Alianças
com partidos improváveis e posicionamentos incoerentes pontuam atuação de
políticos ditos de esquerda no Amapá
Da Redação
Com um governador que perdeu as eleições com duas
máquinas, município e estado à sua inteira disposição e sai com uma rejeição de
mais de 50% do eleitorado, dois senadores com mandatos pífios e um prefeito que
ainda não disse a que veio, a esquerda no Amapá cambaleia sem rumo. É como uma
criança na cabine de um avião, deslumbrada com as luzes e quantidade de botões
que nunca tinha visto.
Em 2011, o PSB foi colocado nesta cabine. O
resultado dos quatro anos de voo foi a turbulência do começo ao fim até a queda
em outubro passado. Do acidente, saíram com ferimentos graves outros
“passageiros” que se mantiveram nas poltronas, ainda acreditando na esperança
de que o comandante soubesse o que estava fazendo. Mas ele não sabia.
O governo de Camilo Capiberibe foi um desastre
inconteste. O mandato de Clécio Luís, o “homem dos cem dias”, é outra tragédia.
Randolfe Rodrigues permanece de costas para o Amapá e João Capiberibe prefere
usar a Tribuna do Senado para atacar adversários pessoais e o gabinete para
pedir ressarcimento de corridas de táxi e sanduíches consumidos nos Mcdonald´s
de Brasília. Este é o mais simples resumo da esquerda no Amapá.
No caso do senador do PSOL, Randolfe Rodrigues
metaforicamente pode ser comparado a um camaleão, aquele animal rastejante que
muda de cor de acordo com o ambiente a seu redor. Só que ultimamente, sua
camuflagem acabou sendo percebida dentro do meio no qual ele convive desde que
deixou o disfarce anterior de petista.
Luciana Genro, do
mesmo partido chegou a afirmar no começo de setembro passado com todas as
letras, que o senador praticamente já estariafora do PSOL. O motivo em questão,
segundo ela, foi o parlamentar ter se “encantado” pela proposta política de
Marina Silva, que disputou as eleições para presidente da República pelo PSB,
depois da morte de Eduardo Campos às vésperas do pleito.
Luciana Genro disparou para a mídia nacional: "Randolfe acabou
sendo seduzido por uma proposta mais viável eleitoralmente. Obviamente que eu
não concordo com as ideias dele. A maioria do partido percebeu, ao longo da
pré-campanha, que ele estava expressando muito mais as posições dele do que da
militância. É por isso que ele desistiu da candidatura, porque não tinha
respaldo dentro do partido". Por sua vez, Randolfe se declarou surpreso
com as declarações.
O senador, entretanto, negou que esteja deixando o partido. Ele rebateu
dizendo: "Deixei de ser candidato a presidente para a Luciana ser. Fui
surpreendido com essa declaração agressiva e desnecessária”. Na mesma fala
valorizou o passe quando disse que as declarações foram feitas “contra o único
senador do PSOL". Já Luciana prosseguiu com as farpas dizendo que Randolfe
não carrega as bandeiras do partido. Referindo-se na época da eleição
presidencial, ela disse que o senador estava "embarcando numa pressão
oportunista para estar mais próximo de quem está com mais chances
eleitorais."
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"desfiliado"
No Tribunal Superior Eleitoral, em setembro, a certidão que indica a
filiação de Randolfe Rodrigues ao PSOL aparecia com "pendência de
cancelamento". Na relação de filiados do partido, constavam ainda dois
registros relacionados a ele: um como "desfiliado" e outro como
"cancelado", o que comprova a possível ruptura ainda tratada “por
baixo do pano”.
Randolfe, Clécio e Marina Silva |
O incômodo teria sido agravado durante a campanha presidencial, quando o
senador pouco deu importância ao nome de Luciana Genro preferindo tecer elogios
à Marina Silva nas redes sociais. Chegou a considerar Marina Silva mais
preparada que Dilma Rousseff, mas não falou nada sobre Luciana Genro, candidata
de seu partido.
A crise de
identidade ideológico partidária de Randolfe Rodrigues não é de hoje, nem sua
incoerência. Ela se tornou bem mais clara em 2012 durante a corrida eleitoral
para a prefeitura de Macapá. Na ocasião, o senador deixou claro que PSOL, no
entendimento dele, são apenas quatro letras que formam uma sigla. O pensamento
foi comungado por outro confuso personagem político, o então vereador Clécio
Luís, companheiro de Randolfe na época do PT, que mantinha adoração ao PSB e a
figuras como João Capiberibe, que o colocou em seu governo.
A eleição
municipal de 2012, na visão de Randolfe e Clécio acabou virando um vale tudo.
Para alguns, um verdadeiro leilão de alianças onde o que importava era chegar
ao poder sem olhar para os meios. O improvável para a recém-criada sigla de
Eloísa Helena e Luciana Genro acabou acontecendo em esfera local sem qualquer
pudor. O PSOL de Randolfe e Clécio coligou abertamente com o DEM, de Davi
Alcolumbre, que havia sido secretário municipal de obras da gestão que ajudaria
a derrubar, além do PTB e PSDB, todas siglas de direita. O único no elenco tido
como esquerda foi o PSB, mantido atrás da cortina por conta da rejeição
gigantesca de Camilo Capiberibe. Clécio e Randolfe tinham medo do contágio.
A informação da
“rifa” política de alianças para o segundo turno municipal promovida pelo
senador e candidato a prefeito chegou à direção nacional do PSOL. O partido
divulgou nota execrando o comportamento dos dois políticos. O documento foi
assinado por 32 nomes dizendo que: “ fomos surpreendidos pelas informações sobre as alianças que
estão sendo articuladas para o segundo turno em Macapá. Diversos órgãos de
imprensa do Amapá divulgaram, no dia 12/10, a realização de um ato político em
que o candidato a prefeito pelo DEM e pela coligação “Macapá Melhor”
(DEM-PTB-PSDB-PRP), o deputado federal Davi Alcolumbre, apoiou Clécio Luís
(PSOL), selando uma aliança. O Candidato do DEM declarou que “nossas propostas
foram incorporadas ao plano de governo de Clécio”. O senador Randolfe Rodrigues
(PSOL) declarou que esta não é apenas “uma aliança política, e sim um caminho
novo para a política no Amapá”.
Mais adiante a nota continua as
críticas referindo-se a outra aliança feita em 2010 para apoiar Lucas Barreto. “Um dos representantes do
PTB presentes foi o vereador eleito Lucas Barreto, candidato ao governo do
Amapá em 2010, quando foi apoiado por Clécio e Randolfe, na contra-mão do PSOL
nacional”.
A nota chega a ser mais direta: “Ora, o PSOL de todo o país, que acabou de
brilhar com uma campanha eleitoral de esquerda, não merece uma agressão como
esta que está sendo feita contra ele. É evidente que a candidatura a prefeito
de um deputado federal do DEM, apoiada por DEM, PTB e PSDB, só pode ser uma
candidatura de direita, da qual não devemos buscar o apoio, e com a qual, muito
menos, podemos fazer qualquer aliança programática. Tampouco faz nenhum sentido
fazer com estes partidos uma “aliança pela moralidade”. DEM, PTB e PSDB estão
na lista de partidos com os quais o DN do PSOL proibiu qualquer aliança nas
eleições de 2012”.
E mais: “Um partido cuja
razão de ser é representar uma alternativa de esquerda à adaptação da maior
parte da antiga esquerda brasileira ao social-liberalismo não pode tolerar esta
aliança em Macapá, sob pena de se desmoralizar e de comprometer todo o seu
discurso político. A desastrada política encaminhada em Macapá deve ser
revertida, ou os responsáveis por ela deverão ser sancionados pelo partido. Se
não adequarem sua atuação à linha do partido, não deverão ter lugar nas suas
fileiras”.
Mas Randolfe e
Clécio não deram ouvidos à direção nacional dando a entender que o PSOL no
Amapá tem outro estatuto e pensamento próprio. O então vereador foi eleito com
a ajuda da direita tão abominada pelo partido em nível nacional. Durante a
campanha se auto intitulou de “Novo” e disparava que precisava ser ajudado para
acabar com a “direita carcomida”. Só não dizia que esta mesma direita estava
toda a seu lado lhe oferecendo as velhas táticas.
Já na prefeitura,
em seus primeiros dias de mandato, Clécio Luís, o
pessolista-democrata-trabalhista de esquerda-centro-direita declarou que em cem
dias resolveria os problemas básicos da cidade de Macapá. Na prática a
afirmação foi um fracasso. Lembrando a criança deslumbrada com os controles na
cabine do avião, Clécio pilota uma nave com controle emperrado e pouco
combustível fadada a cair. Mais uma prova de que a esquerda, principalmente no
Amapá, é melhor que seja decorativa relembrando um velho bordão que diz:
“Esquerda só funciona fazendo oposição”.
Bola da vez
A máxima ficou
clara por ter sido repetida mais uma vez este ano, tendo à frente os mesmos
personagens de 2012. A diferença é que Davi Alcolumbre, do DEM, foi a bola da
vez apoiado novamente pelo PSOL, agora para o Senado. O então deputado federal
de extrema direita que nasceu politicamente no grupo apoiado por José Sarney
declarou guerra ao decano do PMDB, e de uma hora para outra resolveu abraçar os
“socialistas” de grife no Amapá.
Nesta ocasião,
Camilo Capiberibe, outra atrapalhada figura da esquerda tucuju estava exposto
na vitrine até então apoiando a candidatura ao Senado da petista e
vice-governadora Dora Nascimento. Vendo que a “companheira” não decolava,
resolveu virar-se para Davi. Governo e prefeitura, declarados esquerdistas, mais
uma vez estavam às voltas com a tão execrada direita, em busca de poder.
A alegação dos
“socialistas” é de não permitir que oligarquias se perpetuem, e que para
derruba-las, tudo que for preciso ser feito, será.Randolfe prega um discurso de que
o Amapá é um mundo à parte do Brasil. Por conta disso, a filosofia partidária
do PSOL, somente vale dos limites do Estado, para fora.
A verdade é que por conta de tais comportamentos
confusos e sem posicionamentos fixos, a convivência dele no partido está cada
dia mais difícil. A desistência da candidatura à Presidência da República fez
com que os líderes do PSOL começassem a deduzir uma imagem do senador. Os
posicionamentos favoráveis a Marina Silva, que empunhou a bandeira do PSB,
deram rosto a esta imagem que já vinha sendo moldada nas alianças com a extrema
direita.
Com tantos posicionamentos duvidosos fica a
pergunta já feita em outras ocasiões sobre quem afinal é Randolfe Rodrigues
politicamente. O mesmo questionamento cabe a seu companheiro de sigla Clécio
Luís. Por enquanto, o comportamento destes políticos, incluindo Camilo e João
Capiberibe, leva ao conceito de que a esquerda no Amapá é algo confuso e
enevoado, que começa a perder terreno com a derrota do atual governador e seus
índices de rejeição. Caso o eleitor cumpra o que vem falando, de estender as
“demissões” até a próxima eleição, a tal esquerda, que por aqui aparenta ser só
mais uma palavra, deve voltar a fazer somente oposição”.
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