do Amapá. A Embrapa possui o maior banco de germoplasma de soja tropical do mundo e por isso é possível desenvolver cultivares para atender as demandas tanto do mercado nacional como internacional. 

TA – A soja é única cultura produzida no Cerrado?
Pesquisadores - Não. A soja é parte importante do sistema produtivo que deve ser desenvolvido no bioma Cerrado para manter a sua sustentabilidade ambiental, econômica e social. A soja possui características que a tornam o componente básico, como por exemplo: pode fixar biologicamente o nitrogênio em simbiose com microorganismos do solo, não necessitando de usar fontes químicas de nitrogênio. Com isso, torna o custo de produção mais barato, não contamina o meio ambiente com o uso de nitrogênio químico, que é um derivado do petróleo. Além disso, a soja é a maior fonte de proteína vegetal do mundo atual, sendo matéria prima para a cadeia produtiva das proteínas animais, o que a torna um produto de grande demanda e alta liquidez e valor agregado, entre os produtos agrícolas. Do ponto de vista agronômico, a soja faz excelente rotação com outras culturas alimentares como arroz, feijão, milho, e pastagens. No que tange o Cerrado amapaense, a soja entra como carro chefe, trazendo consigo outras culturas, tornando realidade uma grande dificuldade do estado do Amapá, que é a segurança alimentar.

TA – Quantas variedades foram geradas com as pesquisas da EMBRAPA?
Pesquisadores - As pesquisas da Embrapa com a cultura da soja permitiram desenvolver centenas de cultivares de soja adaptadas a todas as condições agroclimáticas do Brasil, nos últimos 40 anos.

TA – O senhor pertence a Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), onde coordena as pesquisas, por se concentrar no coração do cerrado brasileiro, esse núcleo da instituição ajuda no desenvolvimento dos estudos?
Pesquisadores - A Embrapa Cerrados é um centro ecoregional da Embrapa localizado no coração do Bioma Cerrado. Esta localização (coração do bioma Cerrado) facilita muito as pesquisas científicas que visam o desenvolvimento de cultivares de soja para todas as regiões deste bioma. A maior produtividade é o resultado da combinação perfeita entre a genética e o ambiente. Por isso, são necessários milhares de testes para se encontrar a combinação genética ideal para se produzir de forma sustentável em determinado ambiente. Se isso é feito numa condição ambiental representativa, o nível de eficiência é muito maior. Prova disso, são as cultivares de soja que historicamente a Embrapa tem selecionado a partir da Embrapa Cerrados. Atualmente, com a excelente parceria desenvolvida entre as unidades Embrapa Cerrados e Embrapa Amapá, queremos crer que o estado do Amapá poderá incorporar áreas do Bioma Cerrado ao processo produtivo agrícola de forma a aumentar a produção de alimentos, criar empregos, sem comprometer o equilíbrio ambiental. 




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