sábado, 21 de março de 2015

ABATE CLANDESTINO, Amapaense pode estar comendo carne suína contaminada


ABATE CLANDESTINO

Amapaense pode estar comendo carne suína contaminada


A falta de matadouros para suínos e fiscalização nas condições de higiene em que a carne de porco é vendida transforma esse comércio em risco para a saúde da população amapaense. 

Todo o abate é feito de forma clandestina e não existe qualquer certificação que ateste a qualidade do produto. Segundo os veterinários, a carne suína pode transmitir doenças fatais ao ser humano.


José Marques Jardim

A criação de porcos (suinocultura) é hoje uma das atividades da agropecuária mais procurada e produzida no mundo. Informações dão conta de que as primeiras espécies chegaram à América trazidas por Cristóvão Colombo no ano de 1492. Já no Brasil, quem trouxe os animais foi Martim Afonso de Sousa em 1532, durante a fundação de São Vicente no litoral paulista. De lá para cá, tanto a criação quanto a comercialização não pararam mais.

Em muitos Estados esse tipo de comércio se dá aliado a alta tecnologia e preocupação com certificações de qualidade expedidos por órgãos de vigilância sanitária. O animal é inspecionado desde o cativeiro nos matadouros até entrar na linha de abate.

Pesquisas e relatórios de entidades envolvidas com o setor informam que a produção do Brasil afora acontece em propriedades pequenas, médias e integradas a grandes processadores. A regra a ser obedecida é produzir de acordo com as normas e fornecer o produto com qualidade e características exigidas pela indústria.

Mas tal realidade é própria somente de Estados considerados de ponta na comercialização desse produto. No Amapá, onde o consumo de carne de porco é considerado relevante se comparado à carne de boi, os métodos de abate e comércio estão muito abaixo das normas de saúde e higiene observadas no restante do País. Na outra ponta, a população consumidora corre sérios riscos ao consumidor a carne suína, sem saber sua procedência.

O problema é antigo e não parece ter solução. As autoridades sanitárias dizem ter conhecimento, mas nunca colocaram em prática uma ação que fiscalizasse o abate clandestino e as condições de higiene nas quais o produto é exposto ao consumidor. Nas feiras, a carne suína fica pendurada durante horas em locais improvisados em meio à poeira e moscas. Não existe qualquer certificação veterinária de que o animal abatido estava ou não saudável. Em resumo, quem compra carne de porco em Macapá, não sabe se está levando um futuro problema para casa.  


Comércio Clandestino
  
Prova desse comércio clandestino é a feira que funciona na rampa do bairro Santa Inês, um dos principais atracadouros de pequenas embarcações da capital. É uma estrutura de concreto que avança poucos metros no rio Amazonas e também serve para o comércio do açaí.  

É lá que aos domingos, segundas e quartas-feiras os animais ficam expostos “peiados” aos compradores. O negócio é fechado de forma rápida. Depois da escolha, o abate é o segundo passo. O porco é sangrado na própria rampa e esquartejado. O sangue geralmente escorre para o rio, o que é tratado com indiferença, tanto por quem vende quanto para quem compra e vai revender o produto que na fonte custa de R$ 5,00 a R$ 6,00 e chega nas mãos do consumidor em torno de R$ 20,00.    

Momento do desembarque de porcos abatidos na rampa do açaí.
De acordo com a Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária do Amapá – Diagro -, trata-se de prática ilegal e crime contra a saúde pública. O diretor presidente Otacílio Barbosa, que tem em mãos outro problema grave com a carne bovina dos rebanhos do Amapá ser considerada de risco desconhecido disse que algo já deveria ter sido feito há muito tempo com relação ao abate clandestino de suínos. Hoje, o Amapá não dispõe de matadouros legalizados o que torna irregular e de risco, praticamente toda a carne comercializada principalmente nas feiras. Consequentemente o produto não é aferido por qualquer veterinário, o que garantiria que a carne que chega ao consumidor não estivesse doente.    

Já a vigilância sanitária do município, além de reconhecer a falta de matadouros para suínos e a procedência duvidosa da carne ainda informou que haveria a necessidade da Guia de Trânsito Animal para o deslocamento dos suínos. A GTA exige que sejam apresentados certificados de vacinação ou atestado de sanidade. São estes documentos que asseguram que o animal está livre de doenças. 

Os animais vendidos e mortos na rampa do bairro Santa Inês geralmente são trazidos de localidades do Pará. Ano passado a Vigilância Sanitária de Macapá disse não ter conhecimento dos abates na rampa e que passaria a fiscalizar a situação. Nada aconteceu.

Já a Diagro reconhece que o abate de suínos é feito sem qualquer controle, e isso dificulta as informações sobre a procedência. A Agência tem a responsabilidade sobre o trânsito dos animais cabendo à vigilância sanitária as fiscalizações. O projeto de um matadouro para porcos já teria sido criado, mas nunca entrou em execução. 


Amapaense consome 2, 1 kg de carne suína

Pesquisas revelam que a carne suína é a preferida em todo o mundo, com algumas variações entre os países. Ela representa cerca de 40% do consumo do planeta. Na Europa, se come por ano nada menos que 45 kg por habitante. No entanto, o Brasil ainda consome mais carne bovina e aves. O brasileiro come 13 kg de carne suína ao ano. 82% desse total é de embutidos como presunto, mortadela, salsicha e linguiça. Somente 2,3kg são de carne fresca. Em nível de Amapá o consumo de carne de porco chega a ser de 2,1 kg por habitante ao ano. Os números são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e estão na Pesquisa de Orçamentos Familiares - POF, feita entre os anos de 2008 e 2009. A média está bem abaixo da nacional.

Já naquele ano o IBGE se deparava com um dado importante e ao mesmo tempo preocupante ainda para os dias de hoje. Todo consumo de carne suína comercializada no Amapá tem origem no abate clandestino e não é fiscalizado pelos órgãos de saúde pública nem do Estado ou município. As informações, no entanto, não estão catalogadas como oficiais, mas o próprio instituto alerta que não podem ser ignorados.

A pesquisa, no entanto, fornece informações como a que considera que em 160 mil domicílios pesquisados, o consumo aproximado de carne de porco é de 400 toneladas ao ano. Em cifras o faturamento representa nada menos que R$ 5 milhões para a economia local.

Para o estatístico Adrimauro Gemaque, as autoridades tanto estaduais, municipais e federais puseram uma venda nos olhos com relação ao problema do abate e condições de higiene deste comércio, incluído neste hall o Ministério Público.  




RISCOS PARA SAÚDE

Com a total falta de fiscalização sobre o abate de suínos no Amapá, o risco de consumir carne contaminada é muito alto. O porco pode ser o hospedeiro de inúmeros parasitas. O animal criado sem qualquer condição de higiene é um risco potencial para a saúde do ser humano que venha a consumir esta carne. Nela podem estar toxinas, vermes e doenças latentes. Segundo os veterinários, os porcos são os animais comestíveis mais predispostos a doenças em comparação a outros que fazem parte do cardápio cotidiano. O contágio pelo vírus Influenza é uma das doenças mais comuns transmitidas pelos porcos. Ela se aloja nos pulmões do animal e pode afetar ainda, outros animais. 

Outro exemplo é o contágio por helmintos. Um dos mais perigosos e comuns é a Taenia solium, popularmente conhecida como “solitária”. O homem contrai este verme quando ingere carne crua ou mal passada de suíno infestada de larvas, originando a doença chamada de Teníase. O verme se aloja no intestino humano. A tênia pode viver até 8 anos ou mais

A Cisticercose é outra doença transmitida pela carne do porco. Uma parte dos cisticercos, que são vermes, pode se fixar no cérebro, causando neuro cisticercose, forma grave da doença que resulta em crises convulsão, hipertensão craniana e hidrocefalia. Ela também pode se localizar no coração, olhos e músculos. Tais doenças estão diretamente ligadas à ingestão de carne suína contaminada. Considerando que no Amapá não existe qualquer fiscalização que certifique se o produto vendido nas feiras e outros locais são saudáveis. O consumidor não está livre desses males. A situação pode vir a se tornar um caso de saúde pública. Por enquanto, trata-se de um grave descaso.   









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