Entrevista da
Semana
Entrevista com os pesquisadores do Cerrado
brasileiro na Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), Sebastião Pedro da Silva
Neto Pesquisador Classe A da EMBRAPA, tem MBA em Gestão Empresarial da Fundação Getúlio Vargas (2003); Doutorado em
Biotecnologia Agrícola, Tokyo University of Agriculture (2001) e Mestrado Genética e Melhoramento de Plantas na
Universidade Federal de Viçosa (1992)
e Dr.
Gustavo Spadotti Amaral Castro - Possui Graduação em Agronomia pela
Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho, UNESP (2005), Mestrado e Doutorado em Agronomia (Agricultura)
junto ao Departamento de Produção Vegetal / Agricultura da de Ciências
Agronômicas da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP
(2009 e 2012). Atualmente é analista A da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Fertilidade
do Solo, Sistemas de Produção e Adubação, atuando principalmente nos seguintes
temas: pastagem, integração lavoura-pecuária, atributos químicos, calagem.
A Embrapa concluiu duas pesquisas
previstas na cooperação técnica com o Governo do Estado do Amapá para contribuir
com o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) do Cerrado do Amapá, uma das últimas
fronteiras de expansão agrícola do Brasil. Os estudos resultaram no mapeamento
da aptidão agrícola dos solos do Cerrado amapaense. A outra contribuição é uma
publicação que detalha uma proposta para uso agropecuário mais sustentável do
Cerrado amapaense. Acompanhem a entrevista com os personagens responsáveis pela
pesquisa.
Tribuna Amapaense - Quanto demora em ser
encontrado uma nova cultivares que atenda comercialmente o Cerrado Brasileiro,
principalmente o Amapaense?
Pesquisadores - O trabalho de
melhoramento genético de soja demora em média 10 anos, do inicio até a
liberação da nova cultivar aos produtores. No caso da Embrapa, o processo é em
fluxo contínuo, por isso a seleção de novas cultivares para o Cerrado
Brasileiro, inclusive o Amapaense pode ser conseguida com a metade do tempo. No
caso do Amapá, já estamos há dois anos conduzindo ensaios de competição e
determinação de valor de cultivo e uso (VCU) para selecionar novas cultivares
de soja adaptadas às condições de solo e clima do estado do Amapá. Dessa forma,
este ano podemos recomendar uma cultivar comercial que tenha se adaptado bem,
e, em 3 anos, podemos ter uma nova cultivar desenvolvida para as condições
específicas deste estado.
TA – Como funciona a parceria público-privado para
a geração de novas cultivares de soja para o Cerrado?
Pesquisadores - A Embrapa possui
convênios de cooperação técnica com Fundações de Apoio ao Desenvolvimento
Tecnológico na Agricultura visando o desenvolvimento de novos cultivares de
soja para o aumento da sustentabilidade da agricultura brasileira. Nestas
parcerias a Embrapa representa o lado público, e as Fundações o lado privado,
uma vez que são formadas por multiplicadores de sementes Embrapa, que atuam no
mercado de produção e comercialização de sementes de soja. Especificamente
visando novas cultivares de soja para o Cerrados da região Norte, a Embrapa tem
parcerias com a Fundação Cerrados e Fundação BA, que atuam em todas as regiões
do Bioma Cerrado, e são operacionalmente baseadas na Embrapa Cerrados, em
Planaltina DF, que no Amapá atua em parceria com a Embrapa Amapá. Além destas
unidades, para que as novas cultivares de soja sejam desenvolvidas e suas
sementes cheguem ao mercado a Embrapa conta conta também com suas unidades
Embrapa Soja e Embrapa Produtos e Mercados.
TA – Para a safra de soja de 2014/2015, quais os
materiais oferecidos pela Embrapa?
Pesquisadores - Os resultados
preliminares obtidos nos ensaios de determinação de valor de cultivo e uso
(VCU), executados pela Embrapa no estado do Amapá nos últimos dois anos
agrícolas, permitirão indicar para a safra de soja 2014/2015 as
cultivares BRSTracajá, BRS Raimunda, BRS Pérola, BRS 333, BRS Pétala, BRS 8780
e BRS 7980. Com a conclusão das análises dos dados que ainda estão em
curso, outras cultivares poderão ser indicadas além destas.
TA - Os novos produtos buscam atender
às demandas dos produtores e às exigências dos mercados nacional e
internacional de soja?
Pesquisadores - Sim. As novas
cultivares em fase de indicação buscam atender as demandas dos produtores no
que tange a produtividade, estabilidade, adaptabilidade, resistência às
principais pragas e doenças da cultura da soja como os nematóides. Além
disso, buscam facilitar o manejo da Ferrugem Asiática, que na safra 2014 se
manifestou de forma muito intensa nas lavouras de soja do Amapá. A Embrapa
possui o maior banco de germoplasma de soja tropical do mundo e por
isso é possível desenvolver cultivares para atender as demandas tanto do
mercado nacional como internacional.
TA – A soja é única cultura produzida no Cerrado?
Pesquisadores - Não. A soja é
parte importante do sistema produtivo que deve ser desenvolvido no bioma
Cerrado para manter a sua sustentabilidade ambiental, econômica e social. A
soja possui características que a tornam o componente básico, como por exemplo:
pode fixar biologicamente o nitrogênio em simbiose
com microorganismos do solo, não necessitando de usar fontes químicas
de nitrogênio. Com isso, torna o custo de produção mais barato, não contamina o
meio ambiente com o uso de nitrogênio químico, que é um derivado do petróleo.
Além disso, a soja é a maior fonte de proteína vegetal do mundo atual, sendo
matéria prima para a cadeia produtiva das proteínas animais, o que a torna um
produto de grande demanda e alta liquidez e valor agregado, entre os produtos
agrícolas. Do ponto de vista agronômico, a soja faz excelente rotação com
outras culturas alimentares como arroz, feijão, milho, e pastagens. No que
tange o Cerrado amapaense, a soja entra como carro chefe, trazendo consigo
outras culturas, tornando realidade uma grande dificuldade do estado do Amapá,
que é a segurança alimentar.
TA – Quantas variedades foram geradas com as
pesquisas da EMBRAPA?
Pesquisadores - As pesquisas da
Embrapa com a cultura da soja permitiram desenvolver centenas de cultivares de
soja adaptadas a todas as condições agroclimáticas do Brasil,
nos últimos 40 anos.
TA – O senhor pertence a Embrapa Cerrados
(Planaltina, DF), onde coordena as pesquisas, por se concentrar no coração do
cerrado brasileiro, esse núcleo da instituição ajuda no desenvolvimento dos
estudos?
Pesquisadores - A Embrapa Cerrados é
um centro ecoregional da Embrapa localizado no coração do Bioma
Cerrado. Esta localização (coração do bioma Cerrado) facilita muito as
pesquisas científicas que visam o desenvolvimento de cultivares de soja para
todas as regiões deste bioma. A maior produtividade é o resultado da combinação
perfeita entre a genética e o ambiente. Por isso, são necessários milhares de
testes para se encontrar a combinação genética ideal para se produzir de forma
sustentável em determinado ambiente. Se isso é feito numa condição ambiental
representativa, o nível de eficiência é muito maior. Prova disso, são as
cultivares de soja que historicamente a Embrapa tem selecionado a partir da
Embrapa Cerrados. Atualmente, com a excelente parceria desenvolvida entre as
unidades Embrapa Cerrados e Embrapa Amapá, queremos crer que o estado do Amapá
poderá incorporar áreas do Bioma Cerrado ao processo produtivo agrícola de
forma a aumentar a produção de alimentos, criar empregos, sem comprometer o
equilíbrio ambiental.
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