O
MÉTODO PANDÉIA EM SAÚDE: a “co-produção singular” do processo saúde e doença.
Para a teoria Paidéia as mudanças
são inevitáveis, ainda que ocorram imersas em expressivos movimentos de
resistência ao novo. Um das aplicações desse método de reflexão sociológica
ocorre na alternância de poder nas democracias, quando há necessidade de
reflexões profundas e melhoras significativas no campo das conquistas sociais. Na
área da saúde passamos por medidas
imediatistas e eleitoreiras, tanto a nível local, quanto nacional, que não
surtiram o efeito desejado pela sociedade, pela incapacidade de reflexão dos
múltiplos fatores que levam ao bem estar da coletividade, um deles saber
contrabalançar entre o curativo e a prevenção em saúde pública.
Ao
longo dos dois últimos anos fizemos várias reflexões nesse sentido, das
concepções, métodos e abordagens em saúde. Indicamos caminhos e refletimos em
cima dos anseios populares e em conformidade com os conhecimentos científicos das ciências biológicas, sociais e
econômicas. É justamente essa compreensão dialética entre os diversos fatores
condicionantes de saúde que falta para muitos gestores, que se acomodam na
mesmice da burocracia e não buscam a renovação e muito menos a inovação.
Os fenômenos sociais,
entre eles a saúde e a doença das pessoas, resultam da interação de uma
multiplicidade de fatores. Alguns são agenciados por sujeitos localizados em
instâncias externas à pessoa ou à coletividade em foco. Outros fatores atuam a
partir do interno da pessoa ou agrupamento em análise. Varias teorias
psico-sociais e comportamentais estão a disposição dos técnicos, para a busca
do aprimoramento e agilidade da máquina pública. .
O
método Paidéia (Campos; 2000) é um recurso elaborado para ampliar o coeficiente
de intencionalidade dos sujeitos viventes nesse caldeirão de mudanças
contínuas. Há evidências indicando a existência de uma co-produção de
acontecimentos e uma co-constituição de sujeitos e de suas organizações. As
pessoas sofrem a influência, mas também reagem aos fatores/sujeitos com
que/quem interagem. Essas mudanças de métodos e processos no campo da saúde não
devem ficarem restritos aos gabinetes e escritórios dos gestores. Temos que
incluir e aproveitar as visões das instituições que fazem o controle social,
como preceitua o próprio SUS, no campo das representações populares e dos
conselhos de saúde.
De fato, as políticas sociais ou de
saúde, a constituição de sistemas e articulação de serviços específicos de saúde,
bem como o próprio trabalho clínico ou sanitário, todos são meios por meio dos
quais os humanos procuram interferir de modo deliberado no processo de saúde e
doença. O conceito de “ator social” ou de “sujeito histórico” pressupõe um grau
de estruturação singulares. O método Paidéia busca ampliar a capacidade das
pessoas compreenderem e interferirem de modo deliberado sobre esta dinâmica.
Em relação ao processo saúde e doença
a lógica não é diferente. A co-produção
do processo saúde/doença/intervenção, depende da intervenção e dos fatores de
co-produção, tanto a nível particular, quanto a nível singular e coletivo,
envolvendo fatores biológicos e subjetivos, da compreensão do mundo, da
política, da gestão, do trabalho e das práticas cotidianas. Deve ainda resultar
da observação e das questões universais que extrapolam a convivência local e
que transcende o sujeito, enfocando as necessidades sociais de instituições e
organizações, assim como avaliar o contexto econômico, cultural e social.
Segundo a teoria de Michel Foucualt (1979) admite-se a
existência de uma “microfísica do poder”. O exercício do poder e da dominação
não se daria apenas por meio da ocupação das funções de governo do estado ou
das organizações da sociedade civil, mas também por meio de redes descentralizadas
de poder, advindas da organização hierarquizada destas estruturas, mas também
do controle social exercido por instituições que modelam o comportamento humano.
Igrejas, escolas, imprensa, mídia, hospitais, família, em todas estas
instituições ou organizações há redes de poder, produzindo dominação e
resistência.
Com base nesta concepção, poder-se-ia
deduzir que categorias analíticas originárias das ciências políticas são úteis
para a vida cotidiana. As noções de dominação, controle social, conflito,
contrato social, grupos de interesse, entre outras, são necessárias para
ampliar a capacidade de análise e de ação de pessoas que não são políticos
profissionais. Ou seja, as massas
populares também pensam e analisam sua situação e reagem para satisfazer as
suas mais prementes necessidades, interferindo nas mudanças e na alternância do
poder.
Trabalhar em equipe, conviver em
movimentos sociais, integrar organizações como trabalhador, usuário ou aluno,
todas são situações em que se estará obrigado a fazer política. Isso deve
permear as discussões, os projetos e planificações das questões de saúde,
devendo os gestores estarem cientes do
seu papel de sistematizadores das decisões coletivas e não como impositores de
políticas que não respondem aos anseios populares.
A noção da teoria da Pandéia deveria nortear
as avaliações nesse período pós-eleitoral, de transição política e da busca de
consensos com a sociedade. Somente assim teremos uma saúde publica mais
realista, mais reflexiva das questões mais emergentes. E no Amapá essa urgência
de saúde é uma questão que necessita de iminente resolução, para não
continuarmos nos discursos vazios e nas
medidas imediatistas e antipopulares, como o que se vislumbra com a propostas
do governo federal com a reforma política, que quer ignorar a opinião popular.
Esperamos que os governos eleitos se debruçassem nessas reflexões, para tomar as medidas
mais acertadas e na escolha de gestores mais preparados.
JARBAS DE ATAÍDE, 28.10.2014, Macapá-AP,Dia do
Funcionário Público.
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