TCE
Janete condenada a devolver mais de
R$ 3 milhões
Auditoria
realizada na Secretaria de Estado da Indústria e Comércio dá conta de que a
gestão da então secretária Janete Maria Góes Capiberibe, hoje deputada federal
reeleita, foi pontuada de irregularidades apontadas em um extenso relatório que
“dorme” nas gavetas do TCE desde 2001.
CONTAS
IRREGULARES
Janete
Capiberibe tem condenação milionária no Tribunal de Contas do Estado, segundo
auditoria
A
deputada federal Janete Capiberibe tem prestação de contas não aprovada
“dormindo” nas gavetas do Tribunal de Contas do Estado (TCE) desde 2001 quando foi
Secretária de Estado da Indústria e Comércio. Na época, o governador era nada
menos que o marido dela, o hoje senador João Alberto Rodrigues Capiberibe. Ao
fim de minuciosa análise e constatação de inúmeras irregularidades, ela foi
condenada a devolver mais de R$ 3 milhões aos cofres públicos de acordo com a
Lei Orgânica do TCE.
Uma
auditoria feita à época detectou a criação de despesas suplementares e anulação
de despesas tidas como estranhas pelos técnicos do TCE. Segundo o relatório em
sua página 16, “a criação de despesas que não foram autorizadas pela Lei
Orçamentária, nada mais é do que matéria estranha ao orçamento, o que fere o
princípio da exclusividade, que não permite a inclusão de matéria estranha no
orçamento, seja na previsão da receita ou na fixação da despesa”, de acordo com
o artigo 7º da Lei 4.320/64.
O
orçamento do Estado do Amapá em 2001 chegava a mais de R$ 634 milhões (R$ 634.435.651),
mas as alterações ocorreram de secretaria para secretaria para tapar buracos
através de créditos suplementares com o Decreto 1088 no valor de R$ 2.900
milhões, o que deixou a SEICOM com R$ 4.859 milhões, sendo que o orçamento
inicial era de R$ 1.959 milhão. Tudo com base na Lei 598/01 que alterou a Lei
Orçamentária.
Na
página 15, de um total de 235, o relatório dos auditores fala que “na análise
do orçamento existem despesas orçadas ou suplementadas e depois anuladas pelo
seu total, o que demonstra não existir planejamento eficiente na elaboração do
orçamento e na distribuição de despesas. O valor resultante do cancelamento
ultrapassou R$ 1.900 milhão. Os auditores também destacam a criação de despesas
sem autorização legislativa.
Já
na checagem da aplicação de projetos, mais “fatos estranhos”. Segundo os
gráficos para execução apresentados pela secretaria, o de maior expressão foi o
de Apoio ao Beneficiamento de Produtos de Origem Agroextrativista. O percentual
direcionado a ele chegou a 46,01%. A atividade joalheira ficou com 1.16% e a
diversificação de atividade mineral teve 1,62%.
CONVÊNIOS
Ao
checar o saldo orçamentário de R$ 205.168.88 mil, os auditores concluíram que o
valor não correspondia ao saldo da Conta Crédito Disponível de nº 29210000
existente no Sistema SIAFEM. Lá, o valor encontrado foi de apenas R$ 33.610.88
mil.
A
diferença é de R$ 171.546 mil identificada no balancete de dezembro de 2001 na
conta 292210000. O detalhamento revela que houve a concessão dos valores para
convênios da SEICOM com o IEPA (Instituto de Estudos e Pesquisas Tecnológicas
do Amapá. A transação é confirmada pelas notas de crédito 2001NC00001,
2001NC00002, 2001NC00003, 2001NC00004. Os valores respectivos foram de R$
15.105 mil, R$ 40 mil, R$ 60 mil e R$ 56.441 mil.
Mais
uma vez houve o descumprimento da lei onde fica claro que “são vedados a
transposição, remanejamento ou transferência de recursos de uma categoria de
programação para outra ou de um órgão para outro sem prévia autorização
legislativa”. Tudo previsto no artigo 67, inciso VI da Constituição Federal. Em
resumo, tudo foi feito sem qualquer autorização do Poder Legislativo.
A
auditoria também se declarou surpresa quanto a emissão de uma nota de crédito
de número 2001NC0004 transferindo recursos da conta 4490.52 (despesa de
capital) da SEICOM para o IEPA no valor de R$ 56.441 mil. O recurso teria sido
usado para a compra de um equipamento usado na fábrica de beneficiamento de camarão
localizada no Igarapé da Fortaleza. O convênio dizia que o bem pertencia à
SEICOM, mas estava na relação de patrimônios do IEPA.
Documentos
levantados pelos auditores junto ao SIAFEM constataram que a receita
extra-orçamentária da SEICOM chegou a R$ 5.843.156.94 milhões incluindo
consignações, adiantamentos, movimento de fundos de débito e transferências
financeiras. Também foi constatado que notas fiscais foram emitidas sem
certificação o que contraria o artigo 63 em seu parágrafo 2º, inciso III da Lei
4.320/64. Outras notas não tinham a assinatura dos favorecidos, o que dificulta
comprovação do recebimento da mercadoria ou equipamento e também havia despesas
sem justificativa caracterizando desvio de finalidade.
O
festival de irregularidades segue com a ausência de relatório que comprove
prestação de serviço de consultoria que mesmo assim aparece como pago e ainda,
nota fiscal com validade vencida.
No
calhamaço de documentos analisados, a auditoria encontrou irregularidades que
se estendem ao Fundo de Desenvolvimento Industrial e Mineral do Estado do Amapá
(Fundima). Ele foi criado com base na Lei 0144, de 28/01/94. A publicação está
no Diário Oficial do Estado 0761 de 31/01/94. O orçamento estadual de 2001 fez
uma previsão de orçamento para o Fundo, de R$ 91.678 mil. O montante foi
alterado pela Lei 0598, de 06/04/01 para R$ 1.891.678 milhão através de
suplementações. A movimentação financeira do FUNDIMA em 2001 foi de R$ 4.500
milhões, com duas suplementações por decretos, o primeiro de nº 01570, de 06/06/01
no valor de R$ 2 milhões. E o segundo, o 03602, no valor de R$ 700 mil. As
anulações feitas por quatro decretos chegaram a um sub total de R$ 2.491678
milhões com despesa fixada em R$ 2.100 milhões.
Dos
financiamentos liberados durante aquele ano consta somente a informação de R$
175.255,20 liberado em 18/12/01 em nome de Cunhau Pesqueiro LTDA. O artigo 4º
da Lei 144/04 diz que a supervisão do Fundima cabe à SEICOM e à Agência de
Fomentos do Amapá (AFAP). Os auditores dizem não ter encontrado qualquer
procedimento de controle do Fundo. O que encontraram foi instalações precárias
em uma das salas da Secretaria, sem arquivos de processos aprovados ou em
andamento e nem documentos de financiados. Também não houve registro do
montante liberado em 2001 para Cunhau Pesqueiro LTDA.
A
auditoria diz que não houve como comprovar a aplicação dos R$ 2.100 milhões
autorizados para o Fundima em 2001, muito menos se a liberação do que houve foi
lícita, muito menos o retorno do que foi firmado. Nos convênios firmados com
prefeituras e cooperativas, mais irregularidades foram detectadas. O mesmo
acontece entre a Secretaria e inúmeras empresas da capital.
DIÁRIAS
Voltando
à SEICOM, as irregularidades aumentam quanto mais se aprofundam as
investigações. As diárias foram outro ponto duvidoso. Em 2001, a Secretaria
disse ter gasto R$ 131.528 mil com viagens de serviço. Os auditores detectaram
ausência do relatório de viagem, ausência de bilhete de viagem, Ausência de
Decreto ou Portaria, Ausência de assinatura do proposto, empenho feito após a
viagem (a posteriori), Portaria ou Decreto feito depois da viagem e concessão
de diárias pagas depois do período da viagem.
E
o mais grave, ao comparar a relação de funcionários da SEICOM, com os nomes
relacionados às viagens foram detectadas pessoas que não estavam nos quadros da
Secretaria. Também foram encontradas pendências na conta de suprimentos de
fundos no valor de R$ 96 mil. O valor é referente a suprimentos pagos a
servidores que não prestaram contas até o dia 31 de dezembro de 2001. A prática
contraria dispositivos do artigo 4º, parágrafo III da Lei 624/01. A auditoria
descobriu a partir daí, que, a prestação de contas do suprimento de fundos pela
Portaria 032/01 foi apresentada à comissão para ser analisada mas não foi lançada
no SIAFEM.
LICITAÇÕES
As
licitações somam-se a mais irregularidades encontradas na auditoria na SEICOM
na gestão de Janete Capiberibe. De acordo com os auditores foram analisados 13
processos licitatórios e três tomadas de preços. Do total, dois deles não foram
realizados. Não foi encontrado junto ao procedimento, o exame prévio da minuta
do edital de licitação da assessoria jurídica e nem os pareceres técnicos sobre
os processos. Também não existiu a homologação, a despesa foi homologada pelo
chefe de gabinete em vez de ter sido feita pela secretária. A auditoria também
não encontrou a comprovação de recursos disponíveis para a licitação e nem a
publicação do Diário Oficial do Estado.
A
exemplo da atual gestão do filho, o governador Camilo Capiberibe, Janete optou
pelo contrato enquanto esteve à frente da SEICOM. Foram 32 deles e dois termos
aditivos. Maioria dispensou a exigência de licitação. Entre as irregularidades
encontradas estão a não obediência do prazo para publicação de dispensa do
processo licitatório, falta de relatório de consultoria comprovando realização
de serviço, formalização de contrato quando deveria haver convênio devido
necessidade de prestação de contas.
Quanto
a locação de veículos, a auditoria constatou que a SEICOM alugou 56 automóveis
com motorista por conta do locador, assim como combustível. O valor pago foi de
R$ 227.391.70 mil. A informação obtida deu conta de que apenas 10 carros foram
locados.
Janete
Capiberibe enviou justificativa ao Tribunal de Contas do Estado. A resposta foi
de que elas não foram suficientes para tantas irregularidades apontadas no
relatório e não vieram acompanhadas de documentação para rebater o que foi
detectado pelos auditores. O resultado é que a então secretária foi condenada a
devolver mais de R$ 3 milhões aos cofres públicos de acordo com a Lei Orgânica
do TCE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário