Unidades
mistas de saúde no Amapá
Jarbas ataide
Ate
1988, ano da promulgação da Constituição Federal, chamada “ Constituição
cidadã”, o Amapá era Território Federal, tendo apenas 6 municípios: Amapá,
Calçoene, Oiapoque, Santana, Laranjal do Jarí
e Macapá. Apenas Macapá tinha
hospitais, construídos após a
criação do Território em 1945, na gestão do governador nomeado Janary Nunes.
Nessa época Macapá era pequena e pacata, tinha poucos carros, típica
cidadezinha interiorana, apesar de ser capital do GTFA.
Fora
Macapá, os demais municípios possuíam Unidades Mistas de Saúde (UMS),
comandadas e coordenadas pela 2ª Regional de Saúde, que comportava as demais 5
unidades municipais.
Conforme
definição do DATSUS Unidade Mista de Saúde é uma unidade básica “destinada a
prestar atenção básica e integral à saúde, de forma programada ou não, nas
quatro especialidades básicas [Clínica Geral, Pediatria, Gineco-Obstetrícia e
Cirurgia], podendo oferecer assistência odontológica e de outros profissionais,
com unidade de internação, sob administração única. A assistência médica deve
ser permanente e prestada por médico generalista ou especialista.” Está no
nível hierárquico 5.
Pela
definição, as UMS possuem estrutura administrativa simplificadas, com um
comando único, estruturadas para atendimento ambulatorial nas especialidades
básicas citadas, executando serviços emergenciais corriqueiros e de média complexidade,
realizando partos normais, assistência odontológica primaria (prevenção e
exodontia), mas não possuindo infraestrutura física ou equipamentos para uma assistência mais complexa, inclusive
com internações dos casos que exijam maior cuidado. Essa deficiência de
acomodação, equipamentos, materiais e estrutura adequada, permitiu que
vivêssemos por muitos anos, e ainda existente hoje, a cultura da “ambulansaúde”, ou melhor, cada
município tinha uma ambulância para transportar os casos de maior complexidade
para a capital.
Com
o avançar dos anos e com a transformação do Território em Estado, em 1990, os 16
municípios criados deveriam comportar unidades hospitalares mais estruturadas e
equipadas para atender a demanda crescente. A própria municipalização da saúde
exigida pelo SUS cobrava essa mudança, que não se processou de maneira
simultânea, cujas administrações municipais não estavam esclarecidas de seus
deveres constitucionais e nem das prerrogativas e competências em relação à
assistência em saúde. Lembro muito bem, que na 1ª Conferência Estadual de Saúde
do Amapá, já na condição de Estado, sob o Governo de Anibal Barcellos, que
tratava da “municipalização como caminho”, o Secretário de Saúde do Estado e o
próprio governador não participaram, gerando protestos dos conferencistas, em
desrespeito à própria Constituição e à Lei 8080, ou Lei Orgânica da Saúde.
A
capital Macapá não foi exceção, mantendo a mesma estrutura da época de Janary Nunes, com o Hospital de
Pronto Socorro Osvaldo Cruz, a Maternidade de Macapá e o Hospital Geral. Apenas
em Santana e no Laranjal do Jarí as UMS foram transformadas em Hospitais
Estaduais. Os demais 13 municípios mantiveram a mesma estrutura desde aquela
época, exceto Oiapoque que teve seu Hospital Estadual inaugurado somente em
2013, depois de passar 12 anos de construção, possuindo estrutura arquitetônica
de grande hospital, porém com cultura e operacionalização de UMS, onde a
população vai a procura de consulta básica ambulatorial, pois a Prefeitura
Municipal não consegue cumprir sua prerrogativas e ações nas Unidades Básicas
de Saúde(UBS).
Mas
voltando ao assunto das UMS do antigo Território, podemos dizer que o avanço e
a inovação exigida pela legislação sanitária do SUS não foi acompanhada pelos
gestores estaduais e municipais, permanecendo ate hoje nessa condição, mesmo
com as deliberações e propostas das Conferências de Saúde e com todo o arcabouço de leis, normas e diretrizes
ordinárias oriundas dos avanços do sistema de saúde brasileiro. Hoje nos
perguntamos por que o SUS, apesar de ser um dos sistemas mais avançados em
democracia e cidadania do mundo, não funciona a contento?
A
CF/88 preconiza os deveres do Estado em relação à saúde, dedicando grande parte
dos artigos ao SUS, como sistema universalizado e hierarquizado, cobrindo uma
área territorial definida, com pactos e compromissos firmados entre municípios, Estado e União, com níveis
de assistência primária, secundária, terciária e reabilitação. No entanto a
maioria dos municípios amapaenses ainda não saíram do nível primário de
assistência, cujas Prefeituras não elaboram projetos visando buscar parcerias e
verbas federais para equipar e manter
com padrão mínimos suas UMS, que ainda são de responsabilidade estadual.
Sobrevivem com recursos minguados do Fundo de Saúde Estadual, sem autonomia
para estabelecer convênios e buscar recursos próprios, pois não cumprem a
prerrogativa da internação com AIH, que deveria ser ressarcida e paga pelo
Ministério da Saúde, via sistema SIA-SUS.
Em
função disso, alegam os gestores municipais que possuem gastos excessivos com a
assistência primária nos Postos e UBS. Por exemplo, a Prefeitura de
Tartarugalzinho adquiriu, em meados de 2006, vários esterilizadores
hospitalares e instalou nos Postos de Saúde das localidades e assentamentos,
onde não existia rouparia e nem equipamentos ou instrumentais médicos para
esterilizar, os quais nunca foram utilizados, tornando-se obsoletos e gerando
gastos desnecessários para o município. Enquanto isso, na UMS do Estado os
materiais e equipamentos médicos utilizados eram esterilizados em simples
estufas.
Ouço
à longos anos a conversa de um projeto de transformação das UMS em Hospitais de
Pequeno Porte, ou seja, uma estrutura física, técnica, administrativa e
operacional capaz de realizar além daquilo que deveria ser oferecido pelas UMS,
ofertando assistência de qualidade à população do interior do estado, evitando
que busque a capital Macapá para tratar casos simples e banalidades que
poderiam ser muito bem resolvidas no próprio município. Eis ai uma proposta
para os mais recentes Deputados Estaduais, Federais, Senador eleitos e ao
Governador a ser escolhido, de proporem o mais urgente essa transformação, tirando
a população dos interiores da total penúria em relação à saúde pública.
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