sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

ANÁLISE





Adrimauro Gemaque (adrimaurosg@gmail.com)


Se 2014 não foi bom para a economia brasileira, não será diferente em 2015.
O ano de 2015 está se aproximando e promete ser turbulento na economia, pois o ciclo da crise econômica do capital de 2008 ainda não se fechou. Esta fez com que os governos aprofundem seus projetos neoliberais, enquanto as ditaduras por todo o mundo arrocham os salários com política fiscal dura.

Aqui no Brasil, fazendo uma retrospectiva do governo Lula de oito anos, teve méritos e deméritos bem sensíveis. Como mérito maior está o de ter seguido, rigorosamente, a política de Fernando Henrique Cardoso em matéria econômica. Esta ação política conseguiu empreender um desenvolvimento historicamente reclamado por diversos setores sociais. No entanto, o crescimento econômico do Brasil não conseguiu se desvencilhar de velhas práticas econômicas como as dos governos anteriores. A manutenção de determinadas ações políticas foram alvo de duras críticas. No ano de 2005, o governo foi denunciado por realizar a venda de propinas para conseguir a aprovação de diversas medidas de interesse próprio.

Já no governo de Dilma, também não foi diferente. As medidas econômicas neoliberais continuaram a serem implementadas, e também ocorreram denúncias de corrupção. Por fim, conseguiu a sua reeleição com uma margem pequena de votos. O discurso da campanha foi um e o que estamos constatando, ainda antes da posse, são práticas distantes do que foi prometido na campanha. Foi um rompimento com o que foi pregado nos palanques.

Está sempre na ordem do dia do governo atual o tema distribuição de renda. Pura balela. São diversos os fatores que contribuem para a classificação do Brasil entre os países com os piores níveis de distribuição de renda do mundo. As desigualdades sociais no Brasil são muito grandes e, apesar de toda a falácia do governo do PT, avançamos pouco nesta área. Senão, vejamos dados pela ONU, mostram a concentração de renda em nosso país. Em 2008, para cada 1 dólar destinado aos 10% mais pobres, 51,3 dólares são destinados aos 10% mais ricos. O nível é comparável a países como Guatemala (US$ 48,20), Panamá (US$ 57,50) e El Salvador (US$ 57,50), o que mostra o quão privilegiadas são as elites em nosso país.

Quando analisamos o desempenho da renda per capita no Brasil por estados, percebemos que existe um hiato entre as unidades da federação. A unidade da federação que apresenta o menor valor é o Maranhão (R$ 360,34), enquanto o maior valor fica com o Distrito Federal (R$ 1.715,11). Também as políticas públicas de combate à pobreza e à desigualdade não são suficientemente efetivas para a reversão das mazelas sociais. Menos de 10% da população adulta têm Ensino Superior no Brasil, frente à cerca de 25% nos países avançados (segundo dados do IBGE e OCDE). Outro dado refere-se ao seguro-desemprego que não contempla a massa de trabalhadores informais e tem duração e remuneração muito limitadas em nosso país. Outro fator que contribui com o hiato social é a falta de investimentos no setor de saúde pública, onde o Brasil mantém distante dos níveis adequados uma série de indicadores da Organização Mundial de Saúde. Assim, o acesso à saúde ou à educação é extremamente desigual: quanto mais rica a pessoa, maior a possibilidade de acesso a serviços de qualidade. A expansão da rede privada de saúde e de educação básica e fundamental foi acompanhada, na contramão do desenvolvimento histórico, de um sucateamento do serviço público nesses setores, ampliando consequentemente as desigualdades.

A situação da economia no país tem levado a uma “trinca perigosa e perversa” que é: superavit primário em nível baixo, juros altos e baixo crescimento. Esta realidade é perceptível quando os economistas refazem as projeções para vários indicadores, por exemplo: a nova estimativa de expansão de 0,8% para o Produto Interno Bruto (PIB) no ano de 2015, contra os 2% previstos – esta alteração foi enviada na semana passada pela nova equipe econômica ao Congresso Nacional.

Em função destes vários cenários, o Brasil passou a ser visto como frágil e vulnerável pra fazer frente a moeda americana. Talvez nenhum outro indicador mostre isso mais claramente do que a poupança nacional que em 2013 chegou a representar apenas 13,9% do PIB, um recorde desde 1995, gerando a necessidade de financiamento externo do país. Isso é um prenúncio de que o Brasil passará por um forte ajuste nos gastos do setor público e das famílias, e também no investimento, como aconteceu no final dos anos 1990 e início da década passada, quando duras medidas foram tomadas, impedindo a volta da inflação.

A preocupação e os desafios para 2015 são muitos e se dão, principalmente, por conta das previsões do mercado que espera que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA/IBGE) fique em 5,8% no próximo ano, segundo a última edição do Boletim Focus do Banco Central. E ao mesmo  tempo  o FMI projeta a elevação da economia brasileira em apenas 1,4%, com redução de 0,6% em relação à previsão de julho. Projetando um crescimento da economia mundial em 3,3%, neste ano, e 3,8%, em 2015. As novas estimativas fazem parte da publicação Perspectiva Econômica Mundial (World Economic Outlook).

Diante deste cenário, a população assiste, inerte e impotente, a cada dia, mais denúncias de corrupção e escândalos. As apurações dos fatos são lentas e tendenciosas. Os parlamentares em Brasília trocam seu papel de representantes do povo e fiscais do governo executivo federal por moeda de troca em emendas, barganhando interesses pessoais e de seus partidos políticos. Até quando nós, simples mortais, teremos que aceitar que isso faz parte da nossa cultura, desde as nossas origens? Isso cansa!


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