A SAÚDE NA
FRONTEIRA E O SURTO DE CHIKUNGUNYA NO AMAPÁ.
O Amapá está na mídia nacional por ser um dos estados da
federação que deu início ao surto de febre chikungunya,
doença viral descrita pela primeira vez em 1952. Outros casos iniciaram também
na Bahia. Porém no Amapá temos as
particularidades de ser zona endêmica de outras doenças transmitidas pelo mesmo
vetor -- o mosquito Aedes aegypti -- que
transmite a Dengue, e por estar em área de fronteira.
Vem a pergunta: porque essa doença entrou pelo Oiapoque?
Temos uma série de fatores de ordem geográfica, cultural, econômica e de gestão
da saúde, que contribuíram para a fácil disseminação nessa cidade fronteiriça
da Amazônia. O Rio Oiapoque é a divisa do Brasil com a Guiana Francesa ficando
na margem direita e a cidade guianense de São George fica na margem esquerda,
onde ocorre um fluxo constante de ida e vinda de habitantes dos dois lados.
O fato de ficar em área de fronteira mostra o quanto essas
zonas estavam desguarnecidas de serviço de vigilância em saúde e com desproteção
do território, mesmo tendo uma base militar do Exército (EB) em Clevelândia do
Norte, cerca de 6 Km da cidade. Essa base possui baixo efetivo, falta
equipamentos adequados e modernos para rápido deslocamento e logística de saúde
já ultrapassada, além da ausência de serviços como o PSF, de competência
municipal, ou melhor, os militares que deveriam proteger o povo, a nação e o
território estão impedidos de atuar com eficiência e prontidão.
Ainda no governo Lula assinou-se um acordo de cooperação
transfronteiriça, imposto “guela abaixo”, com aval de nossos parlamentares, que
permite a entrada do Exército francês em até 200 km do território nacional,
podendo chegar até a localidade do Cassiporé, para fiscalizar ou reprimir
possíveis invasores brasileiros, invadindo o solo brasileiro, numa real afronta
à nossa soberania. No entanto, os cidadãos brasileiros, são sumariamente
impedidos de entrar na Guiana e até na próxima cidade de São George, sofrendo
humilhações, constrangimentos e até prisões. Assim, a entrada de portadores de
doenças as mais diversas no Oiapoque fica facilitada, como aconteceu agora no
caso da febre chikungunya, proveniente da Guiana Francesa.
Isso mostra que nossas autoridades policiais, militares,
sanitárias e de gestão da saúde estão despreparadas para o enfrentamento de
qualquer problema envolvendo a disseminação de doenças endêmicas, como AIDS,
Dengue, Malária e, agora, a febre Chikungunya. Nessa área de fronteira e de
difícil acesso temos a falta de uma assistência integral de saúde ( só o
Hospital do Oiapoque passou mais de 12
anos para ser construído), os recursos humanos em saúde são escassos
(recentemente os 4 Médicos foram demitidos de uma só vez). O tráfico de drogas
e o agenciamento de mulheres para a prostituição geram problemas de saúde e de
segurança pública, principalmente nas localidades de Vila Brasil e Ilha Bela, criadas para suprir as áreas de
garimpo, comum na região e agora reprimidas pelo governo francês. As forças tarefas e operações conjuntas das
policias não consegue resolver ou prevenir essas práticas, pois estão em
situação de deficiência de efetivo e de estrutura operacional.
No Oiapoque e nos
demais municípios temos o desaparelhamento do Serviço de Endemias, que não
consegue controlar as doenças já correntes e endêmicas na região ( Dengue,
Malária, Aids, Leishmaniose, Tuberculose, Hanseníase) e muito menos agora o
surto de chikungunya, com 375 casos
suspeitos já investigados, a maioria no Oiapoque (15 casos já confirmados),
além de 20 casos suspeitos em Macapá e Santana. Esta última cidade com os
mesmos problemas de entrada e saída de transeuntes por via pluvial (Rio
Amazônas), semelhante ao Oiapoque.
Agora o surto tende a atingir e alastrar-se na população
mais vulnerável da região —os indígenas --,
que segundo o IBGE conta com 5.569 índios, correspondendo a 27,5% da
população. Se na população em geral a situação de acesso à saúde é dificultada pela distância,
na população indígena fica mais precária, pois é de competência do Distrito Sanitário
Especial Indigenista (DISEI), ligado a União, que não possui recursos humanos e
estrutura para o atendimento dessa parcela de usuários, que utiliza a rede
pública estadual e municipal.
No último levantamento
o DISEI divulgou que há suspeita de 12 casos de índios com a febre no
município. “Os índios do Oiapoque são
muito urbanos. Alguns têm dupla residência tanto na sede do município, quanto
em São George na Guiana Francesa”, avaliou Nilma Pureza, Coordenadora do DISEI. Em agosto, no início
do surto no Brasil, teve os primeiros dois casos importados da doença, vindos
de Guadalupe e da Guiana Francesa.
Com graves problemas de infraestrutura que se perpetua por
várias décadas, o município do Oiapoque passa todo ano maus momentos com
isolamento, desabastecimento e racionamento de energia, provocados pelas
péssimas condições e atoleiros da Rod. BR 156. Em decorrência dessa situação de
transporte repercute na população, que
fica à mercê das mais diversas carências. Se isso ocorre na sede do município,
muito mais difícil para as aldeias, muitas situadas nas margens da rodovia,
fazendo com que esses habitantes se
dirijam à cidade na busca de assistência e suprimento. Na área urbana de Oiapoque, militares do EB
auxiliam os agentes de endemias nas visitas às residências, em busca de novos
casos e na coleta de lixo nas ruas e quintais.
De acordo com o comandante do 34º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS) e Comando de Fronteira do Amapá, coronel Alexandre Ribeiro, ao menos 50 militares foram recrutadas para ajudar na ação de combate ao Aedes, mosquito transmissor da dengue e do chikungunya.
De acordo com o comandante do 34º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS) e Comando de Fronteira do Amapá, coronel Alexandre Ribeiro, ao menos 50 militares foram recrutadas para ajudar na ação de combate ao Aedes, mosquito transmissor da dengue e do chikungunya.
Devido essas situações, o governo municipal do Oiapoque
decretou estado de emergência,
justificando a medida devido o surto dessa doença, cujo mosquito transmissor pode
se procriar dentro da cidade, nos arredores e nas aldeias, além de poder se
disseminar para outros municípios. Além das barreiras sanitárias feitas pela
saúde e pela Policia Rodoviária Federal, o controle da doença exige apoio
constante do Estado, funcionamento efetivo e permanente dos programas
estratégicos, como Programa Saúde da Família, Agentes Comunitários da Saúde, Unidades
Básicas e Saúde equipadas, funcionantes e atentas, cumprindo um plano constante
de detecção de casos suspeitos, “Programa Mais Médicos” aparelhado com melhores condições de
assistência, sanitárias e logísticas de pronto atendimento, limpeza pública
constante para eliminação de foco de transmissão. Caso não haja essa ação conjunta de esforços
das três esferas de poder, nada valerá a decretação do estado de emergência. JARBAS DE ATAÍDE, MACAPÁ, 07.10.2014.
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