sexta-feira, 31 de outubro de 2014

SAÚDE EM FOCO

                 




   O MÉTODO PANDÉIA EM SAÚDE: a “co-produção singular” do processo saúde e doença.

           Para a teoria Paidéia as mudanças são inevitáveis, ainda que ocorram imersas em expressivos movimentos de resistência ao novo. Um das aplicações desse método de reflexão sociológica ocorre na alternância de poder nas democracias, quando há necessidade de reflexões profundas e melhoras significativas no campo das conquistas sociais. Na área da saúde passamos por  medidas imediatistas e eleitoreiras, tanto a nível local, quanto nacional, que não surtiram o efeito desejado pela sociedade, pela incapacidade de reflexão dos múltiplos fatores que levam ao bem estar da coletividade, um deles saber contrabalançar entre o curativo e a prevenção em saúde pública.
Ao longo dos dois últimos anos fizemos várias reflexões nesse sentido, das concepções, métodos e abordagens em saúde. Indicamos caminhos e refletimos em cima dos anseios populares e em conformidade com os conhecimentos  científicos das ciências biológicas, sociais e econômicas. É justamente essa compreensão dialética entre os diversos fatores condicionantes de saúde que falta para muitos gestores, que se acomodam na mesmice da burocracia e não buscam a renovação e muito menos a inovação.
          Os fenômenos sociais, entre eles a saúde e a doença das pessoas, resultam da interação de uma multiplicidade de fatores. Alguns são agenciados por sujeitos localizados em instâncias externas à pessoa ou à coletividade em foco. Outros fatores atuam a partir do interno da pessoa ou agrupamento em análise. Varias teorias psico-sociais e comportamentais estão a disposição dos técnicos, para a busca do aprimoramento e agilidade da máquina pública.  .

O método Paidéia (Campos; 2000) é um recurso elaborado para ampliar o coeficiente de intencionalidade dos sujeitos viventes nesse caldeirão de mudanças contínuas. Há evidências indicando a existência de uma co-produção de acontecimentos e uma co-constituição de sujeitos e de suas organizações. As pessoas sofrem a influência, mas também reagem aos fatores/sujeitos com que/quem interagem. Essas mudanças de métodos e processos no campo da saúde não devem ficarem restritos aos gabinetes e escritórios dos gestores. Temos que incluir e aproveitar as visões das instituições que fazem o controle social, como preceitua o próprio SUS, no campo das representações populares e dos conselhos de saúde.

         De fato, as políticas sociais ou de saúde, a constituição de sistemas e articulação de serviços específicos de saúde, bem como o próprio trabalho clínico ou sanitário, todos são meios por meio dos quais os humanos procuram interferir de modo deliberado no processo de saúde e doença. O conceito de “ator social” ou de “sujeito histórico” pressupõe um grau de estruturação singulares. O método Paidéia busca ampliar a capacidade das pessoas compreenderem e interferirem de modo deliberado sobre esta dinâmica.
         Em relação ao processo saúde e doença a lógica não é diferente. A co-produção do processo saúde/doença/intervenção, depende da intervenção e dos fatores de co-produção, tanto a nível particular, quanto a nível singular e coletivo, envolvendo fatores biológicos e subjetivos, da compreensão do mundo, da política, da gestão, do trabalho e das práticas cotidianas. Deve ainda resultar da observação e das questões universais que extrapolam a convivência local e que transcende o sujeito, enfocando as necessidades sociais de instituições e organizações, assim como avaliar o contexto econômico, cultural e social.
          Segundo a teoria  de Michel Foucualt (1979) admite-se a existência de uma “microfísica do poder”. O exercício do poder e da dominação não se daria apenas por meio da ocupação das funções de governo do estado ou das organizações da sociedade civil, mas também por meio de redes descentralizadas de poder, advindas da organização hierarquizada destas estruturas, mas também do controle social exercido por instituições que modelam o comportamento humano. Igrejas, escolas, imprensa, mídia, hospitais, família, em todas estas instituições ou organizações há redes de poder, produzindo dominação e resistência.
          Com base nesta concepção, poder-se-ia deduzir que categorias analíticas originárias das ciências políticas são úteis para a vida cotidiana. As noções de dominação, controle social, conflito, contrato social, grupos de interesse, entre outras, são necessárias para ampliar a capacidade de análise e de ação de pessoas que não são políticos profissionais.  Ou seja, as massas populares também pensam e analisam sua situação e reagem para satisfazer as suas mais prementes necessidades, interferindo nas mudanças e na alternância do poder.
          Trabalhar em equipe, conviver em movimentos sociais, integrar organizações como trabalhador, usuário ou aluno, todas são situações em que se estará obrigado a fazer política. Isso deve permear as discussões, os projetos e planificações das questões de saúde, devendo os gestores  estarem cientes do seu papel de sistematizadores das decisões coletivas e não como impositores de políticas que não respondem aos anseios populares.
         A noção da teoria da Pandéia deveria nortear as avaliações nesse período pós-eleitoral, de transição política e da busca de consensos com a sociedade. Somente assim teremos uma saúde publica mais realista, mais reflexiva das questões mais emergentes. E no Amapá essa urgência de saúde é uma questão que necessita de iminente resolução, para não continuarmos nos discursos vazios  e nas medidas imediatistas e antipopulares, como o que se vislumbra com a propostas do governo federal com a reforma política, que quer ignorar a opinião popular. Esperamos que os governos eleitos se debruçassem nessas reflexões, para tomar as medidas mais acertadas e na escolha de gestores mais preparados. 

JARBAS DE ATAÍDE, 28.10.2014, Macapá-AP,Dia do Funcionário Público.

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