sexta-feira, 21 de novembro de 2014

especial



Alianças com partidos improváveis e posicionamentos incoerentes pontuam atuação de políticos ditos de esquerda no Amapá  
Senador João Capiberibe (PSB), governador Camilo (PSB), senador eleito Davi Alcolumbre (DEM), Senador Randolfe Rodrgues (PSoL) e prefeito de Macapá Clécio Luiz (Psol) direita e esquerda marcham juntos
 


Da Redação


Com um governador que perdeu as eleições com duas máquinas, município e estado à sua inteira disposição e sai com uma rejeição de mais de 50% do eleitorado, dois senadores com mandatos pífios e um prefeito que ainda não disse a que veio, a esquerda no Amapá cambaleia sem rumo. É como uma criança na cabine de um avião, deslumbrada com as luzes e quantidade de botões que nunca tinha visto.
Em 2011, o PSB foi colocado nesta cabine. O resultado dos quatro anos de voo foi a turbulência do começo ao fim até a queda em outubro passado. Do acidente, saíram com ferimentos graves outros “passageiros” que se mantiveram nas poltronas, ainda acreditando na esperança de que o comandante soubesse o que estava fazendo. Mas ele não sabia.

O governo de Camilo Capiberibe foi um desastre inconteste. O mandato de Clécio Luís, o “homem dos cem dias”, é outra tragédia. Randolfe Rodrigues permanece de costas para o Amapá e João Capiberibe prefere usar a Tribuna do Senado para atacar adversários pessoais e o gabinete para pedir ressarcimento de corridas de táxi e sanduíches consumidos nos Mcdonald´s de Brasília. Este é o mais simples resumo da esquerda no Amapá. 

No caso do senador do PSOL, Randolfe Rodrigues metaforicamente pode ser comparado a um camaleão, aquele animal rastejante que muda de cor de acordo com o ambiente a seu redor. Só que ultimamente, sua camuflagem acabou sendo percebida dentro do meio no qual ele convive desde que deixou o disfarce anterior de petista.
Luciana Genro, do mesmo partido chegou a afirmar no começo de setembro passado com todas as letras, que o senador praticamente já estariafora do PSOL. O motivo em questão, segundo ela, foi o parlamentar ter se “encantado” pela proposta política de Marina Silva, que disputou as eleições para presidente da República pelo PSB, depois da morte de Eduardo Campos às vésperas do pleito.
Luciana Genro disparou para a mídia nacional: "Randolfe acabou sendo seduzido por uma proposta mais viável eleitoralmente. Obviamente que eu não concordo com as ideias dele. A maioria do partido percebeu, ao longo da pré-campanha, que ele estava expressando muito mais as posições dele do que da militância. É por isso que ele desistiu da candidatura, porque não tinha respaldo dentro do partido". Por sua vez, Randolfe se declarou surpreso com as declarações. 

O senador, entretanto, negou que esteja deixando o partido. Ele rebateu dizendo: "Deixei de ser candidato a presidente para a Luciana ser. Fui surpreendido com essa declaração agressiva e desnecessária”. Na mesma fala valorizou o passe quando disse que as declarações foram feitas “contra o único senador do PSOL". Já Luciana prosseguiu com as farpas dizendo que Randolfe não carrega as bandeiras do partido. Referindo-se na época da eleição presidencial, ela disse que o senador estava "embarcando numa pressão oportunista para estar mais próximo de quem está com mais chances eleitorais."
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"desfiliado"
 
Reprodução do TSE
No Tribunal Superior Eleitoral, em setembro, a certidão que indica a filiação de Randolfe Rodrigues ao PSOL aparecia com "pendência de cancelamento". Na relação de filiados do partido, constavam ainda dois registros relacionados a ele: um como "desfiliado" e outro como "cancelado", o que comprova a possível ruptura ainda tratada “por baixo do pano”. 
Randolfe, Clécio e Marina Silva

O incômodo teria sido agravado durante a campanha presidencial, quando o senador pouco deu importância ao nome de Luciana Genro preferindo tecer elogios à Marina Silva nas redes sociais. Chegou a considerar Marina Silva mais preparada que Dilma Rousseff, mas não falou nada sobre Luciana Genro, candidata de seu partido.
A crise de identidade ideológico partidária de Randolfe Rodrigues não é de hoje, nem sua incoerência. Ela se tornou bem mais clara em 2012 durante a corrida eleitoral para a prefeitura de Macapá. Na ocasião, o senador deixou claro que PSOL, no entendimento dele, são apenas quatro letras que formam uma sigla. O pensamento foi comungado por outro confuso personagem político, o então vereador Clécio Luís, companheiro de Randolfe na época do PT, que mantinha adoração ao PSB e a figuras como João Capiberibe, que o colocou em seu governo.

A eleição municipal de 2012, na visão de Randolfe e Clécio acabou virando um vale tudo. Para alguns, um verdadeiro leilão de alianças onde o que importava era chegar ao poder sem olhar para os meios. O improvável para a recém-criada sigla de Eloísa Helena e Luciana Genro acabou acontecendo em esfera local sem qualquer pudor. O PSOL de Randolfe e Clécio coligou abertamente com o DEM, de Davi Alcolumbre, que havia sido secretário municipal de obras da gestão que ajudaria a derrubar, além do PTB e PSDB, todas siglas de direita. O único no elenco tido como esquerda foi o PSB, mantido atrás da cortina por conta da rejeição gigantesca de Camilo Capiberibe. Clécio e Randolfe tinham medo do contágio.
A informação da “rifa” política de alianças para o segundo turno municipal promovida pelo senador e candidato a prefeito chegou à direção nacional do PSOL. O partido divulgou nota execrando o comportamento dos dois políticos. O documento foi assinado por 32 nomes dizendo que:  fomos surpreendidos pelas informações sobre as alianças que estão sendo articuladas para o segundo turno em Macapá. Diversos órgãos de imprensa do Amapá divulgaram, no dia 12/10, a realização de um ato político em que o candidato a prefeito pelo DEM e pela coligação “Macapá Melhor” (DEM-PTB-PSDB-PRP), o deputado federal Davi Alcolumbre, apoiou Clécio Luís (PSOL), selando uma aliança. O Candidato do DEM declarou que “nossas propostas foram incorporadas ao plano de governo de Clécio”. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL) declarou que esta não é apenas “uma aliança política, e sim um caminho novo para a política no Amapá”. 

Mais adiante a nota continua as críticas referindo-se a outra aliança feita em 2010 para apoiar Lucas Barreto. Um dos representantes do PTB presentes foi o vereador eleito Lucas Barreto, candidato ao governo do Amapá em 2010, quando foi apoiado por Clécio e Randolfe, na contra-mão do PSOL nacional”.
A nota chega a ser mais direta: Ora, o PSOL de todo o país, que acabou de brilhar com uma campanha eleitoral de esquerda, não merece uma agressão como esta que está sendo feita contra ele. É evidente que a candidatura a prefeito de um deputado federal do DEM, apoiada por DEM, PTB e PSDB, só pode ser uma candidatura de direita, da qual não devemos buscar o apoio, e com a qual, muito menos, podemos fazer qualquer aliança programática. Tampouco faz nenhum sentido fazer com estes partidos uma “aliança pela moralidade”. DEM, PTB e PSDB estão na lista de partidos com os quais o DN do PSOL proibiu qualquer aliança nas eleições de 2012”.
E mais: Um partido cuja razão de ser é representar uma alternativa de esquerda à adaptação da maior parte da antiga esquerda brasileira ao social-liberalismo não pode tolerar esta aliança em Macapá, sob pena de se desmoralizar e de comprometer todo o seu discurso político. A desastrada política encaminhada em Macapá deve ser revertida, ou os responsáveis por ela deverão ser sancionados pelo partido. Se não adequarem sua atuação à linha do partido, não deverão ter lugar nas suas fileiras”.

Mas Randolfe e Clécio não deram ouvidos à direção nacional dando a entender que o PSOL no Amapá tem outro estatuto e pensamento próprio. O então vereador foi eleito com a ajuda da direita tão abominada pelo partido em nível nacional. Durante a campanha se auto intitulou de “Novo” e disparava que precisava ser ajudado para acabar com a “direita carcomida”. Só não dizia que esta mesma direita estava toda a seu lado lhe oferecendo as velhas táticas.
Já na prefeitura, em seus primeiros dias de mandato, Clécio Luís, o pessolista-democrata-trabalhista de esquerda-centro-direita declarou que em cem dias resolveria os problemas básicos da cidade de Macapá. Na prática a afirmação foi um fracasso. Lembrando a criança deslumbrada com os controles na cabine do avião, Clécio pilota uma nave com controle emperrado e pouco combustível fadada a cair. Mais uma prova de que a esquerda, principalmente no Amapá, é melhor que seja decorativa relembrando um velho bordão que diz: “Esquerda só funciona fazendo oposição”.
 

Bola da vez


A máxima ficou clara por ter sido repetida mais uma vez este ano, tendo à frente os mesmos personagens de 2012. A diferença é que Davi Alcolumbre, do DEM, foi a bola da vez apoiado novamente pelo PSOL, agora para o Senado. O então deputado federal de extrema direita que nasceu politicamente no grupo apoiado por José Sarney declarou guerra ao decano do PMDB, e de uma hora para outra resolveu abraçar os “socialistas” de grife no Amapá.
Nesta ocasião, Camilo Capiberibe, outra atrapalhada figura da esquerda tucuju estava exposto na vitrine até então apoiando a candidatura ao Senado da petista e vice-governadora Dora Nascimento. Vendo que a “companheira” não decolava, resolveu virar-se para Davi. Governo e prefeitura, declarados esquerdistas, mais uma vez estavam às voltas com a tão execrada direita, em busca de poder. 

A alegação dos “socialistas” é de não permitir que oligarquias se perpetuem, e que para derruba-las, tudo que for preciso ser feito, será.Randolfe prega um discurso de que o Amapá é um mundo à parte do Brasil. Por conta disso, a filosofia partidária do PSOL, somente vale dos limites do Estado, para fora.

A verdade é que por conta de tais comportamentos confusos e sem posicionamentos fixos, a convivência dele no partido está cada dia mais difícil. A desistência da candidatura à Presidência da República fez com que os líderes do PSOL começassem a deduzir uma imagem do senador. Os posicionamentos favoráveis a Marina Silva, que empunhou a bandeira do PSB, deram rosto a esta imagem que já vinha sendo moldada nas alianças com a extrema direita. 

Com tantos posicionamentos duvidosos fica a pergunta já feita em outras ocasiões sobre quem afinal é Randolfe Rodrigues politicamente. O mesmo questionamento cabe a seu companheiro de sigla Clécio Luís. Por enquanto, o comportamento destes políticos, incluindo Camilo e João Capiberibe, leva ao conceito de que a esquerda no Amapá é algo confuso e enevoado, que começa a perder terreno com a derrota do atual governador e seus índices de rejeição. Caso o eleitor cumpra o que vem falando, de estender as “demissões” até a próxima eleição, a tal esquerda, que por aqui aparenta ser só mais uma palavra, deve voltar a fazer somente oposição”.

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