FALTA DE LEITO HOSPITALAR AGRAVA A SAÚDE.
A
defasagem de leitos hospitalares na rede pública de saúde é preocupante. No
estado do Amapá o crescimento demográfico é crescente e esse aumento
populacional não é acompanhado de investimentos estruturais na rede física, nos
equipamentos, na contratação de pessoal e por conseqüência, não há leitos
suficientes para atender a demanda.
Conforme
levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), no período de outubro
de 2005 a junho de 2012, o SUS desativou 42 mil leitos. Os dados foram obtidos pelo Cadastro
Nacional de Estabelecimentos de Saúde, do Ministério da Saúde, e fazem parte de
um relatório sobre os aspectos que dificultam o trabalho dos médicos no Brasil,
como a falta de investimentos e infraestrutura.
Em função do aumento da
expectativa de vida, dos agravos decorrentes das doenças crônico-degenerativas
e incapacitantes e do aumento dos casos de traumas por causas externas (causas
violentas e acidentes), o sistema de saúde não suporta a grande procura por
internações. No período analisado pelo CFM o estado que perdeu mais leitos foi
o Mato Grosso do Sul, com uma queda de
26,6%. Em seguida, aparece Paraíba (19,2%), Rio de Janeiro (18%), Maranhão
(17,1%) e São Paulo (13,5%). O Amapá
teve um ligeiro crescimento de 9,2%, ficando na frente do
Pará (7,4%),
Amazonas (6,7%) e Acre (2%), porém esse aumento não foi percebido em função da
grande defasagem há longos anos.
Os gestores simplificam a complexidade
da situação com uma velha justificativa de que
'faltam médicos no país'. “Porém, não levam em consideração aspectos como a
falta de infraestrutura física, de políticas de trabalho eficientes para
profissionais da saúde e, principalmente, de um financiamento comprometido com
o futuro do Sistema Único de Saúde", comentou o Presidente do CFM. Do
Oiapoque ao Jarí a situação é gravíssima, bastando para isso visitar nossas
unidades hospitalares e vermos as condições internação, com macas nos
corredores e colchões no chão, com o número de leitos decaindo cada vez mais.
No Pronto Atendimento Infantil do HCA,
no primeiro semestre de 2014, já tivemos até mais de 30 crianças internadas em
macas no corredor da unidade, o que pode ser informado para o setor de cadastro
da SESA como leito hospitalar, quando na realidade não é. O PAI era apenas para
as crianças ficarem em observação no máximo 12h e depois, no caso de
internação, ser transferidas para as enfermarias do HCA. Porém, as enfermarias
estão sempre lotadas, obrigando a improvisação de leitos.
Na visão do
Ministério da Saúde, a redução de leitos é uma tendência mundial, decorrente do
avanço dos equipamentos e remédios que permitem tratamentos sem a necessidade
de internação. Porém no Amapá e em várias cidades da Amazônia, os recursos
tecnológicos da medicina ainda não chegaram e os medicamentos básicos de
urgência e emergência não são adquiridos pelos municípios. Com isso, os
gestores permanecem ainda com a cultura da ambulância, ou melhor, em vez de
contratar profissionais e ter equipamento e medicamentos, bastaria ter uma
ambulância para transportar as pessoas mais graves. Quando a atenção básica falha e a assistência
primária não funcionam, os doentes vão
para os hospitais ocupar leitos e espaço dos que estão mais necessitando.
Na saúde
suplementar e nos hospitais filantrópicos que fazem convênio com o SUS também
já existe uma política de redução de leitos. Dizem eles que estão investindo na
prevenção e no atendimento ambulatorial, pois as internações possuem custos
elevados e os valores repassados pelo SUS não cobrem as despesas. Por isso
limitam o máximo as internações e os leitos encaminhados das unidades públicas.
Conforme o vice-presidente do CFM, Aloísio
Tibiriçá, “as superlotações em emergências e pronto-socorros comprovam o
problema. Para resolver a falta de leitos, muitas cidades fazem, de tempos em
tempos, mutirões para cirurgias de média complexidade. No Amapá já tivemos
mutirões para escalpelados, para correção de catarata, para traumas e fraturas.
" O Brasil tem 1,85 leito por mil habitantes. A Espanha, que apresenta um
sistema de saúde parecido com o nosso, tem 4 leitos por mil. Estamos com uma
defasagem de 340 mil leitos, ou seja, o número atual precisaria praticamente
dobrar", destaca o vice do CFM.
Para resolver parcialmente o problema seria preciso dobrar os
investimentos em saúde pública conforme
o Produto Interno Bruto (PIB). Hoje são investidos 3,6% do PIB no SUS – metade
disso vem de estados e municípios e a outra metade da União –, enquanto o ideal
seriam 7% ou 8%. No interior do estado do Amapá, que possui apenas 15
municípios, uma medida já projetada, mas que não foi executada, seria a
transformação das Unidades Mistas em Pequenos Hospitais. Na gestão atual o
único Hospital inaugurado foi o do Oiapoque, que passou 12 anos para ser
concluído. De resto as UMS do interior permanecem na mesma situação de carência
estrutural há vários anos.
Passei essa experiência quando fui Diretor da Unidade Mista de
Saúde de Tartarugalzinho (230 km da capital), em 2006, onde os doentes não
estavam acostumados a ser internados, pois os médicos em vez de deixar os
doentes no hospital preferiam transferir para Macapá. Fizemos o inverso,
centramos os recursos na compra de medicamentos, inclusive de emergência,
equipamentos mínimos e abrimos o Centro Cirúrgico novo (que ainda não tinha
sido inaugurado), para um atendimento digno das gestantes, parturientes e
recém-nascidos.
Havia um regular atendimento da UBS da Prefeitura e somente eram
encaminhados para o hospital ou
transferido para Macapá os casos mais graves. Caiu o índice de transferências.
Em 1 ano tivemos apenas 2 óbitos: um por acidente de trânsito gravíssimo e
outro caso de infarto fulminante. A ambulância ficava na garagem e deixou
servir de carro de frete ou de passeio de final de semana. Já se passaram 8
anos e a unidade que deveria ser transformada em Hospital de Pequeno Porte,
continua na condição de Unidade Mista de Saúde, não gera AIH (autorização para
internação) e os casos que ficam no hospital não são reembolsados ou pagos pelo
MS. JARBAS DE ATAÍDE, Macapá-AP,
13.09.2014.
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